sexta-feira, 6 de março de 2009

Produtores da região de Ouro Preto recebem sementes selecionadas de feijão

Porto Velho (Decom) - Dando continuidade à entrega de sementes selecionadas de feijão, o vice-governador João Cahulla (foto), esteve nesta sexta-feira (6) nos municípios de Teixeiropólis, Urupá, Mirante da Serra e Nova União, distribuindo os grãos para que os pequenos produtores rurais possam efetuar o plantio, na época certa, assegurando uma maior safra e maior qualidade da produção, que tem aumentado a cada ano, graças ao apoio do Governo, que tem incentivado a expansão da produção de grãos.
“Desde o ano de 2003 que a administração Ivo Cassol implantou o programa Semear, distribuindo sementes selecionadas de arroz, milho e feijão, gratuitamente, para que a agricultura familiar possa se fortalecer, assegurando a subsistência das famílias. Foi um projeto que iniciamos em Rolim de Moura, junto com o Promec, e muitos não acreditaram que pudesse ser o sucesso que se tornou hoje, em todas as regiões”, explicou Cahulla, na comunidade Vitória, na Linha 31, em Teixeiropólis, onde fez a entrega de 4.000 quilos de sementes de feijão.
O secretário de Agricultura, Carlos Magno, os deputados estaduais Edson Martins e Luizinho Goebel, os secretários regionais Ari Saraiva (Ji-Paraná) e Ednaldo Andrade (Ouro Preto), o secretário regional da Emater, Polaco, prefeitos e vereadores, entre outras autoridades, prestigiaram as solenidades de entrega.
“Além do programa Semear, o Governo tem o Promec, com cinco horas máquinas para cada produtor rural, estamos fortalecendo o Pró-Peixe, que vai incrementar a piscicultura e garantir mais renda aos produtores, estamos lutando pela reativação da usina de calcário, melhorando as nossas áreas, as nossas pastagens, produzindo mais, no mesmo espaço de terra, o Pró-Leite, que melhora a nossa produção leiteira, o Inseminar que melhora o nosso rebanho, enfim, são várias ações no setor rural e em 2009 teremos ainda mais investimentos”, anunciou Carlos Magno.
Sementes e transporte escolar para Urupá - O município de Urupá, além dos 12.000 quilos de sementes selecionadas de feijão para os produtores, João Cahulla também assinou o convênio de transporte escolar, no valor de R$ 630 mil, assegurando a condução dos alunos até à sala de aula. Cahulla também entregou uma máquina beneficiadora de arroz para a Associação Agrifam, atendendo emenda do deputado estadual Luizinho Goebel. A solenidade ocorreu no barracão da Linha C4.
“Esse convênio assegura o transporte dos alunos, garantindo a frequência e impedindo a evasão escolar. Sem o apoio do Governo, a prefeitura teria muitas dificuldades em custear o transporte, por isso é tão importante esse convênio”, destacou o prefeito de Urupá, Célio de Jesus.
Na linha 64, na Associação de Produtores rurais, em Mirante da Serra, Cahulla entregou 11.000 mil quilos de sementes de feijão, que começam a ser plantados já na próxima semana. “É a hora do plantio, na segunda eu começa a plantar e espero colher uma boa produção, para meu consumo e espero vender uma parte”, disse a agricultora Edna da Silva, de Teixeiropólis, que mora em uma pequena área de pouco mais de dois hectares. “Não teria como comprar a semente. Por isso, quero devolver os mesmos 20 quilos que estou recebendo, para que outras pessoas carentes possam ser beneficiadas”, completou a produtora rural.
O vice-governador encerrou a sua agenda em Nova União, na escola Pólo da linha 81, onde distribuiu 5.000 mil quilos de sementes selecionadas de feijão. E neste sábado, Cahulla entrega mais 12.000 mil quilos em São Felipe e 2.000 em Primavera de Rondônia, onde também entrega 20 casas populares, do projeto Moradia Digna.

Noticias de Rolim de Moura

Prefeitura homenageia funcionárias públicas

Rolim de Moura (Assessoria) - Representando a Administração Municipal de Rolim de Moura, o Prefeito Tião Serraia, prestou na manhã desta sexta-feira, 06.03, uma homenagem às servidoras públicas do município, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo (08). Numa confraternização realizada no auditório da Semagri – Secretaria Municipal de Agricultura, ele destacou as conquistas e a importância da mulher na sociedade atual e os desafios que ela tem a enfrentar.
“Atualmente, a mulher vem ocupando um espaço significativo perante a sociedade, representando um marco nas conquistas de quem batalha com afinco para buscar reconhecimento. Hoje, é notório o espaço que elas vem apoderando, merecendo toda a nossa admiração e respeito. Nada mais justo do que prestar essa pequena homenagem àquela que além de trabalhar na sociedade, seja como funcionária pública ou particular, é mãe, esposa e dona do lar, mostrando diariamente uma lição de vida e moral.” Finalizou.
A homenagem contou ainda, com a leitura de um poema entoado pela mestre de cerimônia, Fabiana Cortez, e uma mensagem bíblica, apresentada pela missionária da Igreja Metodista Wesleiana, Ana Cristina. A vereadora Nice Chagas (PP), também fez uma retribuição de honra e congratulações às funcionárias. Na ocasião, a Primeira Dama do Município, Ana Maria Ferraz, foi presenteada com flores, representando todas as mulheres rolimourenses.
A comemoração foi encerrada com um café da manhã especial e a distribuição de lembranças. O evento contou com a organização da Coordenadora do Conselho Municipal de Trânsito, Juliane Moura e da Gerente de Relacionamento Cidadão e Prefeitura, Rosângela Lucia Machado.

Escuta Zé




Assédio moral na TV

Primeiro, espinafraram o Clodovil. Como nunca simpatizei com o dublê de costureiro e apresentador, fiquei quieto.



Depois, eles implicaram com o Paulo Betti. Como o ator, por sua vez, foi um pouco grosseiro, continuei calado.
Mais tarde, investiram contra Carolina Dieckmann e a Luana Piovani. Sempre achei as duas meio antipáticas; assim, ainda que um pouco incomodado, permaneci mudo.
Agora, eles mexeram com a Cláudia Alencar. Desta vez não consigo deixar para lá. Mexeu com a Cláudia Alencar, mexeu comigo.
Está ficando revoltante o modo como os comediantes do programa Pânico na TV, da Rede TV, abordam as pessoas em suas "entrevistas".
Não sei como ninguém ainda não entrou na Justiça processando seus responsáveis por assédio moral.
No começo, seus comediantes ainda eram um pouco engraçados; eles só apelavam para a baixaria quando o assediado (não se pode usar o verbete "entrevistado" nesse caso) se mostrava do mesmo nível do "Repórter Vesgo" e do "Silvio Santos", ou seja, baixíssimo.
Com o tempo, porém, provavelmente pelo esgotamento do repertório de piadas e pela falta de imaginação para novas pautas mais criativas, partiram para o ataque direto, grosseiro e covarde.
Suas investidas podem ser comparadas às de neonazistas que escolhem suas vítimas ao acaso, nas ruas, espancando-as até que percam os sentidos, ou a vida.
A diferença é que "Vesgo", "Silvio Santos" e os produtores do Pânico ferem quase de morte, em alguns casos, a imagem dos artistas que assediam.
E imagem é tudo para o artista. No final das contas, é seu ganha-pão.
Mas para garantir o seu (lá deles) próprio sustento, a turma do programa da Rede TV não poupa esforços, indelicadeza, grosseria e efeitos técnicos para tentar ridicularizar a vítima da vez, ainda que esta, inocente e desavisada, atenda-os cordialmente.
Às vezes não poupam nem a violência física. Outro dia, chegaram a derrubar no chão a atriz Lady Francisco, uma senhora já idosa, e a passar meleca no cabelo do ator Wagner Moura.
Domingo passado, entre outros desafortunados, a atriz Cláudia Alencar cruzou o caminho dos dois.
Cercaram-na ameaçadoramente, fizeram uma pergunta sem sentido e, diante do espanto da atriz, ainda usaram, na edição da "matéria", um efeito técnico para tentar ridicularizá-la.
Foi mais uma covardia de quem tem a câmera, o microfone, o estúdio, enfim, uma estrutura poderosa para simplesmente tentar tirar graça da desgraça alheia.
Não conheço a atriz Cláudia Alencar pessoalmente, mas todas as vezes em que a vi em entrevistas achei-a gentil, delicada, muito simpática. E um pouco frágil, também. Dizem até que é poetisa.
Lembro-me de duas personagens da atriz: a divertida Patativa, de Roda de Fogo, e a prefeita de Porto dos Milagres.
Esta última criou uma fantasia em mim, difícil de esquecer até hoje: ela acordava o marido todas as manhãs, fazendo uma deliciosa massagem em seus pés.
Como dizia um amigo meu, para uma mulher assim eu entregaria meu holerite todo fim de mês.

Primeiro eles vieram...

Quem ainda não conhece clique aqui e leia o poema parafraseado na abertura da crônica acima, que começa com a frase "Primeiro eles vieram atrás dos comunistas...".
Ele é de autoria do pastor evangélico alemão Martin Niemoller (1892-1984), preso por Hitler, em 1938, durante a ascensão nazista.

É para ler e guardar.


Escrito por José Luiz Teixeira de “www.escutaze.com.br”

Jornal de Debates

“DITABRANDA” EM DEBATE

A briga em que todos perdem

* Eugênio Bucci

Hay que "enfurecerse", pero sin perder la "brandura" jamás.

Lá se vão duas semanas do fatídico editorial da Folha de S.Paulo que, após alertar para o risco de tirania que se avoluma na Venezuela, referiu-se de passagem à ditadura militar no Brasil como um regime cujo grau de truculência teria sido relativamente tênue. Por terem preservado ou instituído "formas controladas de disputa política e acesso à Justiça", os governos militares entre 1964 e 1985 teriam pertencido à categoria – até então desconhecida de todos nós – das ditaduras amenas, ou, nos termos do editorial, das "chamadas ditabrandas".
Foi um terremoto no agreste. O neologismo trocadilhesco, meio de pé quebrado, provocou uma erupção vulcânica de cartas à redação. Cartas furibundas. Várias foram publicadas nos dias subseqüentes no "Painel do Leitor" da própria Folha. Entre essas, chamaram bastante atenção, pela contundência, as mensagens dos professores da USP Maria Victória Benevides e Fábio Konder Comparato.

Escreveu Maria Victória:

Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda"? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala – que horror!

Fábio Comparato foi mais duro:

O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana.
A ambos, a Folha dedicou uma resposta especial, personalizada, capaz de aturdir boa parte do leitorado:
Nota da Redação – A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa.

O sentido de recapitular

Tenho consciência de que, ao recapitular essas passagens aqui no Observatório, sabidamente freqüentado por leitores muito bem informados sobre as turbulências da imprensa, incorro no velho erro de chover no molhado: transcrevo o que todos já sabem. A recapitulação, contudo, cumpre uma função lógica da qual não tenho como me desviar. Essa função lógica se desdobra em dois planos, como exponho a seguir.
O primeiro desses dois planos é, por assim dizer, de ordem formal: refere-se à periodicidade da minha coluna. Em outras palavras, esse plano de ordem formal é quem justifica que eu trate, só agora, e não antes, de um assunto relativamente envelhecido. Sabemos todos que o discurso jornalístico, mesmo quando crítico ou ensaístico, deve se ocupar de novidades. Por que, então, ocupar-me do já sabido? A resposta é simples: porque, para a periodicidade da minha colaboração para este site, que se dá de duas em duas semanas, este assunto ainda é perfeitamente atual. O evento ao qual me refiro, por mais que tenha sido debatido em blogs, sites e publicações de todo tipo, inscreve-se rigorosamente no período que separa a minha coluna anterior, do dia 17 de fevereiro, desta aqui, de hoje, dia 3 de março de 2009. Por isso esperei para falar só hoje. Só aqui, neste Observatório, eu poderia desenvolver os pontos essenciais do que tenho a dizer.
Passemos agora ao segundo plano da função lógica que essa recapitulação vem cumprir. Aí não há nada de razões formais, mas de mérito. É preciso recuperar a sucessão desses três lances – o editorial, depois as cartas e, por fim, a resposta em forma de "Nota da Redação" – para demonstrar o que me leva a escrever. Agora, não falo apenas da forma (a periodicidade) que me permite escrever "só agora", mas do mérito que me impele a escrever.
Quanto a esse mérito, é por demais penoso, para mim, ver essas duas palavras, a palavra "cínica" e a palavra "mentirosa", fixarem-se de modo tão ríspido sobre uma atitude pública de Fábio Comparato e Maria Victória Benevides. Mais penoso ainda seria silenciar diante disso. Por que tanta violência contra eles? O próprio ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva, em sua coluna de 22 de fevereiro, ainda que cercado de toda cautela, advertiu:
"Um editorial com referência ao regime militar brasileiro provocou cartas publicadas no Painel do Leitor. Resposta da Redação a duas delas na sexta foge do padrão de cordialidade que julgo essencial o jornal manter com seus leitores."
O termo preciso talvez não fosse "cordialidade", mas urbanidade ou, quem sabe, civilidade. Se não se empenhasse em resguardar as condições para o diálogo, mesmo onde elas pareçam quase impossíveis, é pouco provável que um órgão de imprensa representasse o seu público e influenciasse a sociedade. A lógica defendida por Carlos Eduardo Lins da Silva, portanto, é inatacável porque elementar.
Isto posto, o que chocou na manifestação da Redação foi o ataque deliberadamente pessoal aos dois leitores. O golpe desferido contra eles teve o sentido de expeli-los nominalmente. Haverá, por certo, em defesa da "Nota da Redação", o argumento de que ela apenas reagiu aos termos da carta do professor Fábio Comparato, que já eram pesados, de fato. Qualquer leitor poderá verificar facilmente que o jurista elegeu, em sua crítica ao jornal, alvos personalizados. Ao dizer que "o autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro", ele atingiu pessoas, mais que uma instituição. Sem dúvida, não foi uma fala cordial. O castigo preconizado pelo grande professor de direito parece inspirado em rituais da Santa Inquisição, e, ainda que irônico, é direcionado contra pessoas de carne osso. Portanto, foi Comparato quem primeiro "fulanizou" a discussão.

Quem ganha?

Em uma coluna no dia 24 de fevereiro, na página A2, sob o título de "Ditadura, por favor", o editor de Brasil da própria Folha, Fernando Barros e Silva, assinalou com todas as letras a sua discordância com o editorial do diário em que trabalha. Rechaçou o termo "ditabranda". Ao mesmo tempo, não deixou de criticar o excesso verbal de Fábio Comparato:
"É bem sintomático, aliás, que, ao protestar contra a `ditabranda´ em carta à Folha, o professor Fábio Konder Comparato, guardião do `devido respeito à pessoa humana´, tenha condenado os autores do neologismo a ficar `de joelhos em praça pública´ para `pedir perdão ao povo brasileiro´. Que coisa. Era assim, obrigando suas vítimas a ajoelhar em praça pública, submetendo-as à autêntica `tortura chinesa´, que a polícia política maoísta punia desvios ideológicos durante a Revolução Cultural. Quem sabe, como a `ditabranda´, seja só um palpite infeliz."
Acontece que, mesmo que se admita que a carta tenha ido além do que seria meramente razoável, o argumento de que o jornal reagiu no mesmo diapasão e, portanto, em "legítima defesa", não procede. Pela simples razão de que, se fossem se pautar pelos padrões de etiqueta do leitorado, os órgãos de imprensa converteriam a ofensa aberta no idioma oficial de suas seções de cartas. Aí, qualquer comunicação com o público perderia a viabilidade.
Cabe ao jornal zelar pelas condições do diálogo, e isso por motivos funcionais, mais que morais, mesmo quando zelar pelo diálogo implica sacrifício de orgulho pessoal de um ou de outro. Não há escapatória. Se deixarem de cultivar e de cultuar o diálogo com o seu público, os órgãos de imprensa perderão seu lugar. Também por isso, o ombudsman tem razão.
Digamos assim: ele tem razão e, não obstante, essa razão que ele tem não resolve coisa alguma. Estamos aí, hoje, às voltas com um bate-boca destemperado e ensandecido. A polêmica assumiu proporções de movimentos radicalizados, de parte a parte. Adjetivos periféricos, ou mesmo marginais, ganharam o relevo de conteúdos centrais. De um lado, a associação entre Fábio Comparato e o maoísmo, um volteio estilístico de Fernando Barros e Silva, adquire aos olhos de muitos o estatuto de verdade factual, o que é apenas absurdo. De outro lado, fala-se que a Folha de S.Paulo protegeu e ajudou a ditadura militar, o que, pelo menos a partir do limiar da década de 1980, está longe, muito longe de ser verdade. Caímos numa discussão enlouquecida do acessório, enquanto o principal foi jogado no lixo.
Quem ganha com a radicalização? Apenas os inimigos da democracia – e entre eles não figuram nem Maria Victória Benevides, nem Fábio Comparato, nem a Folha de S.Paulo. Essa briga, do jeito que ficou montada, é um desastre. É um desastre sem lastro de verdade.

Um grande brasileiro

Pelos motivos que já expus, penso que o professor Fábio Comparato exagerou na carta que enviou ao jornal. Como educador enérgico que sempre foi, talvez ele tenha agido como quem quer passar um pito. Errou a mão, ao menos no meu modo de ver, mas isso não o diminui em nada – nem faz dele um stalinista. Considero Fábio Konder Comparato um dos maiores brasileiros vivos. Como jurista, como professor, como exemplo de coerência, tenho em sua figura, há quase trinta anos, um modelo de retidão, de inteligência, de dedicação ao ensino e ao interesse público.
Vi mais de uma geração de políticos, jornalistas, advogados, juízes e outros cidadãos de brilho que passaram pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, ser formatada pela figura desse homem de valor imenso, um valor difícil de aquilatar quando o olhamos de perto. Recentemente, dei uma aula na Escola de Governo que ele fundou. Não há como ficar indiferente a essa experiência. A maneira incondicional com que Comparato se empenhou e se empenha na missão de formar lideranças para capacitá-las a trafegar pelos meandros da gestão pública está acima, muito acima da média. Eu me lembro de uma carta que ele me enviou há mais de vinte anos, que guardo até hoje, em que falava de seu projeto "quixotesco" de criar uma escola de governo. Pois ele a criou e ela é hoje uma realidade em várias cidades.
Também não é verdade que Fábio Comparato tenha se calado sobre as brutalidades cometidas pelos regimes de esquerda. Não é verdade. Tenho notícias de que ele e Maria Victória, entre outros, já em 1989, assinaram um documento que foi entregue a Fidel Castro condenando os fuzilamentos de militares cubanos por suposto envolvimento com o narcotráfico. Eles também se manifestaram contra a política do regime chinês em relação ao Tibet. Há inúmeros textos de Comparato em que o compromisso com a defesa da vida humana, acima das ideologias, é claro. Mais que isso, ele infundiu essa mentalidade de defesa da vida em mim e em vários outros, melhores do que eu, que hoje atuam nas mais diversas áreas profissionais. Ele jamais nos ensinou a fechar os olhos para as atrocidades dos regimes de esquerda. Para não falar de modo vago, cito dois trechos de um de seus trabalhos recentes, o livro Ética, publicado em 2006 pela Companhia das Letras, que não deixam dúvida sobre o que ele pensa das tiranias ditas de esquerda. As duas passagens estão na página 347:
"Os Estados comunistas descambaram, todos eles, para a institucionalização do abuso de poder, chegando mesmo, alguns deles, ao totalitarismo."
(...)

"A questão central da relação de poder, no seio da sociedade, não é a de se saber como suprimi-la, mas sim a outra, muito mais delicada e complexa, de se instituir um eficiente sistema de controle do poder, em todos os setores – econômico, político, religioso, cultural etc. –, por aqueles que devem a ele submeter-se. Mas essa questão, lamentavelmente, não foi enfrentada por Marx."
A esquerda brasileira, desgraçadamente, tem os seus oportunistas, seus ladrões, tem os cínicos, os mentirosos, gente que protege a bandalheira e nela se lambuza, os tipos mal-intencionados que transformam em atos de heroísmo os crimes comuns e vulgares praticados pelos apaniguados. Tudo isso é fato. Mas Maria Victória Benevides e Fábio Konder Comparato sempre foram e continuam sendo o oposto disso. Não há registros de que tenham se dobrado aos encantos do poder – de direita ou de esquerda. Não há indicadores de vantagens materiais que lhes tenham sido entregues pela adesão a uma causa. São brasileiros que engrandecem este país e esta gente. Você pode discordar deles e de alguns arroubos que podem cometer, como qualquer um de nós. Mas não se pode desqualificá-los sumariamente. Eles não são cínicos nem mentirosos. Eles são maiores, muito maiores.

Esquisitices e irregularidades

Quando digo que essa briga é um desastre, penso nas radicalizações que empalidecem ou mesmo soterram a verdade e conduzem os contendores à escuridão. Voltemos o nosso olhar para o outro lado dessa torcida armada, voltemos o nosso olhar para o lado que agora ataca ferozmente a Folha de S.Paulo. O que vemos? Vemos um turbilhão que quer caracterizar a Folha como um pilar da ditadura – ou, pior, da "ditabranda". Cair nessa armadilha retórica é uma temeridade – e até mesmo os melhores, quando movidos pela raiva repentina, embarcam nessa falácia.
Eu era estudante de direito e de jornalismo quando militava numa organização trotskista, a OSI (Organização Socialista Internacionalista). Devia ser 1980, talvez 1981. Cabia a mim secretariar uma célula da organização na Faculdade de Direito da USP. Uma manhã, indo a pé da Rua Riachuelo para o Largo de São Francisco, passei por uma banca de revistas e vi lá uma edição da Folha da Tarde com uma chamada que me desconcertou. Eles publicavam na íntegra o estatuto da OSI. Aquilo era produto de espionagem policial, coisa de alcagüetagem, não de reportagem. O que senti na época é que ali estava um diário a serviço da repressão, não do leitor, não do cidadão. Isso eu vivi e isso é verdade.
Outra coisa é a Folha de S.Paulo. Ela é, de fato, um dos melhores jornais do país, por qualquer critério que se queira analisá-la. Em 1984, ao abraçar a campanha pelas Diretas Já, a Folha desmistificou essa história de neutralidade jornalística. Não há neutralidade entre a democracia e a ditadura. Nesses casos, a imprensa tem, sim, um partido: o partido da liberdade. Fora da liberdade, a imprensa morre. As reportagens de Ricardo Kotscho marcaram época – e com justiça. Depois, em 1992, poucos enfrentaram a corrupção do governo Collor com tanta coragem quanto a Folha de S.Paulo, que chegou a receber invasões de policiais em sua sede, com atitudes de intimidação inimagináveis, além de sofrer processos ameaçadores, conduzidos por má fé e por outras baixezas.
A Folha modernizou o jornalismo no Brasil como poucos outros jornais. Alguns falam mal dos seus "manuais de redação", mas, em que pesem seus excessos, eles trouxeram mais parâmetros de mais objetividade e mais olhar crítico para o repertório da imprensa. A Folha radicalizou corajosamente a sua própria transparência interna. Investiu com tudo na instituição do ombudsman. Adotou a pluralidade como regra e, ainda hoje, talvez seja o jornal que mais longe leva o princípio da pluralidade de opiniões – tanto que publica não apenas as cartas dos leitores que divergem agressivamente de seus editoriais como dá lugar à opinião dissidente de um de seus editores.
A Folha não é "a direita", como dizem. Ela publica também a direita, mas publica a esquerda e o centro: espelha o debate público na ebulição de suas esquisitices e de suas irregularidades. Nesse sentido, a Folha faz bem em não admitir que ninguém lhe diga o que ela deve fazer ou deixar de fazer. Ela ergue acima de tudo a bandeira de sua própria independência e, assim, realiza a razão de ser da imprensa e cumpre seu papel.

Uma briga desastrosa

O que assinalo aqui são fatos, não são opiniões. A democracia brasileira deve muito à Folha de S.Paulo e à conduta jornalística que ela adotou de 1984 para cá, pelo menos. Não reconhecer isso é um erro crasso. E perigoso. Repito: isso é história, são fatos transitados no curso do tempo. Temos de ter o mínimo de abertura intelectual para nos dar conta da dimensão desses fatos e extrair deles o seu devido sentido.
Por tudo isso, essa briga toda é um desastre. Vão perder com ela os intelectuais minimamente honestos e vai perder a Folha. A "Nota da Redação" contra Fábio Comparato e Maria Victória é um ponto fora da curva – e deveria ser tratada como tal. A adoção do termo "ditabranda" é um "palpite infeliz", no dizer de Fernando Barros e Silva – e deveria ser tratada como tal.
Para falar a verdade, quando li aquele editorial, eu nem fiquei tão abespinhado assim. Essa história de "ditabranda" soou, para mim, como um remake piorado de algo que dizíamos no movimento estudantil do meu tempo, num trocadilho que já me parecia meio pobre de imaginação: em vez de ditadura, falávamos "ditamole". Sem graça, por certo, mas era o que falávamos. Zombar da ditadura era um esporte estudantil bastante difundido naquela virada dos anos 1970 para os 80.
Em 1983, participei de uma chapa para o Centro Acadêmico "XI de Agosto", chamada "The Pravda" (que por acaso ganhou duas eleições seguidas), que se referia ao regime militar como "Remil". Era uma piada que fazíamos para espicaçar o que restava de rabugice autoritária naquele cadáver da ditadura e também de caçoar da mania de siglas tão difundida na administração federal. Era uma febre pavorosa, que, não por acaso, persiste até hoje. Brasília é a Meca das siglas, uma obsessão burocrática que atravessa os governos sem dar sinais de enfraquecimento. Siglas são sinônimos de eficiência administrativa num mundo sem administração democrática.
Mas agora, como já disse um leitor, parece que "o caldo entornou". De um lado e de outro, temos gente que tem razão brandindo argumentos sem razão. Sei que o alerta que lanço aqui não vai levar a nada. Sei que vou ser fuzilado pelos dois lados, como sói acontecer. Não importa. Digo que há mais em comum entre a história da Folha e a trajetória de Fábio Comparato e Maria Victória Benevides do que entre a Folha e a selvageria dos que agora jogam lenha nessa fogueira insensata. Um pouco de calma, um pouco de juízo, um pouco de humildade e as coisas teriam sido diferentes. Mas talvez seja tarde.
A fúria, assim como o furor, é uma emoção compreensível – mas a brandura talvez pudesse nos aconselhar um pouco. Entre nós foi sempre assim: a chegada do colonizador foi mais branda, a proclamação da independência passou lisa, a abolição da escravatura não nos custou uma guerra civil, a república brotou de meia dúzia de gritos... até a ditadura militar – por que não? – foi "menos pior" que outras, ainda que tenha sido infame e inaceitável. Será que só as nossas brigas irracionais precisam ser tão sanguinárias, tão incendiárias, tão alucinadamente inúteis?



* O autor é jornalista, professor da Escola de Comunicações e Artes e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP


Direito à Comunicação

Emissoras veiculam 10% de conteúdos locais


São Paulo (Observatório do Direito à Comunicação) - A regionalização da produção audiovisual é uma preocupação recorrente para estudiosos da comunicação, telespectadores, produtores independentes e gestores públicos. Tal é sua importância que o capítulo da Comunicação Social da Constituição Federal estabelece como princípios da produção e programação das emissoras de radiodifusão, em seu artigo 221, a “regionalização da produção cultural, artística, e jornalística”. Para medir a presença destes conteúdos na programação das emissoras de televisão, o Observatório do Direito à Comunicação realizou o estudo “Produção Regional na TV Aberta Brasileira.
A partir da análise de 58 emissoras em 11 capitais das cinco regiões brasileiras, a pesquisa chegou a um dado preocupante: apenas 10,83% do tempo veiculado é ocupado com conteúdos de origem local. O índice é bastante inferior ao percentual de 30% previsto no Projeto de Lei da ex-deputada Jandira Feghali (PcdoB-RJ) (256/1991), que visa regulamentar o dispositivo constitucional citado acima, tramitando no Congresso Nacional há 18 anos.
“O índice de 10% é extremamente baixo. Totalmente insuficiente para a quantidade e qualidade de matéria-prima que temos em termos de cultura popular local e regional e um sinal de como a produção, circulação e o consumo da cultura no país obedece a uma lógica vertical e antidemocrática”, avalia Rosário Pompéia, mestre em comunicação social, integrante do Centro de Cultura Luis Freire, de Olinda (PE), e pesquisadora do tema.
A emissora com maior tempo dedicado a conteúdos locais é a Paraná Educativa, sediada em Curitiba e vinculada ao governo do Paraná, que preenche 50% de sua grade com atrações produzidas naquela cidade. Em seguida vêm a TV Rondon, afiliada da Rede TV! em Cuiabá (MT), com 45%, a pública Rede Minas, com 34,32%, e as gaúchas TV Pampa, afiliada à RedeTV!, com 26,5%, e a também pública TVE RS, com 22,82%. Entre as 10 emissoras com melhor desempenho na análise, evidencia-se a presença das regiões Sul e Nordeste, com três televisões cada uma.

Emissoras públicas são as mais regionalizadas

Tais dados revelam a disparidade entre emissoras públicos e comerciais. As primeiras reservam, em média, 25,5% de sua grade para conteúdos realizados em suas cidades. Os destaques são as já citadas Paraná Educativa (50%), a Rede Minas (34,32%) e TVE RS (22,82%). Além destas, a TV Ceará e a TV Cultura do Pará também figuram entre as 10 primeiras, com índice de regionalização de 15,97% e 15,41%.
Já as redes comerciais ficam abaixo da média nacional, reservando a média de 9,14% de suas grades de programação para conteúdos locais. Para especialistas entrevistados na pesquisa, tal quadro é resultado dos condicionantes políticos e econômicos impostos pelo modelo centralizado de rede. Um problema dos contratos de afiliação é o tempo pré-estabelecido pelas cabeças para a produção regional. Outra dificuldade é o alto risco de retorno financeiro, que muitas vezes leva as emissoras a nem sequer preencher o pouco tempo permitido pelas cabeças.

Record tem o melhor desempenho


Entre as redes nacionais, o estudo registra o mais alto percentual na Rede Pública de TV organizada em torno da TV Brasil, com média de 25,55% de programação regionalizada. Entre as comerciais, o melhor desempenho foi o da RedeTV!, com 12,2%, seguida de perto pela Record, com 11,2%. Como o número de emissoras afiliadas à primeira rede foi consideravelmente menor do que o da segunda, a pesquisa conclui pelo melhor desempenho da rede do Bispo Edir Macedo.
A Rede CNT apresentou média de 9,12% de atrações locais, mas o desempenho também é relativizado pelo levantamento só ter analisado duas emissoras desta rede. Em seguida, praticamente empatados, estão SBT e a Rede Bandeirantes, com índices de 8,6% e 8,56%, respectivamente. Na última colocação está a mais poderosa organização de televisão do país, a Rede Globo, com média de 7%.

Jornalismo em alta, educativos e infantis em baixa

Dentre os conteúdos locais analisados, o estudo identificou maior presença do gênero jornalístico, que soma 464 horas e 7 minutos. O segundo gênero com maior presença é o entretenimento, com 79 horas e 10 minutos, seguido pelos programas esportivos, com 74 horas e 51 minutos, e os culturais, que totaliza 74 horas e 40 minutos. Enquanto os conteúdos voltados ao entretenimento são quase exclusivos das redes comerciais, as atrações culturais são veiculadas majoritariamente pelas televisões públicas.
O levantamento registrou a forte presença de programas de televendas e religiosos, que ocupam, respectivamente, 47 horas e 15 minutos e 28 horas e 30 minutos das grades das 58 TVs analisadas. Os conhecidos programas “policiais” somam 38 horas e 15 minutos. As atrações rurais, com temáticas relacionadas ao campo, tradicionais nos estados do Sul e Centro-Oeste, totalizam 16 horas e 12 minutos. O destaque negativo ficou com a baixíssima incidência de conteúdos educativos e infantis, com, respectivamente, 5 horas e 30 minutos e 4 horas e 30 minutos em um universo de quase 60 emissoras de TV.

Sul mais local

A região com melhor média de produções locais foi o Sul, com 13,92%. A tendência abrange as duas cidades pesquisadas, Porto Alegre e Curitiba. A segunda região com maior índice de regionalização é o Centro-Oeste, com 11,66%. No entanto, verifica-se um alto percentual nas emissoras de Cuiabá, contra um desempenho mais fraco em Brasília. A região Norte, embora a análise tenha se restringido à Belém, apresentou média de 9,1%.
O Nordeste, conhecido pela riqueza de suas manifestações culturais, ficou levemente abaixo da média nacional, com suas emissoras reservando 9,8% do tempo de suas grades para atrações realizadas nas próprias cidades. Em último lugar está a região mais rica do país, o Sudeste, com 9,19%. O resultado mostra que a presença de produções locais não está diretamente ligada ao peso dos mercados.

Alerta à sociedade

Apesar de utilizar uma amostra de 58 dentre as 421 geradoras de televisão existentes no país, o estudo “Produção Local na TV Aberta Brasileira” traz importantes elementos para entender a realidade da televisão brasileira. A julgar pela estrutura vertical das redes de televisão, a extensão de suas análises para todas as capitais ou para as geradoras no interior poderia certamente apresentar um quadro mais completo, mas dificilmente iria alterar radicalmente a evidência da desvalorização da cultural regional pelas emissoras de TV nacionais.
O percentual de 10,83%, mais do que um número, é um alerta. No ano de 2005, a Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (Unesco) aprovou a Convenção pela Proteção da Diversidade Cultural, afirmando a importância dos bens culturais serem tratados como patrimônio das diversas nações e dos variados segmentos no interior delas. Este projeto, no entanto, está distante de fazer parte da realidade do mais importante meio de comunicação do Brasil.


Sudeste decepciona

A regionalização da produção na televisão brasileira não depende e não é influenciada diretamente pelo tamanho dos mercados publicitários. Enquanto regiões com poucos anunciantes e índice potencial de consumo médio, como Sul e Centro-Oeste, apresentam as melhores médias de regionalização, o Sudeste, com os mais ricos anunciantes do país, têm as emissoras com menor presença de conteúdos locais.
Esta foi a principal conclusão do estudo “Produção Regional na TV Aberta Brasileira”, realizado a partir da análise de 58 emissoras em 11 capitais brasileiras [veja aqui]. Segundo a pesquisa, as TVs da região Sul ocupam 13,92% de suas grades com conteúdos realizados em suas cidades. A segunda região com maior índice de regionalização é a Centro-Oeste, que registrou média de 11,66%.
Na região Sul, o índice acima da média nacional foi puxado pelas duas emissoras públicas, TVE RS e Paraná Educativa, que veiculam, respectivamente, 22,82% e 50% de produção local em suas grades. Outro caso da região que se destaca é o da TV Pampa, que preenche 26,5% do tempo com atrações gaúchas.
No Centro-Oeste, o índice foi impulsionado pelo peculiar caso da TV Rondon, de Cuiabá, que ocupa 45% de sua grade com produções locais, majoritariamente religiosas e de televendas, uma vez que seis das nove emissoras analisadas em Cuiabá e Brasília dedicam menos de 10% do seu tempo para locais em sua grade. O destaque negativo fica com a SBT Brasília e Cidade Verde, da capital matogrossense, que registraram, respectivamente, 3% e 5,95%.
Já a região Norte, da qual foram pesquisadas as emissoras apenas de Belém, manteve praticamente a média nacional, com 9,91% de produção local em suas seis televisões. Os destaques positivos são a pública TV Cultura, com 15,41%, e a RBA, afiliada à Rede Bandeirantes, com 15,82%. Já o SBT Belém transmite 3,66% e a rede religiosa Boas Novas, 5,65%.

Poder de mercado e riqueza cultural sem influência

A Região Sudeste - que abrange os principais mercados de televisão do país, e, portanto, teria supostamente condições financeiras para sustentar uma política de regionalização mais forte de suas emissoras - teve o desempenho mais baixo, com média de 9,19% de regionalização. Das 11 emissoras analisadas nesta região, apenas duas veiculam mais do que a média nacional, Rede Minas (34,32%) e Record MG (12,5%).
O índice foi baixo pela pouca presença de conteúdo regional nas afiliadas da Rede TV no Rio e em Belo Horizonte, ambas com apenas 1,48% da grade nesta modalidade de programa. Uma razão para o índice da região mais rica do país é a força da programação das cabeças-de-rede, que terminam sendo retransmitidas em proporção maior do que no restante do país.
Se o poder de mercado não está diretamente relacionado à regionalização da produção, tampouco a diversidade de manifestações culturais influencia neste sentido. A região Nordeste, conhecida pela riqueza de suas várias culturas locais, teve índice abaixo da média nacional de 10,83%, com 9,8% do tempo de suas emissoras dedicado à produção local.
Dentre as 20 emissoras pesquisadas nesta região, foi possível constatar uma disparidade muito grande, com TVs com produção local razoável, como a afiliada do SBT no Ceará TV Jangadeiro (20,3%), a afiliada da Band em Recife TV Clube (13,78%) e a afiliada do SBT em Natal TV Ponta Negra (17,5%). Esta última, de propriedade da prefeita da cidade, Micarla de Souza, no entanto, chegou a esta marca com forte ocorrência de programas arrendados a igrejas e televendas. O destaque negativo foi as afiliadas da Rede TV em Fortaleza e Recife e a TV MTV Recife, que não veiculam um minuto sequer de produção local.

Diferentes realidades

Se observadas individualmente as cidades, é possível perceber realidades bem diferenciadas no país. A capital paranaense, Curitiba, foi a cidade com índice mais alto de regionalização, com 15,74%. O índice é puxado pela Paraná Educativa, que dedica 50% de seu tempo a conteúdos locais, bem como por experiências como as da Rede Paranaense de Comunicação, afiliada da Rede Globo, que preenche surpreendentes 12,99% de sua grade com atrações locais.
Cuiabá foi a segunda cidade com maior índice de localidade, com 14,38% das grades de suas emissoras ocupados por programas locais. O destaque positivo é o já citado caso da TV Rondon (Rede TV), que preenche 45% de sua grade com produções cuiabanas, seguida de longe pela TV Gazeta (Record), com 15,22%. As TVs Centro América (Globo) e Cidade Verde (SBT) equilibraram o índice, com cerca de 6% de conteúdo local inseridos em suas grades.
Belo Horizonte destaca-se em meio à baixa média do Sudeste, com 12% de regionalização. O índice foi garantido pela grande presença destes conteúdos na Rede Minas (34,32%), que compensou as escassas atrações locais na Rede TV MG (1,48%) e na Globo Belo Horizonte (5,9%). Em seguida vem Porto alegre, que registrou 11,77% de média. Embora tenha duas emissoras com altos índices, TVE RS e TV Pampa, as emissoras SBT Poa e Band RS, com, respectivamente, 1,78% e 3,57%.
Logo abaixo vem a capital baiana, Salvador, que atingiu índice pouco acima da média nacional, com 11% de produção local. O percentual foi sustentado pela TVE BA, com 14,78% de conteúdos locais na grade, e pela TV Itapoan (Record), com 12,50%. O índice foi garantido também pelo desempenho razoável das outras três emissoras com menos atrações locais, TV Bahia (Globo), TV Aratu (SBT) e Band Bahia, todas com mais de 9% das horas dedicadas a atrações produzidas em Salvador.
As emissoras de Fortaleza veiculam 11,2% de atrações locais. A média é resultado de uma situação díspar, com três emissoras com bons índices - Tv Jangadeiro (SBT) (20,3%), TV Ceará (15,97%) e TV Cidade Record (13,44%) – e duas com pouco espaço à produção local – TV Verdes Mares (Globo) (6%) e Rede TV Fortaleza (0%).
Natal manteve-se pouco acima da média nacioinal, com 10,74% de atrações locais. O destaque positivo foi a TV Ponta Negra, de propriedade da prefeita, Micarla de Souza. No entanto, o alto índice é resultado de intensa participação de shows religiosos e infomerciais de televendas que alugam espaço da emissora. Das quatro emissoras avaliadas (a TVU não disponibilizou sua grade de programação), duas mantiveram-se na média: Band Natal (9,82%) e Tropical (Record) (9,92%). O pior índice foi da afiliada da Rede Globo TV Cabugi (5,75%).
Uma das cidades com cultural local de maior prestígio no país, Recife obteve um dos índices mais baixos, com apenas 7% de horas dedicadas à produção local entre suas emissoras. O percentual é resultado do fato de duas emissoras, MTV Recife e Rede TV Recife, não terem nenhum programa realizado na capital pernambucana. Diferente de outras cidades, as afiliadas da Band, TV Clube, e do SBT, TV Jornal, dedicam mais tempo do que a média para atrações locais, 13,78% e 12.40%, respectivamente.
Brasília, a despeito de alimentar o restante do país como fonte de informações políticas, foi uma das cidades com pior desempenho, atingindo média de 6,61%. A única emissora que ultrapassou a média nacional foi a TV Brasília, de propriedade dos Diários Associados e do vice-governador do DF, Paulo Octávio, com 11% de conteúdos locais transmitidos. As demais emissoras, afiliadas das quatro maiores redes, mantêm índices piores: Record DF (8,48%), Globo (5,75%), Band (4,76%) e SBT (3%).
Já a capital carioca teve a média mais baixa, com 5,82%. Se a cidade é conhecida nacionalmente por conta da penetração de produções das cabeças-de-rede TV Globo e TV Brasil, o conteúdo voltado ao Rio das emissoras possui pouco espaço em suas grades, cujos destaques negativos são a Rede TV Rio e o SBT Rio, ambos com 1,48%.