sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Café Brasil

ZEITGEIST TROPICAL








Luciano Pires

Você já ouviu esse termo “Zeitgeist”? É alemão e a pronúncia é “tzaitgaist”. Adotado pelos filósofos românticos alemães do século dezoito como uma tradução do latim genius (espírito guardião) e saeculi (do século), o termo foi popularizado pelo filósofo Hegel em seu livro Filosofia da História. Zeitgeist é traduzido para o português como “espírito do tempo”, significando – em outras palavras – o nível de avanço intelectual e cultural do mundo em uma época.
De acordo com os sábios, zeitgeist é a experiência de um clima cultural dominante que define uma era. Tentando simplificar: esse clima cultural é resultante das experiências dos indivíduos que compõem as nações que convivem numa determinada era. É o espírito daquela era.
Parece complicado, né? Deixa eu tentar de outra forma: anos atrás estive diante do desafio de criar uma campanha de motivação interna para a Dana, empresa na qual eu trabalhava. Havia um discurso muito bonito, calcado naquela história de visão, missão e valores, que dizia que a empresa era o máximo. Era honesta, consciente de sua importância no meio ambiente, socialmente responsável, focada na fabricação de produtos de qualidade, etc etc etc. Igualzinho àquele texto que você lê todo dia em sua empresa.
No fundo, esses textos são apenas promessas que não têm nenhum valor até que alguém as cumpra. E nenhum papel colado na parede garante que qualquer promessa será cumprida. O cenário era aquele que encontramos na grande maioria das empresas: promessas feitas por meia dúzia de cabecinhas, embaladas em papel de presente pelos caras do marketing e distribuídas ao mercado, enquanto as pessoas responsáveis pela entrega eram superficialmente comunicadas da promessa que havia sido feita.
No meio do processo de criação surgiu a luz, quando discutíamos um bordão batido: nós somos a Dana. Nós fazemos a empresa. O pulo do gato aconteceu quando invertemos a proposta: a Dana somos nós. Melhor ainda: a Dana sou eu. Esse passou a ser o mote da campanha, que trazia em si uma definição fundamental. Quando dizíamos que “nós somos a Dana”, compartilhávamos a responsabilidade. Quando dizíamos que “a Dana somos nós”, considerávamos que a empresa seria a resultante do comportamento do grupo. Mas com “a Dana sou eu” conseguíamos o desejado: a Dana só será uma empresa de qualidade se eu for um funcionário com qualidade. Só será responsável com o meio ambiente se eu for responsável com o meio ambiente. A Dana é o que eu decidir que eu sou. Ponto. O “zeitgeist” da Dana naquele momento – se fosse possível – seria a resultante dos valores, convicções, atitudes e esforços de todos os seus 5 mil funcionários naquele momento. Seria o espírito daquela era.
Volto então ao nosso zeitgeist. Se pudéssemos fazer uma experiência de retornar no tempo, por exemplo, para o começo dos anos cinqüenta, o espírito de nossa era seria o de um país esperançoso pelo futuro, cheio de boas notícias, com obras para todo lado, títulos mundiais no futebol, no tênis, no boxe e no basquete e um presidente que prometia fazer cinqüenta anos em cinco. Havia um entusiasmo evidente, que podia ser “sentido no ar”. Na segunda metade dos anos sessenta e durante os setenta, sentia-se no ar o clima de preocupação, da mão pesada dos militares, da censura. Mesmo com o país crescendo, o espírito da época seria o espírito do medo.
Nos anos oitenta e começo dos noventa, o espírito da época era o da abertura. O Brasil descobria a democracia, votávamos para presidente, acabávamos com a inflação e experimentávamos o começo do jogo da globalização. Eu diria que o zeitgeist da época era o da perplexidade, como já escrevi em texto anterior.
E hoje? Qual é o “zeitgeist” do Brasil? Sinceramente, não sei. Tentei aplicar aquele “o Brasil sou eu”, mas não deu certo. Nunca vi o país tão dividido, tão desigual. Pobres contra ricos, pretos contra brancos, índios contra não-índios, ignorantes contra educados. E piorando.
O espírito de nossa época será esse? O do confronto? Que pena.

Perderemos para nós mesmos.


*Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil, acesse http://www.lucianopires.com.br/.
Para conhecer outras ações do Luciano, dos seus colaboradores e da fertilizadora cultural Café Brasil, acesse
http://www.lucianopires.com.br/. Fotos do cronista podem ser obtidas com a assessoria de imprensa.

Cahulla vistoria obras em Alvorada

Porto Velho (Decom) - O vice-governador João Cahulla vistoriou obras de construção de pontes ao longo da RO-473, ligando os municípios de Urupá a Alvorada do Oeste. Com recursos próprios, o Governo do Estado constrói três pontes de concreto, nos rios sobre os rios Urupá, Muqui e Cacau, substituindo as antigas pontes de madeira a assegurando uma obra de qualidade para o tráfego de veículos, já que o projeto de asfaltamento deste mesmo trecho (cerca de 25 quilômetros) está pronto.
“É importante fazer obras de qualidade, duradouras, por isso a equipe do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), e o próprio governador Ivo Cassol inspeciona e acompanha o andamento dos serviços. É dessa forma que o Estado aplica os recursos públicos, oriundos dos impostos que a população paga: transformando em obras que beneficiam a todos”, disse Cahulla.
De acordo com os projetos, a plataforma sobre o rio Urupá terá a extensão de 110 metros, enquanto que a ponte do rio Muqui terá 68 metros e a do rio Cacau 45 metros. O investimento do Governo do Estado nas três pontes será de mais de R$ 4 milhões oriundos de recursos próprios da administração estadual.
Na ponte sobre o rio Urupá, uma equipe de 25 trabalhadores deverá levar mais 40 dias para concluir a obra. Cerca de 5 mil sacos de cimento e cerca de 110 toneladas de ferro serão utilizados na ponte.

CE aprova eleição direta para diretores de escolas

Brasília (Assessoria/Gab.Senadora Fátima Cleide) - Por unanimidade, a Comissão de Educação (CE) do Senado aprovou quarta-feira (27), em caráter terminativo, substitutivo da senadora Fátima Cleide (PT-RO) ao PLS 344/2007, que prevê eleições diretas para diretores de escolas públicas da educação básica de todo o País. A matéria determina que professores, alunos, pais ou responsáveis e servidores escolham o diretor.
De autoria da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), o projeto também estabelece que os diretores de escola precisam ser aprovados em curso de capacitação e quando investidos no cargo terão mandato de dois anos, com direito a uma reeleição. Mas para concorrer novamente o gestor terá a administração anterior avaliada.
Emenda do senador Romeu Tuma (PTB-SP) foi aceita pela senadora Fátima. Ela exclui da eleição direta os diretores aprovados em concursos especificos para a função. Tuma parabenizou a senadora pelo reconhecimento da peculiaridade de São Paulo.
A senadora rondoniense explicou ao senador Antônio Valadares (PSB-SE) que o percentual de participação dos alunos na escolha dos diretores ficará a cargo da decisão de cada ente da federação. “Não temos como legislar tão especificamente num país continental como o Brasil. Elaboramos os princípios, agora fica a cargo dos estados e municípios regulamentarem a matéria conforme a necessidade regional”, justificou Fátima.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) reforçou que a finalidade do projeto é acabar com as indicações. “Nosso objetivo é acabar com o “QI” – Quem Indica – que é a indicação politico-partidária, de acordo com quem governa o Estado. Só tenho a agradecer essa aprovação, que vem engrandecer a democracia”, frisou Ideli.
Aprovado anteriormente pela CE no dia primeiro de julho deste ano, a matéria retornou à comissão para nova votação. Será lida em plenário pelo presidente do Senado e depois encaminhada à Câmara dos Deputados.

Cassol entrega investimento de R$ 4,5 milhões em máquinas e veículos

Porto Velho (Decom/AI/DER) - Máquinas e veículos que representam quase R$ 4,5 milhões de investimento por parte do Governo do Estado foram entregues pelo governador Ivo Cassol (sem partido) ao Departamento de Estradas de Rodagem e Transportes (DER), à Secretaria de Educação (Seduc) e à Casa Civil. A solenidade foi realizada na tarde desta quinta-feira, na revendedora Sotreq, na BR-364, em Porto Velho.
Ao D.E.R. o chefe do Executivo, acompanhado do vice-governador João Cahula, fez a entrega de seis motoniveladoras com o sistema ‘Joystick’, sem o volante convencional, a exemplo de outras duas motoniveladoras compradas no início do ano. Pouco mais de R$ 3 milhões foram investidos na compra do maquinário. As chaves foram repassadas ao diretor-executivo do órgão, Dilmar Golin, o popular “Macaco”.
Para a Seduc foram entregues 21 veículos, sendo 12 caminhonetes e 9 Paratis. As chaves foram repassadas para a secretária Marli Cahula, enquanto três caminhonetes foram entregues para a Casa Civil.
O governador Cassol destacou que esta foi mais uma aquisição feita com recursos próprios da administração estadual. Disse que na próxima terça-feira irá fazer entrega de mais uma motoniveladora para o DER. “Aqui está injetado parte do dinheiro economizado em todas as áreas da administração estadual e também recuso gerado através de impostos”, acrescentou.
O Governo do Estado está reestruturando todas as secretarias. Somente neste ano o DER está recebendo uma aquisição recorde de R$ 20 milhões com a compra de máquinas, caminhões, caçambas, micro-ônibus, veículos de apoio, entre outros – explanou Cassol.

Armazém Literário 2

A BOLÍVIA DE EVO

A luta de um país mágico e fantástico

*José Dirceu

Trechos do prefácio de A Bolívia de Evo Morales – A refundação de um país, de Antonio Barbosa Filho, 216 pp., LivroPronto Editora, São Paulo, 2008; R$ 34,90

Uma Bolívia que parecia esquecida e restrita a campo de estudo de historiadores nostálgicos da revolução de 1952 ou da guerrilha do Che renasceu pela voz e pela ação de Evo Morales, que se organizou em torno do Movimiento al Socialismo (MAS) e, por incrível que pareça, chegou ao poder em janeiro de 2006 pela via político-institucional, pela luta social, e pela organização popular.
"Pela primeira vez em sua longa e conflituosa história a Bolívia elegeu um índio presidente da República. E o elegeu não de uma forma qualquer, ou comum: consagrou-o com a maior votação da História do país, com maioria absoluta de 53,5% dos votos válidos e, mais importante e inusitado, com maioria na Câmara e no Senado. Não só o presidente do país era de origem popular, mas como diz o nome do MAS, socialista (...)."
A Bolívia, um dos países mais sofridos de todo o continente, readquiria a consciência de que precisa reassumir a cultura, a língua e os costumes de seu povo, para partilhar suas riquezas com a maioria indígena e camponesa do país.

Os grandes desafios

"O impacto da vitória de Evo foi extraordinário, não só por trazer de volta para gerações e gerações as imagens da Bolívia irredenta e rebelde, mas pela força da figura de seu presidente e o simbolismo de sua vitória, que confirmavam a tendência de grandes mudanças na América do Sul e a consolidação de governos de esquerda e de centro na região."
Sua eleição resultou do fracasso dos modelos neoliberais e da falência total da velha elite mineira-exportadora boliviana, substituída pela elite neoliberal engravatada dos executivos das privatizações e da abertura comercial. Essa nova geração que ganhou com Evo, uma massa de jovens idealistas e muitas vezes sem experiência administrativa, tem assim, diante de si, hoje, uma herança mais que maldita de corrupção, pobreza e entreguismo (...).
A elite de Santa Cruz de la Sierra, um dos departamentos mais ricos e conhecidos da Bolívia, que cresceu e se consolidou na fronteira com o Brasil à sombra das ditaduras e governos neoliberais desenvolvendo o agronegócio, se preparava para assumir o governo, mas perdeu as eleições para o MAS.
Vitorioso, este democraticamente assumiu o poder e colocou na ordem do dia os grandes desafios nacionais da Bolívia: a recuperação dos seus recursos naturais – petróleo, gás, minérios; a exploração do seu potencial energético em eletricidade; o desenvolvimento das telecomunicações e dos transportes; a democratização do país com uma nova Constituição; a reforma agrária; e a integração cultural e social da nação (...).

Uma nação livre e soberana

A direita, na defensiva, apela para seus temas prediletos: queixa da "intervenção" estrangeira – no caso, da Venezuela; a obsessão pela manutenção da propriedade e latifúndio da terra; e, o mais grave, a autonomia como escudo para uma oposição visceral ao projeto nacional, democrático e indígena-popular que o presidente da República encarna.
"Escudada na questão da autonomia dos departamentos, velha e legítima reivindicação que o próprio MAS assumira como bandeira, essa direita mobiliza suas bases nas quatro províncias orientais, a chamada media luna, e inicia um forte movimento de oposição contra Evo que se consolidará no poder com a nacionalização do petróleo e do gás – já decidida em plebiscito antes de sua eleição –, com diferentes programas sociais, com os recursos arrecadados com a nacionalização do gás, o início da reforma agrária e a Constituinte (...)."
Versando com rara exatidão e objetividade, poucas vezes vistas antes entre os que se arriscaram por todos esses meandros históricos bolivianos, o jornalista Antonio Barbosa Filho informa-nos neste livro sobre esse mágico e fantástico país e essa extraordinária luta que trava de novo seu povo, agora liderado por Evo Morales e o MAS.
Dentro da guerra midiática e de desinformação que vivemos, uma obra com informações e relatos sobre esses recentes acontecimentos bolivianos, e com a profundidade com que Antonio Barbosa mergulha na trajetória de um povo, só pode ser bem vinda. Vale a pena lê-la para compreender como a Bolívia retomou seus próprios caminhos, destino e História e se colocou de novo como uma nação livre, soberana e em posição de vanguarda no mundo de hoje.(Fonte: O Observatório da Imprensa)

*O autor é: Advogado, consultor e militante político, ex-deputado federal e ex- ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, mantém um blog

PEC deve garantir mais recursos para RO

Brasília (Fabíola Góis/Assessora de Imprensa) - O senador Expedito apresentou uma nova proposta de emenda à Constituição que garantirá mais recursos para o Estado de Rondônia tão logo as Usinas do Rio Madeira estejam em funcionamento. Trata-se da PEC nº 39/2008, que dá abertura para que o Estado gerador de energia possa cobrar ICMS na geração. Hoje, no texto atual da Constituição Federal, o ICMS é cobrado pelo Estado que compra a energia, ou seja, quem gera a energia não fica com o ICMS.
“Isso prejudica enormemente os Estados produtores de energia elétrica, que provêem a infra-estrutura e os serviços públicos necessários a essa atividade econômica, mas não têm a contrapartida tributária”, afirma o senador. Expedito cita que a maior parte dos Estados produtores de energia elétrica são os menos desenvolvidos da Federação, e em vez de diminuir as desigualdades regionais, estão contribuindo para aumentá-las.
A proposta do senador materializa um item da agenda prioritária estabelecida pela “Carta de Mato Grosso”, documento elaborado no II Fórum de Governadores da Amazônia Legal, realizado na cidade de Cuiabá, no dia 8 Agosto de 2008. A referida Carta, subscrita pelos Governadores dos Estados que compõem a Amazônia Legal – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins – está baseada na importância da variável ambiental no desenvolvimento da Amazônia.

Nova Ciretran de Vilhena será inaugurada amanhã

Porto Velho (Gerência de Comunicação do Detran/RO) - O município de Vilhena será mais um dos beneficiados com a construção de uma nova sede da Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran). A obra que faz parte do projeto de modernização das sedes da Ciretrans nas cidades do interior será inaugurada amanhã (30), às 9h pelo governador Ivo Cassol e o Diretor Geral do Detran/RO, Joarez Jardim.
A sede da nova Ciretran está localizada em um terreno de 10 mil m2 e terá uma área construída de 1.820 m2, além de guarita, amplo pátio e abrigo coberto para veículos apreendidos. No total, segundo o diretor-geral, Joarez Jardim (na foto de Miro Costa), foram investidos aproximadamente 1,5 milhões de reais na obra, que será dotada de sala para instalação de posto bancário, salão de atendimento, almoxarifado, arquivo de documentos de veículos e de habilitação, copa, banheiros, setor de vistoria, sala para liberação de veículos, salas para realização de serviços de registro de veículos e de serviços de habilitação.
Jardim explicou ainda que a obra faz parte do plano de melhorias das instalações e nos serviços prestados pelo órgão em todo Estado. O trabalho acontece por determinação do Governo do Estado, que vem promovendo, por meio do Detran, diversas mudanças para efetivação de um serviço melhor e de qualidade em todo Estado. O próximo município que ganhará nova sede ainda este ano será Guajará- Mirim, que está com obra em fase de acabamento.
Com uma frota de 28.007 veículos, o município de Vilhena irá disponibilizar aos usuários uma estrutura física do órgão mais moderna e com melhores acomodações, também terá uma maior agilidade nos serviços de emissão de documentos.

Armazém Literário 1

MARCA-PÁGINA

O penúltimo Francis

*Francisco Ribeiro

Carne viva, de Paulo Francis, 264 pp.,
Editora Francis, São Paulo, 2008; reproduzido do Via Política, 23/8/2008

Onze anos depois de sua morte, Paulo Francis ainda fustiga corações e mentes, e serve de modelo e inspiração para muita gente. Pouco comentada, sua ficção (a obra, não o personagem que criou para si próprio) deveria merecer mais atenção da crítica e do público. Tal é o caso de Carne viva (São Paulo: Francis, 2008), publicação post mortem.
No romance, diretor de banco, aspirante a presidente da instituição financeira, circula num ambiente elitista e cosmopolita, composto de fauna variada no que tange à formação, aspiração, projetos. De cara, nota-se o parentesco em relação aos seus romances anteriores, Cabeça de papel e Cabeça de negro, como, por exemplo: abordagem a partir do ponto de vista geopolítico da classe dominante, mesmo se "progressista"; permanência de certo tipo de caracteres, expressões e preconceitos dissimulados do universo franciano. Mas, não chega a ser um autopastiche.
Francis – como atesta sua obra jornalística e ficcional – era um admirador da upper class do ancien e moderno regime: da primeira, a elegância, a ironia fina e a possibilidade, antes da guilhotina, de não precisar tornar-se, tarefa enfadonha e masoquista do vir-a-ser neurótico almejado pela classe média; da segunda, o dinheiro, que tudo paga e dissolve. Francis, classe executiva, polêmico e nada alienado, sabia desse fascínio como atesta a auto-análise feita por Hugo Mann, seu alter ego nos cabeças: um rapaz que leu demais, aprendendo o que evitar, mas não o que é organicamente correto. Reconhecia-se um provinciano, filho da Revolução Industrial.
Há coisas que não podem ser adquiridas, assimiladas. Pode-se comprar o título, mascarar a origem, mas não a consciência da farsa. Portanto, aisance, termo caro a Francis, é, segundo ele, coisa para aristocratas e velhos burgueses (que já esconderam seus crimes). Resta, aos emergentes, novos ricos – condição, segundo os esnobes, quase abjeta –, o marketing pompier da revista Caras, ou o consolo bourgeois gentilhomme, à la Molière, contratando assessores para ajudar a diminuir o jeito gauche e a empurrar as gafes para debaixo do tapete.

Doses cavalares


Rimbaud percebeu isso e, ao invés de ficar em Paris, pedindo sobremesa porque não tinha dinheiro para pagar o prato principal, à la Baudelaire, ou enchendo a cara de absinthe, feito Verlaine, foi para África tentar enriquecer, virar um burguês. Francis, maduro, deve ter aplaudido a decisão de Rimbaud, poeta visionário que abriu mão da literatura (je ne m’occupe plus de ça), e resolveu ganhar a vida, tornar-se um empreendedor (vendendo, entre outras coisas, armas e escravos), ao invés de ficar mistificando no quartier latin. O câncer ósseo na perna minou-lhe a possibilidade e, em seu delírio de morte, Rimbaud falava em mercadorias e não nos versos que o imortalizaram, procurando, decerto, tatear os oito quilos de ouro ganho a duras penas, e que durante muito tempo manteve preso a cintura. O último Rimbaud possui um coeur d’argent.
Chico, o herói de Carne viva, foi um típico adolescente da classe média carioca nos anos dourados, quando o Rio era a capital da República e as favelas ainda não haviam envolvido a cidade. Filho de mãe provedora, mas distante, pai gilete (que fugiu com um marinheiro turco) e sobrinho de banqueiro, Chico é um rapaz que quer vencer na vida. É esforçado, e, ao contrário dos primos, não é monoglota, o que lhe facilita a ascensão, os estudos em Cambridge, uma visão panorâmica do mundo, e a preferência do tio. Safo, aprende, enquanto o tio não lhe passa o cetro, a construir seu próprio patrimônio.
Até aí nada de mais, e o enredo cabe numa trama de telenovela. O charme, na ficção de Francis, são as conexões, a tentativa do narrador pequeno-burguês em querer desvendar os mistérios, a complexidade das máscaras, persona, da classe dominante, que tem acesso, mas não faz parte. Assim, tanto em Cabeça de Papel, quanto em Cabeça de Negro, Hugo Mann (que de uma obra a outra passou de jornalista marginal a mais favorecido) destaca-se pelo saber livresco, a citação, o fascínio de épocas não vividas, a falta de aptidão para viver o seu tempo. Acaba por cair num ideal estético, como os decadentes da Belle époque, mas sem referência anímica, resultando daí o vazio existencial subseqüente. Cheio de culpas, retira-se para sua refrigerada torre de marfim, empanturrando-se de comida boa, bebendo bom uísque, folheando livros raros, idealizando mundos mortos, e sendo assediado por belas ex-leitoras. Que tal?
Chico, neste aspecto, é um personagem melhor resolvido. O falso brilhareco intelectual e niilista foi substituído por uma visão pragmática de mercado e um ideário WASP, pois o herói, embora não seja argentino, gostaria de ser inglês. É solidário e prestativo, seja ajudando uma moça, Bea, que não se lembra de ter desvirginado, seja com o namorado desta, Beau, metido com o grupo terrorista Baader-Meinhoff. Enfim, como em Cabeça de Negro, não faltam implicações sobre o declínio da esquerda e a globalização capitalista.
Situada, principalmente, entre os anos 1960 e 90, Carne Viva coloca Chico na Paris pré-revolucionária de maio de 1968. Hospedado no Ritz, põe em xeque a eficiência do famoso hotel, garantindo assim, apesar da greve geral, room service, pois como bom cliente não pode passar sem um lauto petit déjeuner, com direito a presunto e ovos. Saciada a fome, faz turismo revolucionário com uma socialite pelas barricadas estudantis. É fácil entender o ódio de Robespierre e Saint-Just. Como curiosidade, o aparecimento, rápido, de Paulo Hesse, diretor de jornal, herói de Cabeça de papel. O autor poderia colocar uma análise dele sobre os acontecimentos, certamente, bem diferente de De Gaulle: "Cocô de criança". Crianças que acabariam por mandar o velho general, de pijaminha, para casa.
Hesse talvez seja o melhor personagem criado por Paulo Francis. Misto de oficial da KGB e intelectual, Hesse trai o sogro passando aos russos o verdadeiro mapa do establishment tupiniquim. Tem bons argumentos, e não quer que os americanos transformem o patropi numa Singapura. Obrigado a posar de reacionário, Hesse sublima a venda da alma através de doses cavalares de uísque, pó, sadismo sexual, e Wagner, claro, pois, apesar de nietzcheano, não é de ferro. Nos anos 1980, houve, em algumas redações, simulacros de Paulo Hesse, logo abatidos pela cirrose e/ou loucura. Hesse, como explica um bom manual de análise literária, é só um ser de papel.

Trilogia cachola

Há em Carne viva uma nostalgia, um lamento sobre a degradação do Rio e, no geral, do Brasil. Impossível – dado os desníveis econômicos que a classe de Chico ajuda a perpetuar –, segurar o caos quando a população pula dos 50 milhões, na década de 50, para os quase 200 milhões atuais. O Rio de Paulo Francis, que ia do centro a Zona Sul, era uma tocha, faísca de possibilidade de uma civilização tropical. Saudade dá engulhos, e o perfil Blade runner das metrópoles do terceiro mundo foi se adequando à necessidade da blindagem e ao risco das balas perdidas. Ninguém está a salvo.
Diogo Mainardi comenta na orelha de Carne viva que Francis parecia pressentir que aquele seu mundo idealizado, feito de livros, filmes, viagens, conversas, havia terminado. Francis, numa conversa com Ivan Lessa, disse que se considerava tecnicamente morto, sem perspectivas num mundo globalizado, medíocre, jeca, selvagem.
Arnaldo Jabor, falando sobre Glauber Rocha (em Glauber o filme, labirinto do Brasil, 2003, de Silvio Tendler), afirmou que o cineasta morreu, entre outras coisas, porque não sobreviveria neste mundo regulado pelo mercado, sem transcendência, logo ele, uma figura épica. Cabe uma analogia entre as duas situações? Glauber, saudado por Francis como grande artista, metaforicamente um grande assassino, capaz de realizar em ações aquilo que só entabulamos em pensamentos. Os dois fazem muita falta, mas essa história de last man deve ficar restrita aos que partem. Há muitos escombros, como no final de Carne viva, mas a mensagem final não é pessimista, pois, se vivemos numa época de selvageria, pode-se, pelo menos, lutar para evitar a hecatombe.
A data da conclusão de Carne Viva, conforme a última página, é outubro de 1996. Francis ainda viveria pouco mais de três meses. Ex-trotskista (tinha um retrato do velho bolchevique em seu escritório, ou seria na carteira?), Francis, pós-Pasquim, havia trocado o Rio por Nova York, tornando-se um neoliberal enragé e bon vivant. Tinha numerário para isso, melhor salário da imprensa brasileira, vivendo de dizer o que achava das coisas. Seu público era fiel, migrando junto com ele da Folha de S.Paulo para O Estado de S.Paulo, quando um ombudsman quis se meter de pato a ganso.
Artistas deitam e rolam em cima de coadjuvantes, e era engraçado vê-lo no Manhattan Connection, chupando bala e espinafrando o Caio Blinder. Morto o homem, ainda resta, em alguma gaveta ou arquivo, Cabeça, que completaria a trilogia cachola, e, desde os anos 1980, é o livro aguardado de Francis. Seria interessante que a viúva, Sônia Nolasco, publicasse a obra, sem revisão, como material de estudo, possibilidade. Fica a sugestão. (Fonte: O Observatório da Imprensa)


*Jornalista, mestre em Lingüística pela École des Hautes Études em Sciences Sociales, Paris, França, doutor em Letras pela PUC-RS, autor de João Antônio por João Antônio: literatura e malandragem

Grupo Maggi deve construir porto em RO

Porto Velho (Decom) - O governador recebeu o diretor do Grupo Maggi, João Zamboni, acompanhado da diretora do Porto de Porto Velho, Leandra Vivian e funcionários da empresa, para discutir a situação da construção da estrada que dará acesso ao porto que o grupo pretende construir na capital nos próximos dois anos.
Com o aumento da produção de soja no Mato Grosso e em Rondônia, e a dificuldade de acesso ao atual porto, obrigando as carretas a passarem por dentro da cidade, o Grupo Maggi entendeu que seria mais viável economicamente construir um porto às margens do Rio Madeira, cerca de 15 quilômetros rio abaixo de Porto Velho, por onde será escoada a produção de grãos para exportação.
O Governo do Estado já está realizando os estudos topográficos e providenciando as licenças ambientais para a construção da estrada, que deverá ser iniciada em setembro, cobrindo um trecho de cerca de 20 quilômetros entre a BR-364 e o Rio Madeira. A nova estrada vai começar próximo ao trevo do hospital das Irmãs Marcelinas e passar por dentro até a beira do rio, onde o novo porto será construído.
Cassol solicitou ao diretor do grupo que o estado precisa urgentemente de uma esmagadora de soja, pois existe mercado e tudo que consumimos é importado, aumentando o custo da produção. “Em Espigão existe uma granja e o projeto de implantar um abatedouro de frangos, mas não tem ração suficiente para alimentar mais aves. Em Vilhena um grupo de empresários pretende instalar um frigorífico de suínos, mas também não tem ração suficiente no mercado para alimentar os animais”, explicou o governador. Diante deste mercado, o Grupo Maggi irá estudar seriamente a possibilidade de montar uma esmagadora de soja no estado e prevê que em dois anos o novo porto estará funcionando, o que desafogará o trânsito de carretas nas avenidas principais da capital.

Jornal de Debates

MÍDIA & RELIGIÃO

O coronelismo eletrônico evangélico

*Venício A. de Lima

Na Constituinte de 1987-88, ao contrário de todos os outros temas, o capítulo da Comunicação Social só logrou ser "rascunhado" na Comissão de Sistematização e somente ganhou forma definitiva por acordo de plenário. As normas constitucionais finalmente aprovadas sacramentaram bandeiras defendidas por radiodifusores e representantes de igrejas evangélicas, sobretudo no que se refere ao processo de concessão, renovação e cancelamento dos serviços públicos de rádio e televisão.
A ação coordenada dos interesses da "bancada da comunicação" articulada a parlamentares evangélicos está identificada no artigo "Comunicação na Constituinte: a defesa de velhos interesses" [não disponível online], que publiquei no primeiro número do Caderno CEAC/UnB, ainda em agosto de 1987. Àquela época, no entanto, não estava claro que a Constituinte viria a se constituir no ponto de referência para a atuação e o crescimento de representantes das igrejas evangélicas no Congresso Nacional e, sobretudo, para o avanço significativo de diferentes denominações evangélicas como concessionárias de emissoras de rádio e televisão no país.
A participação de igrejas no sistema de comunicações e na política vem, gradativamente, merecendo a atenção de analistas e pesquisadores. A tese de doutorado defendida há pouco no Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) pelo cientista político Valdemar Figueredo Filho, com o título "Os três poderes das redes de comunicação evangélicas: simbólico, econômico e político", é mais uma contribuição ao entendimento de parte importante das relações entre religião e mídia no nosso país.
O argumento principal do trabalho de Figueredo Filho é que "a representação política evangélica é o mesmo que representação das redes de comunicação evangélicas" e "nem mesmo os supostos valores morais comuns ao grupo religioso conseguem o grau de coesão alcançados pelos interesses relacionados à formação, manutenção e expansão de suas redes de comunicação". No contexto legal que regula a concessão, renovação e o cancelamento dos serviços públicos de rádio e televisão no Brasil, isso significa a manutenção de um tipo particular de coronelismo eletrônico, agora o evangélico.

Bases do coronelismo eletrônico evangélico

A representação evangélica no Congresso Nacional (ver Quadro 1) tem aumentado na medida em que também aumenta o percentual de evangélicos no total da população brasileira. Dados apresentados por Figueredo Filho para o ano de 2000 indicam que esse percentual já atingia 15,6% contra apenas 9%, em 1990. Em relação à representação política, no entanto, há uma diferença fundamental. Se até o fim da década de 1980 ela era composta, sobretudo, por usuários do rádio e da televisão (a chamada "igreja eletrônica"), a partir de então ela passou a ser principalmente de concessionários deste serviço público.

QUADRO 1

Representação Evangélica no Congresso Nacional (1983-2011)

Legislatura Titulares
1983-1987 12
1987-1991 (Constituinte) 32
1991-1995 23
1995-1999 30
1999-2003 52
2003-2007 48
2007-2011 44

O levantamento realizado por Figueredo Filho, apoiado em informações da Anatel e da Abert, até março de 2006 revela que 25,18% das emissoras de rádio FM e 20,55% das AM nas capitais brasileiras são evangélicas (ver Quadros 2 e 3). Há de se notar, no entanto, que as denominações pentecostais são as que controlam o maior número de concessões, destacando-se a Igreja Universal do reino de Deus (IURD) entre as FM (24) e da Igreja Assembléia de Deus (IAD) entre as AM (9).

QUADRO 2

Rádios FM evangélicas nas capitais brasileiras

Evangélicos Pentecostais
47 69,11%
Evangélicos de Missão
5 7,35%
Paraeclesiásticas Evangélicas
16 23,52%

Total de FMs evangélicas nas capitais brasileiras
68 100%

QUADRO 3

Rádios AM evangélicas nas capitais brasileiras

Evangélicos Pentecostais
24 64,86%
Evangélicos de Missão
5 13,51%
Paraeclesiásticas Evangélicas
8 21,62%

Total de AMs evangélicas nas capitais brasileiras
37 100%

Em relação à televisão, além do grande número de programas evangélicos que é transmitido por emissoras de TV abertas, existem também redes cujas entidades concessionários são igrejas. E, sobretudo, existe um grande número de retransmissoras (RTVs) controladas diretamente por igrejas (Quadro 4, com dados anteriores a setembro de 2007).

QUADRO 4

RTVs controladas por entidades evangélicas

ENTIDADESEVANGÉLICAS NÚMERO DE RTVs GRUPO
Fundação Evangélica Boas Novas 19 IAD
Rádio e Televisão Record S.A 196 IURD
Rede Mulher de Televisão Ltda(desde 9/2007 Record News) 61 IURD
Rede Família de Comunicações S/C Ltda 10 IURD

A criação de uma Frente Parlamentar Evangélica (FPE), em 2003, formaliza a articulação dos interesses evangélicos no Congresso Nacional. Estes são defendidos através da participação de seus membros nas comissões de Comunicação tanto na Câmara quanto no Senado e nas votações das proposições legislativas em plenário.
Fundada por iniciativa do deputado Adelor Vieira (PMDB-SC), membro da IAD, a FPE é atualmente presidia pelo deputado pastor Manoel Ferreira (PTB-RJ), principal líder da IAD da Convenção Madureira.

Serviço público ou proselitismo religioso?

A tese de Figueredo Filho demonstra que, a exemplo do ocorre também em relação às outorgas de rádios comunitárias [ver, neste Observatório, "Rádio comunitárias – Coronelismo eletrônico de novo tipo"], número expressivo das concessionárias das emissoras de rádio e televisão (aberta) e RTVs está vinculado a entidades religiosas. E mais ainda: seus representantes são atores políticos que atuam de forma articulada no Congresso Nacional nas questões referentes às políticas públicas de comunicação e na formação, manutenção e ampliação da suas redes de rádio e televisão.
Obviamente os evangélicos não são o único grupo religioso concessionário do serviço público de radiodifusão. E a utilização de concessões públicas não é a única forma de atuação de grupos religiosos na mídia.
A questão que precisa ser discutida, no entanto, é se um serviço público que, por sua própria natureza, deve estar "a serviço" de toda a população pode continuar a atender interesses particulares de qualquer natureza – inclusive ou, sobretudo, religiosos. (Fonte: O Observatório da Imprensa)