sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Restauração da RO-399 enviado para licitação

Porto Velho (Decom) - O Departamento de Estradas de Rodagem e Transportes (DER) enviou para licitação mais um projeto de restauração de rodovia. Trata-se da RO-399, da BR-364, passando por Colorado do Oeste até o município de Cerejeiras, no Cone Sul do Estado, numa extensão de 104 quilômetros. Nesta obra o Governo do Estado estima investir R$ 30 milhões.  
O diretor-geral do Departamento, engenheiro Jacques Albagli, explicou que esta restauração deveria ter recebido a ordem de serviço do governador Ivo Cassol (sem partido) no último mês, assim como foi feito com a RO-010, de Pimenta Bueno a Rolim de Moura, e na RO-383, Alta Floresta, Santa Luzia e Rolim de Moura.  
“Infelizmente houve um atraso na execução do projeto para o conserto da RO-399. Por outro lado, o governador Cassol pôde autorizar o início de duas restaurações, onde estão sendo investidos em torno de R$ 30 milhões (R$ 18.892.852,92 na RO-010 e outros R$ 11.843.540,37 na RO-38)”, comentou o diretor. 
O engenheiro destacou que os consertos das ROs 010 e 383, na região da Zona da Mata, são executados com Concreto Usinado Betuminoso a Quente (CBUQ), mais conhecido como asfalto usinado, com a camada de quatro centímetros. Lembrou também que a restauração da RO-399 será da mesma forma. “O governador tem investido pesado no setor de pavimentação e não tem se esquecido de cuidar das estradas mais antigas”, finalizou. 

CEF inicia pagamento do PIS para os nascidos em janeiro

Brasília - Quem nasceu no mês de janeiro e tem direito ao Abono Salarial – um total de 552 mil trabalhadores – passou a receber pela Caixa Econômica Federal desde ontem ( quinta-feira, 09), os R$ 415 referentes ao benefício. Até o momento, 7,8 milhões de trabalhadores já receberam seus benefícios.
Os valores desembolsados ultrapassam R$ 3,1 bilhões, equivalente a 60% do total previsto para pagamento. Neste exercício, mais de 12,9 milhões de trabalhadores têm direito ao benefício, o que representa um total de R$ 5,3 bilhões. É a maior quantidade de benefícios já liberados na história do Abono Salarial. O calendário de pagamentos atual segue até 30 de junho de 2009
Para facilitar o saque, o trabalhador utiliza o Cartão do Cidadão (com senha cadastrada) em terminais de auto-atendimento, casas lotéricas e correspondentes CEF Aqui, inclusive nos fins de semana e fora do horário bancário. No auto-atendimento, pode-se consultar extrato/saldo de FGTS e saldo do PIS; sacar Seguro-Desemprego, Abono Salarial e Rendimentos do PIS; e sacar FGTS, limitado atualmente até R$ 600. Nas lotéricas e CEF Aqui, pode-se sacar Abono Salarial, Seguro-Desemprego e Rendimentos do PIS e FGTS até R$ 600.
A solicitação do cartão é gratuita, pelo serviço 0800-726-0101 ou em qualquer agência da CEF. Para receber informações sobre os benefícios é importante o trabalhador atualizar os dados cadastrais no cadastro PIS, principalmente o endereço de residência.

ANTECIPAÇÕES 

Cerca de 4,5 milhões de beneficiários receberam o Abono antecipadamente, fora do calendário. A CEF adiantou os R$ 415 por meio do crédito em conta ou às pessoas que trabalham em empresas que firmaram o convênio CEF PIS-Empresa. No total, foram antecipados R$ 1,8 bilhão.

QUEM TEM DIREITO


O trabalhador cadastrado no PIS até 2003 que tenha trabalhado pelo menos 30 dias, consecutivos ou não, no ano de 2007 com carteira de trabalho assinada pela empresa, tenha recebido, em média, até dois salários mínimos mensais e que tenha tido seus dados informados corretamente por sua empresa na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do ano-base 2007.

Circo da Notícia

APÓS A CAMPANHA

Chegou a hora de liquidar os feridos

*Carlos Brickmann

Nas guerras do Sul da América, havia um tipo especial de guerreiro que acompanhava as tropas: os degoladores. Sua função era circular pelo campo de batalha após os combates e degolar os feridos.
A imprensa também tem disso: terminadas as eleições, aparecem os degoladores, que não se manifestaram durante a campanha e, definidos os perdedores, trituram as estratégias que, é óbvio, dizem, não poderiam dar certo. Em seguida, vêm os louvores à estratégia dos vitoriosos que, é óbvio, dizem, foi genial e tinha de dar certo. É um belo subproduto da profissão: os profetas do passado.
Se a estratégia de um candidato estivesse tão claramente errada, não seria difícil analisá-la durante a campanha, prevendo que não poderia dar certo. Mas aí a coisa é mais complexa: envolve a exposição do raciocínio do analista. E se o candidato da estratégia errada, por pura e simples vontade de contrariar o óbvio, dá de ganhar a eleição? 
Já aconteceu e não foi uma vez só. Jaques Wagner ganhou o governo baiano no primeiro turno, quando toda a expectativa era de que, se chegasse ao segundo turno (onde certamente perderia), já teria cumprido seu papel. Luiza Erundina virou as eleições paulistanas em poucos dias e ultrapassou os favoritos Paulo Maluf e João Leiva. Yeda Crusius, que nem iria para o segundo turno, é a governadora do Rio Grande do Sul. Luizianne Lins, rejeitada até por seu próprio partido e abandonada à própria sorte, derrotou o favoritíssimo Inácio Arruda em Fortaleza. Às vezes, o fenômeno acontece em massa: a Arena, partido dos militares no poder, era tão favorita nas eleições de 1974 que quando Franco Montoro previu a vitória do MDB em 15 Estados todo mundo deu risada. Pois foi surrada em todo o país. Como dizia Magalhães Pinto, velho sábio da política mineira, "eleição e mineração só depois da apuração".
Então, caro colega, quando os iluminados surgirem com suas previsões do passado, procurando destruir de vez os que foram derrotados, sejamos condescendentes. Não podemos levá-los a sério. Nem esquecer que estão, na verdade, apenas bajulando os vencedores e tripudiando sobre os vencidos.

A fonte das notícias

Aquilo que já se sentia está agora respaldado por uma pesquisa: de acordo com o Barômetro da Imprensa, pesquisa da FSB Comunicações, a internet é hoje a principal fonte de informação dos jornalistas. Os jornalistas que se informam por jornais impressos são metade dos que buscam notícias pela internet.
Este é um tema interessante de debate: a internet ganha em velocidade, mas não tem sido bem cuidada em termos editoriais. Muita coisa sai sem checagem, na luta para dar a notícia em primeiro lugar; a língua é maltratadíssima. E, em boa quantidade de portais, o serviço é feito exclusivamente por estagiários, sem supervisão, o que é ruim para a informação e para os próprios estagiários, que ganham experiência mas não recebem orientação adequada. 
Os veículos impressos também têm a ganhar estudando o assunto: não podem competir com a velocidade da internet, nem com sua capacidade de divulgar imensa quantidade de informações num espaço ilimitado. Sobra-lhes, portanto, a articulação das notícias, a hierarquização dos fatos, o pensamento sobre o que acontece. Cabe-lhes, enfim, encontrar o sentido das notícias. Os veículos impressos são essenciais (e, até agora, insubstituíveis), mas precisam ser repensados – como já o foram na época em que a TV surgiu como concorrente.

Lembrando 1

Nos tempos em que Alberto Dines comandou o Jornal do Brasil, no Rio, mandou instalar uma TV na Redação. Mais do que tudo, era um lembrete para os jornalistas: tinham de escrever pensando que aquele acontecimento já tinha sido divulgado pela televisão. Este lembrete precisa ser reforçado a cada dia: hoje, assiste-se a um jogo de futebol pela TV, com repetição dos principais lances, com comentários, vê-se o que saiu no blog do Chico Lang, inclusive com informações exclusivas, e seis, sete horas depois abre-se o jornal, com as mesmas notícias.

Lembrando 2

Mais uns 15 anúncios na TV e nos jornais em torno do tema "a Loja Tal faz aniversário e quem ganha o presente é você". A idéia é boa – tão boa que quem a teve foi um craque da publicidade, Alex Periscinotto, na época em que estava no Mappin. Faz mais de 40 anos. Será que não houve tempo para alguém ter outra idéia de anúncio de comemoração do aniversário de algum empreendimento? 

Uau! 1

O portal de internet de um grande jornal dá a notícia com destaque: uma ala do PSDB fiel ao ex-governador Geraldo Alckmin não aceita qualquer acordo com Gilberto Kassab. Quem lidera esta ala? Rosalvo Salgueiro, um ativista tucano que jamais disputou eleições. Se Rosalvo Salgueiro merece esse destaque, que fará o portal se tiver uma declaração de Fernando Henrique ou Aécio Neves?

Uau! 2

Outra reportagem de destaque num portal jornalístico dá conta de que uma igreja católica de Ribeirão Preto decidiu aceitar que o dízimo dos fiéis seja pago com cartão. Como diriam os americanos, "where is the beef?" Cadê a notícia? Qual a diferença entre pagar o dízimo em dinheiro, cheque ou cartão? 

Mogi News responde

O editor-chefe do jornal Mogi News, de Mogi das Cruzes, SP, escreve para apresentar sua versão dos fatos que levaram à demissão da repórter Márcia Regina Dias – aquela que perdeu o emprego depois que o promotor local, irritado com a desobediência às normas de edição que exigia, passou a pressioná-la.

Segue-se, na íntegra, a carta do jornalista Márcio Siqueira, do Mogi News. Abaixo, está a resposta. 

 
Prezado Carlos Brickmann

Lamentável sua postura com relação ao caso da jornalista Márcia Dias. Primeiro: como editor-chefe do Mogi News nunca fui procurado por você ou por quem o representasse para dar minha versão sobre o assunto. Segundo: é bom que saiba que a jornalista mente ao dizer que ganhou a ação em primeira instância.
Márcia Dias concretizou aqui um dos mais lamentáveis casos de promiscuidade com o meio policial de que se tem notícia. Virou uma funcionária a serviço de versões parciais e por isso – só por isso – foi demitida. O caso do e-mail do promotor foi apenas o último de tantos outros.
Quanto à referida ação trabalhista, o que houve foi um acordo homologado. A jornalista abriu mão de sua absurda pretensão inicial de recebimento e o jornal aceitou pagar o que achava justo.
Diante das informações completamente inverídicas da jornalista, acionaremos a Justiça na esfera cível. O processo está disponível na 2ª Vara da Comarca de Suzano para ser consultado.
Conhecedor de sua competência e seu leitor e admirador desde os tempos da Folha da Tarde, peço a publicação desta carta. 
Um abraço. Márcio Siqueira, editor-chefe – Mogi News e Diário do Alto Tietê


Caro Márcio Siqueira

O Ministério Público tem várias funções definidas em lei. Nenhuma delas é influir na edição de um jornal. O caso: em maio último, o promotor enviou à repórter Márcia Regina Dias, por e-mail, um processo em que acusava policiais por corrupção. Enviava também detalhadas instruções sobre a maneira de utilizar as informações no jornal. Em nenhum momento pediu sigilo. A repórter, corretamente, foi ouvir os acusados (e não é o próprio Márcio Siqueira, nesta carta, que se queixa de não ter sido procurado?). O promotor, irritado pela desobediência da repórter, resolveu se recusar a dar entrevistas para ela e para qualquer de seus colegas. O jornal ficou ao lado do promotor, contra sua funcionária – contra a funcionária que acatava ordens de seus chefes hierárquicos, mas não de gente de fora, de gente que nem jornalista é. E demitiu-a.
Isto, sim, seria lamentável. Mas sabemos que pressões de autoridades são difíceis de suportar, tanto que muitas vezes os proprietários da empresa preferem aceitá-las. A sobrevivência da empresa muitas vezes acaba prevalecendo sobre as atitudes que seriam corretas, porém suicidas.

Com um abraço

Carlos Brickmann


Como...

Comentário político: "(...) é o caso do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, e da família Amin, no Espírito Santo".

César Maia é prefeito do Rio de Janeiro. Correto. Já a família Amin só vai ao Espírito Santo a passeio (o sol é forte e, refletido na calva de Esperidião Amin, cria estranhos fenômenos visuais). Esperidião vai pouco à praia, mesmo àquelas lindas de seu estado, Santa Catarina. Sabe quanto custa o protetor solar de careca, ainda mais em grandes quantidades?


...é...

"Anatel nega intensão de regular acesso à web pela rede elétrica".

Tudo bem, as coisas combinam: rede elétrica, tensão, 110 e 220. Mas "intensão" é novidade.

...mesmo?

"Prazo de concessões de 184 rádios e TVs estão expirados no Brasil".

Talvez seja um truquezinho de linguagem, uma certa ironia: o prazo deve ter expirado há tanto tempo que virou plural.


É assim mesmo

O professor Álvaro Larangeira, que zela pela correção do que fala e escreve, selecionou um delicioso texto sobre gatos de pelo dourado. Primeiro, o original, naquela estranha língua internética que procura estimular a convivência entre singular e plural, salpica vírgulas como quem põe sal nas batatas fritas e rejeita, talvez como símbolo de épocas antigas, toda e qualquer regência verbal:

"(...) embora o pêlo deste animal é, em sua maioria, castanho dourado ou vermelho existem variantes com pelagem preta ou cinza".

Agora, o texto da mesma fonte, transcrito em outro veículo, em que a estranha língua do original ganha a companhia de palavras incompletas:

"(...) o pelo desses gatos são normalmente castanho dourado ou vermelho, mas existem també variantes pretas ou cinzas".

Pergunta do professor Larangeira: "Embora não seja o caso de homicídio frasal doloso, convém enquadrá-los, principalmente o primeiro, como lesão corporal à língua portuguesa?"


E eu com isso?

Enquanto alguns se debruçam sobre o estressante trabalho de prever o passado, enquanto outros tentam (este colunista teme que inutilmente) zelar por um pouco de ordem na língua portuguesa, há quem não se preocupe com nada disso: o importante é escarafunchar a vida dos famosos. Entenda-se por famosos aqueles que aparecem em revistas de famosos e em festas de famosos, seja lá isso o que for.

** "Daniele Suzuki e namorado fazem mais um programa familiar"

Gente bem comportada: a atriz levou o namorado para conhecer sua família.

** "Toda de azul, Paris Hilton vai às compras"

** "Maureen Maggi adora salto alto"

** "Cristiano Ronaldo aparece com imensa mancha de suor"

** "Saia justa: de vestido curto e decotado, Liz Hurley fica com a calcinha à mostra durante evento em Nova York"

Caro colega: se Elizabeth Hurley enfrentou, sem problemas aparentes, a prisão de seu namorado Hugh Grant num programa com Divine Brown, não é a calcinha à mostra que vai constrangê-la. A propósito, que é que tem o decote com a calcinha à mostra?


O grande título

Esta semana é dedicada aos an
imais
.

** "Cliente fiel, égua é barrada em bar na Inglaterra"

** "Urso entra em lanchonete, olha ingredientes e desiste de comer no Canadá"

O título que se segue é o preferido deste colunista:

** "Canja de galinha faz sucesso entre pandas estressados na China"

E diziam que os bichinhos se alimentavam apenas de brotos de bambu!



* Jornalista, diretor da Brickmann&Associados

Cidadão pode ser parceiro do TCE

Porto Velho (Lúcio Albuquerque) - Qualquer pessoa, ente público ou privado, pode ser parceiro do Tribunal de Contas do Estado no trabalho de acompanhamento do emprego dos recursos públicos, e caso haja dúvidas nisso, poderá encaminhar ao TCE a denúncia ou pedido de informações, o que deve ser feito através da Ouvidoria da instituição.
A denúncia, no entanto, deve versar sobre matéria de competência do Tribunal de Contas, no caso envolvendo a administração pública direta ou a indireta de órgãos estaduais e municipais
Após receber a denúncia, a Ouvidoria fará a análise do fato e encaminhará o questionamento ao setor responsável para a respectiva apuração.
Todo documento encaminhado ao TCE através da Ouvidoria, será anexado ao processo, inclusive quando da apreciação, sendo concedido amplo direito de manifestação e defesa a quem for denunciado, sendo assegurado ao reclamante total anonimato.
Para fazer seu questionamento, o reclamante tem várias maneiras: por telefone ( 69 - 3211-9058); pelo e-mail (ouvidoria@tce.ro.gov.br); por carta (endereçada ao Tribunal de Contas do Estado, avenida Presidente Dutra 4229, CEP 76801-296, Porto Velho/RO); ou, em Porto Velho colocando a informação numa das caixas coletoras disponibilizadas no hall do TCE, no Aeroporto, no Shopping Cidadão e na Prefeitura

Projeto proíbe a realização de concurso público exclusivo para a formação de cadastro de reserva

Brasília (Assessoria) - O senador Expedito Júnior (PR/RO) apresentou o Projeto de Lei nº 369/2008 para que o edital dos concursos públicos de provas ou de provas e títulos em todo o país especifique em números os cargos a serem preenchidos. O parlamentar quer evitar que a administração dos Estados, Distrito Federal e municípios lancem os editais apenas para formação de cadastro de reserva, gerando falsa expectativa nos candidatos aprovados. Segundo ele, essas seleções acabam por beneficiar apenas a chamada “indústria dos concursos”.
Pelo projeto do senador, a formação do cadastro de reserva somente será permitida para candidatos aprovados em número excedente ao de cargos a serem providos. 
“Não faz o menor sentido a realização de concursos apenas para a formação de tais cadastros. Ou a Administração precisa de novos quadros, e por isso promove o concurso, ou, se não necessita de mais servidores, falta-lhe interesse legítimo para deflagrar o processo seletivo”, destacou Expedito Júnior.
Na justificativa do projeto, o senador cita recente julgamento no Supremo Tribunal Federal onde a Corte conclui que, se o Estado anuncia em edital de concurso público a existência de vagas, ele se obriga ao provimento dos cargos, se houver candidato aprovado. “A decisão presta homenagem aos princípios da moralidade e da impessoalidade, que devem presidir a conduta dos agentes públicos. Mas podemos até supor que, com essa decisão, aumente o número de concursos com essas características, exatamente para se fugir ao dever de nomear reconhecido pelo Tribunal”, afirmou o senador. 
Expedito Júnior comenta ainda que “o Estado não pode brincar com a boa-fé dos candidatos, deixando de nomear os aprovados dentro de número de vagas, também não pode deflagrar concursos nos quais sequer há a estimativa de vagas a serem preenchidas”.

Feitos & Desfeitas

POLÍTICA & ECONOMIA

O que ler depois das eleições

*Deonísio da Silva

Ir à banca e não ao banco (muito embora o primeiro seja sinônimo do segundo, quando usado no coletivo) tem dessas surpresas agradáveis: a Revista de História, da Biblioteca Nacional, traz matéria sobre o maior escritor que o Brasil já teve e assim dá um toque todo especial à efeméride do centenário de sua morte. A chamada de capa é "Machado de Assis como você nunca viu".
Todos sabemos que Machado de Assis teve poucos leitores. Mas o que os autores extraem de informações já disponíveis é a grande novidade do dossiê, sem contar aquelas curiosidades trazidas por olhares diferenciados, quase estranhos ao ofício, como o do economista Gustavo Franco, examinando as relações de Machado de Assis com o dinheiro. Aliás, este ano ele já nos deu um belo livro: A Economia em Machado de Assis: o olhar oblíquo do acionista (Editora Zahar).
"Acionistas são ovelhas ou tigres", disse, antes que Machado de Assis nascesse, o lendário banqueiro israelita Mayer Amschel Rothschild (1744-1812), fundador da casa de crédito que levaria seu nome. A família obteve muita fortuna com suas operações, especialmente com o financiamento de várias guerras européias.
No final do século 19, os Rothschild lideravam o ranking dos bancos, mas depois outras casas de créditos os superaram. A família distinguiu-se também na política, tendo vários membros barões do então poderoso império austríaco, além de um descendente ter sido o primeiro judeu a entrar para o Parlamento britânico.

Ovelhas e tigres

A frase indica o comportamento dos acionistas diante de operações que dão lucro ou prejuízo. Mas, como vem destacando Gustavo Franco em suas pesquisas sobre o "bruxo do Cosme Velho", Machado teve prejuízo com ações e apólices, e ele e seus herdeiros arrostaram os infortúnios como ovelhas, sem que seus tristes balidos fossem ouvidos. Aliás, no caso de Machado de Assis, ele nem tossiu nem mugiu sobre sua vida de intelectual mal remunerado.
Ler um gênio – Machado, mais que gênio, é também oxigênio da inteligência brasileira – tem vantagens inesperadas. O fulgor de sua prosa levou até economistas, aparentemente seres insensíveis, a se interessarem por ela.
Ou alguém acha que o atual presidente do Banco Central, o doutor Henrique Meireles, tem coração? Ou que o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, também tem o órgão? Aliás, a este último os eleitores de Curitiba deram um duro recado, reelegendo o prefeito Beto Richa (PSDB) com 77,27% dos votos e creditando a Gleisi Hoffman (PT), esposa do ministro, apenas 18,17%. Talvez os eleitores também sejam ovelhas ou tigres.

Bom cabrito não berra

Até a efeméride de 1929, o ano do crack da Bolsa de Nova York, é evocada no centenário da morte de Machado, lustrando-se assim com um velho verniz o crack atual de Wall Street, que põe os maiores bancos dos EUA de joelhos, sendo socorridos, não pelo mercado, o deus diante do qual viveram até então ajoelhados, mas pelo Estado, a maior vítima de suas idéias e de suas ações.
Como lembrou Frei Betto em artigo publicado na Folha de S.Paulo (6/9/2008, pág. 3), "o programa Bolsa-Fartura de Bush reúne quantia suficiente para erradicar a fome no mundo. Mas quem se preocupa com os pobres?".
E quem pagará a conta? O frade e escritor pergunta e ele mesmo responde: 

"A resposta é óbvia: o contribuinte. Prevê-se o desemprego imediato de 11 milhões de pessoas vinculadas ao mercado de capitais e à construção civil. Os fundos de pensão, descapitalizados, não terão como honrar os direitos de milhões de aposentados, sobretudo de quem investiu em previdência privada."
Os leitores de Machado de Assis têm, pelo menos, o consolo surrupiado a outros: a economia não tem a hegemonia que nos fazem crer que tenha. Outros valores podem mais alto ser alevantados. O nosso escritor desfraldou muitas outras bandeiras, entre as quais uma em especial: o olhar desconfiado diante dos vencedores de ocasião.
Mas seus leitores não podem, como os acionistas, ser divididos apenas entre ovelhas e tigres. Os bichos usados por Jesus nos Evangelhos para metáfora dos tempos escatalógicos são outros: ovelhas e cabritos.
Como o Brasil inteiro diz, "o bom cabrito não berra". O bom cabrito em nosso país não é o pecador, para o qual não haverá mais possibilidade de salvação, mas o contribuinte.


*Doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá, onde é vice-reitor de Cultura e coordenador de Letras; seus livros mais recentes são o romance Goethe e Barrabás e A Língua Nossa de Cada Dia (ambos da ed. Novo Século); www.deonisio.com.br