São Paulo - Dos comunistas do PCdoB aos conservadores do chamado “centrão”, os partidos de São Paulo vão apostar em famosos e esportistas na tentativa de conquistar algumas das 55 vagas na Câmara Municipal. Nas eleições de outubro, o eleitor poderá observar dentro de um mesmo partido, o PTB, por exemplo, políticos tradicionais, como o deputado estadual Campos Machado, colaborando com campanhas de personalidades estreantes na área, como são os caso do apresentador Sérgio Mallandro e do estilista Ronaldo Esper.
“Minha candidatura atende a uma reivindicação dos universitários com quem mantenho contato nas festas”, argumenta Mallandro. “Eu quero transformar São Paulo na capital da moda”, diz Esper.
No PCdoB, o comando estadual espera fazer até três cadeiras no Legislativo, sem a necessidade de o candidato possuir conhecimentos sobre ícones comunistas como Trotski ou João Amazonas. Com o pagodeiro Netinho de Paula de “puxador de votos”, a bancada vermelha poderá contar ainda com a bandeirinha Ana Paula Oliveira, o ex-jogador do Corinthians Wladimir e o mesa-tenista Hugo Hoyama. Só Netinho poderá ter mais de 100 mil votos, segundo os líderes da sigla.
“Temos um projeto para retornar à Câmara Municipal. Essa volta tem certa naturalidade, até pela participação do partido nos movimentos sociais da capital. A candidatura do Netinho, por exemplo, já está madura”, afirma a presidente estadual do PCdoB, Nádia Campeão. Em 2004, o partido elegeu o ex-jogador do Palmeiras Ademir da Guia, que dois meses depois se filiou ao PR. Agora, a candidatura de Netinho já causa polêmica na Câmara: seu homônimo, o líder de governo José Police Neto (PSDB), também conhecido como Netinho, teme ser confundido com o cantor.
Questionada sobre a inexistência de conhecimentos socialistas entre os pré-candidatos famosos, a presidente dos comunistas disse que isso é “um preconceito dos formadores de opinião”. “Ninguém pode impedir uma pessoa de assumir uma trajetória política. O Netinho e a Ana Paula, por exemplo, estão participando dos debates no partido, das oficinas. Há um envolvimento desses filiados.”
O ex-jogador do Corinthians disse que, se eleito pelo PCdoB, tentará consolidar o esporte como política de inclusão. “Vou utilizar minha experiência como gestor público (foi secretário de Esportes nas cidades de Cotia, Carapicuíba e Diadema)”, diz Wladimir, que já foi candidato em 1991 pelo PMDB, mas obteve pouco mais de 4 mil votos. “Sou socialista por convicção. No socialismo, você exalta a necessidade de participação popular na gestão pública”, filosofa o ex-atleta.
Capa da revista Playboy de julho, a bandeirinha Ana Paula se filiou ao PCdoB com um discurso genérico em defesa do esporte. Funcionária da prefeitura petista de Hortolândia, no interior de São Paulo, a assistente de arbitragem ainda não deu resposta sobre a candidatura, apesar dos apelos do partido. O PCdoB também conta com Maycon Jackson, ex-jogadora da seleção brasileira de futebol.
Também fazem parte da constelação de pré-candidatos, todos pelo PTB, o ex-jogador Viola, a modelo Renata Banhara, a ex-vedete e jurada Marly Marley, a apresentadora de TV Cristina Rocha e o cantor Rafael Ilha (ex-grupo Polegar). “Minha bandeira não poderia ser outra senão a luta pelos dependentes químicos e seus familiares. Não conheço nenhuma política pública consistente por esta causa”, diz o cantor.
Dois candidatos-celebridade prometem disputar o voto da comunidade gay em busca de uma vaga no Legislativo: as drag queens Léo Aquilla, pelo PR, e Salete Campari, pelo PDT. Aquilla, ou Jadson Mendes, cursa o último ano de Jornalismo e atua como repórter da Rede TV!. “Trabalho mais com mulheres até do que com gays. Eles, claro, são a minha bandeira mais básica, mas não a única”, diz Áquila, que disputou uma vaga de deputado estadual nas últimas eleições e teve quase 22 mil votos. “Praticamente não fiz campanha, foi no boca-a-boca mesmo. Desta vez, acredito que poderei fazer uma grande votação”, afirma, sem confirmar a candidatura, uma vez que, em 2006, foi multado em R$ 50 mil pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por se assumir candidato antes da época. Salete, procurada pela reportagem, não foi encontrada.
Para o cientista político Fernando Antonio Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a candidatura de famosos reflete a falta de ideais na política nacional. “Os partidos transitam hoje para o centro e o cenário atual é muito pouco ideológico”, afirma. “Mas é claro que aumentam as probabilidades de um partido ter uma bancada maior com famosos entre os puxadores de voto.”
PRÉ-CANDIDATURAS
Do palco ao campo de futebol
Léo Aquilla: estudante do último ano de Jornalismo, repórter da Rede TV! e drag queen, é pré-candidato pelo PR. Defende projetos nas áreas dos direitos das mulheres e dos homossexuais
Ronaldo Ésper: estilista e apresentador da Rede TV!, é pré-candidato pelo PTB e tem como plataforma principal atuar na área da moda, criando eventos turísticos para São Paulo
Netinho de Paula: o pagodeiro já foi apresentador da TV Record e empresário de comunicação; agora, é uma das maiores apostas do PCdoB como puxador de votos
Ana Paula Oliveira: a bandeirinha fez sucesso na revista Playboy e aproveita a popularidade para mostrar suas idéias na política pelo PCdoB. Defende mais esporte nas escolas públicas
Hugo Oyama: o tenista de mesa participou das últimas quatro Olimpíadas. Foi campeão no Pan do Rio, por equipes. Filiou-se ao PCdoB em outubro do ano passado
Wladimir: o ex-jogador corintiano, filiado ao PCdoB, foi secretário de Esportes de Cotia, Carapicuíba e Diadema. Promete consolidar o esporte como política de inclusão
Maycon Jackson: a ex-artilheira da seleção brasileira de futebol, uma das precursoras da popularização do esporte entre as mulheres, filiou-se ao PCdoB no ano passado
Renata Banhara: a modelo que diz ter 24 anos há vários carnavais quer tentar seguir os passos do ex-marido, Frank Aguiar, e se filiou ao PTB no ano passado
Rafael Ilha: o ex-integrante do grupo Polegar, que sofreu com a dependência em drogas, é hoje proprietário de uma clínica de recuperação, além de pré-candidato pelo PTB (O Estado de São Paulo – SP)