Cães que também podem ser dóceis e leais
Antéro Sóter
O brasileiro está acostumado a ouvir histórias e estórias mirabolantes
acerca de algumas raças de cães, que, na maioria das vezes, levam ao pânico. Acostumou-se
também a ouvir dizer que o Pit Bull, o Doberman e o Rottweiler são objetos de
uma mente doentia, que teria feito modificações genéticas que resultaram em
raças de guerra feita para matar e nunca para serem acariciadas.
No entanto especialistas como os médicos veterinários Randal Barbosa de
Moura e Hélio Gonçalves Ferreira, ambos do Hospital Veterinário Pluto, em
Goiânia, e o vice-presidente do Clube Mineiro do American Pit Bull Terrier, Erick
Corrêa, além da adestradora de cães Cristiane Garcia de
Oliveira, da Dog Defender, mostram que não é bem assim e garantem quem bem
cuidados, respeitados e mimados, animais destas raças podem ser, sim, dóceis,
confiáveis e leais.
PIT BULL
Não é uma mutação genética
O Pit Bull, ao contrário do que pensa a maioria não é resultado de
mutações genéticas produzidas em laboratórios. "Como ocorreu com
praticamente todas as raças, o pit Bull é fruto do cruzamento entre cães de
raças diferentes, com características diversas", explica o vice-presidente
do Clube Mineiro do American Pit Bull Terrier, Erick Corrêa. Ele observa que a
espécie teve origem na Inglaterra, numa época em que ainda não existiam
laboratórios genéticos. "O Pit Bull surgiu por volta do século 17, quando
os cães eram usados em combates contra animais selvagens e de grande porte,
como ursos e touros." A atividade, que divertia muitas pessoas, foi
proibida pelo governo inglês em 1835, dando origem a lutas clandestinas.
Até esse período, os old bulldogs eram usados nas rinhas. Esses cães
eram muitos ferozes e agressivos com outros animais. A aparência deles, de
acordo com o dirigente do clube de Minas Gerais, não tinha muita importância,
porque o que realmente contava era o desempenho dos cachorros no ringue. A luta
entre um urso e um bulldog era uma prática comum que atraía muita gente e
gerava pequenas fortunas, em função das apostas e da manutenção dos ursos.
No entanto, outros especialistas, como os médicos veterinários Randal
Barbosa Moura e Hélio Gonçalves Ferreira,, que atendem no Hospital Veterinário
Pluto, em Goiânia, explicar a origem exata da raça pit Bull é uma tarefa muito
complexa. A teoria mais comum aponta para o resultado do cruzamento do antigo
bulldog com cães do grupo terrier. Os criadores de cães de combate perceberam
que os vencedores deveriam ser mais ágeis, resistentes e determinados. Os cães
terrier, uma classificação para o grupo formado por animais de caça destemidos,
resistentes e fáceis de lidar, foram escolhidos para o cruzamento com o
bulldog.
O dirigente do Clube Mineiro explica que, da mistura surgiram
várias nomenclaturas, como pit bulldogs, pit terrier, half and half, yanke
terrier, pit Bull terrier e american staffordshire terrier. "O primeiro
registro de um pit Bull foi feito nos Estados Unidos, quando ficou estabelecido
o nome oficial de american pit Bull terrier", explica Erick. Hoje, os cães
são criados para participar de exposições e competições, como o game-dog.
"É um tipo de evento esportivo em que o pit bulls são treinados para
saltar, correr e fazer demonstrações de força e agilidade."
A literatura médica-veterinária, de acordo com os veterinários goianos,
ensina que Pit Bull é um termo genérico que se refere a um conjunto de raças de
cães, incluindo (mas não se limitando) ao American Pit Bull Terrier, o American
Staffordshire Terrier e o Staffordshire Bull Terrier, e os cruzamentos entre
essas raças. Costuma-se usar o termo Pit Bull para designar a raça American Pit
Bull Terrier, não confundindo com a raça English Bull Terrier .
Na Inglaterra sua criação é autorizada apenas pela justiça. Nos Estados
Unidos, baniram a criação em alguns estados com muitos outros empregando
pesadas restrições na posse do animal. No Brasil, o Estado do Rio de Janeiro
proibiu a criação e a presença do animal na rua antes das 23 horas. E tramita
no Congresso Nacional projeto que regulamenta o assunto em nível nacional. A
cada fatalidade reportada na mídia, inflama o debate na sociedade por leis mais
rígidas e punição aos donos.
Segundo resultados da American Temperament Test Society (ATTS),
instituição que estuda e avalia o temperamento e comportamento de milhares de
cães de diversas raças, diante de situações variadas, pessoas diferentes, o seu
equilíbrio, capacidade de avaliação e reação, instinto de proteção e
agressividade, o American Pit Bull Terrier teve um dos maiores índices de
aprovação, estando dentre os mais dóceis e menos propensos a atacarem uma
pessoa, ficando inclusive a frente de Collies, Cockers, Pastores Alemães, Golden
Retrievers, e Dálmatas.
História do American Pit Bull Terrier
A história do desenvolvimento do Pit Bull na máquina de combate que é
hoje, tem início há cerca de dois séculos. Era o período do apogeu do Bulldog e
a atividade predominante não era a luta de cães, mas sim o bull baiting.
Tomando o termo cães de combate num sentido mais amplo – cães de guerra,
de caça pesada e perigosa e lutas contra os mais diversos oponentes. “Vamos
recuar no tempo e tentar reconstituir a história deste grupo”, diz o mineiro
Erick Corrêa. Segundo ele, “esta tentativa não é uma empreitada simples. A
documentação é esparsa e muitas vezes dispomos de apenas fragmentos de um mural
para fundamentar uma linha de raciocínio”.
Este breve histórico citado por Erick Corrêa está, segundo ele, baseado
na obra de dois renomados estudiosos do tema: os Drs. Carl Semencic e Dieter
Fleig. Os autores Diane Jessup e Richard Stratton foram também consultados.
2000 AC: Os babilônios já usavam cães gigantescos em seus exércitos.
1600: os cães utilizados para caça pesada, como o aurochs e o stag, eram
descendentes dos grandes molossos.
1800: O bear baiting, a luta entre um urso e um Bulldog, deixou de ser
prerrogativa da nobreza e tornou-se uma diversão popular. Pequenas fortunas
surgiam em função das apostas e com a manutenção dos ursos. O Bulldog já era
praticamente idêntico ao moderno Pit Bull.
1830: O bull baiting era o entretenimento favorito das massas. O Bulldog
é claramente um Pit Bull moderno, de compleição mais robusta.
1850: Com a proibição do bull baiting, as lutas de cães se tornam
populares. O bull and terrier, menor e mais ágil, substitui o Bulldog: está
formado o Pit Bull.
Cães de Guerra
Seja qual for sua origem, registros de sua atuação nos campos de batalha
não faltam:
- Hamurabi, rei da Babilônia, já empregava cães gigantescos com seus
guerreiros em 2100 A.C.
- Os Lídios, tribo asiática, utilizaram um batalhão de cães em suas
guerras contra os Kimérios (628 – 571 A.C.)
- Os persas do Rei Kambyses também os utilizaram contra os egípcios em
525 A.C.
- Na batalha de Maratona, um cão de guerra ateniense foi imortalizado
como herói em um mural.
A partir de cerca do ano 100 D.C., os romanos passaram a adotar uma
companhia de cães por legião. Anos antes, durante a invasão da Inglaterra, os
mastiffs ingleses se mostraram muito superiores aos cães romanos, sendo
trazidos para Roma e utilizados em lutas no Coliseu.
Em tempos mais recentes, os espanhóis os utilizaram no México para
dizimar os povos locais; o Conde de Essex, no reinado de Elizabeth I, também
lançou mão deles para sufocar, de forma sangrenta, um levante irlandês;
Napoleão determinou que fossem utilizados na batalha de Aboukir.
Nas guerras deste século, os cães também foram largamente utilizados,
porém não mais diretamente no combate e sim como mensageiros, guardas,
detetores de minas etc. O emprego dos grandes molossos tinha acabado.
Encerrou-se, então, uma era em que a coragem e a devoção do cão a seu
master foi testada como nunca. E foi comprovada na mais cruel das situações,
onde coragem e bravura são requisitos para a sobrevivência.
Pit Bull salva quatro crianças de incêndio
Um incêndio na cidade de Niles, localizada no estado americano de
Michigan, poderia ter tido consequências muito mais graves, não fosse a
iniciativa de um Pit Bull chamado Hector em participar dos salvamentos.
Além dos latidos insistentes que alertaram seus vizinhos do incêndio que
estava ocorrendo em sua casa, Hector também levou as quatro crianças da
residência atingida pelo fogo para local seguro.
Meagan Shell e seu marido acordaram no meio da noite do dia 1º por causa
dos latidos de Hector. O cão não costumava latir à noite e Shell percebeu que
estava ocorrendo algo de errado. "Nós sabíamos que havia alguma coisa
acontecendo", disse Shell. "Algo estava sucedendo, porque Hector
nunca late no meio da noite."
Shell saiu de casa para verificar qual o motivo de Hector estar tão
alarmado. O cão, imediatamente, saiu correndo na direção da casa vizinha,
seguido por Shell. "De repente, ao virarmos a esquina, vimos a fumaça que
saía da casa ao lado", disse Shell. Ela, imediatamente, chamou os
bombeiros, enquanto Hector continuava a latir insistentemente na casa dos
vizinhos.
Num dado momento, quatro crianças saíram correndo da casa e Hector parou
de latir. As crianças dormiam profundamente e só acordaram graças aos latidos
de Hector. Shell orientou as crianças para que se agarrassem à coleira de
Hector e disse a ele que voltasse para casa.
Hector, imediatamente, conduziu as crianças para a segurança da casa de
Shell. "Eu nunca o havia visto comportar-se desta maneira," disse
Shell. "Ele estava numa missão. Não estava tentando agredir ninguém, mas
sim, tentando ajudar a salvar vidas." (Do site ANDA com informações do
portal Life With Dogs)
BULLDOG
Um nome e dois significados
O médico veterinário Randal Barbosa, lembra que, historicamente, o termo
Bulldog possui dois significados. O primeiro diz respeito à aparência de um
determinado cão, desenvolvido na Inglaterra na segunda metade do século XIX. O
cão hoje conhecido como Bulldog inglês é, na realidade, uma distorção criada a
partir de 1860, baseados no que um grupo de pessoas "achava" que era
a conformação ideal de um bullbaiter. Nenhuma pintura que represente o
bullbaiting mostra um animal com as deformações do moderno Bulldog, mas sim
cães bastante semelhantes ao Pit Bull.
O segundo significado, muito mais antigo, é um termo funcional: qualquer
cão capaz de ser efetivamente utilizado como bullbaiter. Esta é a definição que
nos interessa.
Dentro desta conotação, eram Bulldogs:
- Na Inglaterra, o Bulldog propriamente dito, que evoluiu para o moderno
Pit Bull;
- Na Alemanha, o mastim bullenbeisser, que resultou no boxer;
- Nas Ilhas Canárias, o bardino majero, ancestral do presa canário.
Seja qual for a definição, é aceito que o Bulldog derivou dos mastiffs.
A primeira referência explícita ao Bulldog que se tem notícia, segundo Randal e
Hélio Ferreira, foi feita em 1631 por um sujeito chamado Prestwich Eaton. Em
uma carta para George Willingham, solicita claramente "um bom mastiff e
dois bons Bulldogs". Tem-se hoje como certo que o Bulldog foi aos poucos
sendo selecionado dentre os mastiffs de menor porte e maior agilidade.
Outro possível ancestral do Bulldog é o alaunt. Esta raça foi descrita
no livro Master of Game, do II Duque de York, em torno de 1410. Foram descritas
três variedades: alaunt gentle, alaunt veutreres e alaunt of the butcheries,
sendo realçada a aptidão para bullbaiting dos dois últimos. O primeiro se
assemelhava a um grande grayhound. Acredita-se que tenha origem na China e
tenha chegado à Europa junto com migrações de povos como os hunos e os álanos,
no início da era cristã. Esta tese é reforçada por um livro chinês chamado Book
of Odes, de 600 A.C. As descrições de duas raças neste livro (shan e shejo),
tanto física quanto funcionalmente, são iguais às dos alaunt do Duque de York
2000 anos depois.
É possível que os mastins tenham tais cães como ancestrais. O que parece
é que, sob a classificação de alaunt, estavam todos os cães de trabalho de
então: os grandes cães de caça, os mastins e os Bulldogs.
O DECLÍNIO
No início das lutas de cães, o Bulldog ainda era o cão mais utilizado
pelos baiters. Não demorou muito para os organizadores das rinhas percebessem
que, embora o pesado Bulldog, com seus 35-45kg, fosse um excelente combatente
contra touros, um cão mais leve e ágil seria mais apropriado para as lutas de
cães.
Um dado interessante que explica a grande diversidade de características
físicas desses cães é o segredo mantido pelos criadores do século XIX acerca de
seus métodos de criação. Mesmo quando registrados em papel, o que era raro, os
pedigrees não eram divulgados, por receio de que os rivais descobrissem o
segredo do sucesso e pudessem replicá-lo.
Em todo caso, em meados do século XIX os bull-and-terrier já tinham
adquirido todas as características apreciadas nos dias de hoje: capacidade
atlética, gameness incomparável e temperamento afável.
O estabelecimento da raça na Inglaterra
Embora criado num passado recente e razoavelmente documentado, a origem
do Pit Bull é um pouco nebulosa e se divide, basicamente, em duas vertentes,
ambas defendidas por autores de renome: O Pit Bull é exatamente o antigo
Bulldog
Esta tese é suportada por autores como Richard Stratton e Diane Jessup.
Para eles, não existe nenhuma característica no Pit Bull que justifique sua
origem em um terrier. Embora possa ter ocorrido alguma introdução de sangue
terrier no século passado, isso não foi de forma alguma significativo. O cão
que é uma evolução do bull-and-terrier (cruzamento do Bulldog com game
terriers) é o moderno bull terrier.
A chegada à América
Como visto, os ancestrais imediatos do Pit Bull foram os pit fighting
dogs importados da Irlanda e Inglaterra a partir de meados do século XIX. A
literatura médica veterinária mostra que, na América, a raça começou a divergir
ligeiramente do que estava sendo produzido naqueles países de origem. Os cães
não foram utilizados apenas para rinhas, mas também como catch dogs – presa de
gado e porcos desgarrados – e como guardas da propriedade e da família. Daí
começaram a ser selecionados cães de maior porte, mas esse ganho de peso não
foi muito significativo até cerca de 20 anos atrás.
Nas mãos dos criadores americanos, o Pit Bull se popularizou a ponto de
ser símbolo dos Estados Unidos na 1ª Guerra Mundial. Homens como Louis Colby,
cuja família mantém até hoje uma tradição de 109 anos, C.Z. Bennet, fundador do
United Kennel Club (UKC) e Guy McCord, fundador da American Dog Breeders
Association (ADBA), foram fundamentais na consolidação da raça.
Sua popularidade atingiu o auge na década de 30, quando o seriado
infantil Little Rascals era estrelado por Pete, um Pit Bull: era o cachorro
favorito de 10 entre 10 crianças americanas. Esta projeção levou finalmente o
American Kennel Club (AKC), após anos de pressão a reconhecer o Pit Bull com o
nome de staffordshire terrier, para diferenciá-lo dos cães voltados para
rinhas. Este cão é hoje o american staffordshire terrier, tendo o
"american" sido acrescido ao nome original em 1972 para evitar
confusão com o staffordshire bull terrier.
ROTTWEILER
Má criação criam uma imagem errada da raça
Os cães da raça Rottweiler se tornaram muito comuns em nosso país a
partir dos anos 90 por sua habilidade como cão de guarda. Após o “boom” de anos
atrás o Rottweiler o qual pouco se ouvia falar se popularizou rapidamente no
Brasil, porém ainda há muitos aspectos sobre a raça desconhecidos, informações
errôneas, e a má criação de alguns exemplares do cão, fazem com que as pessoas
criem uma imagem errada da raça Rottweiler.
Todas essas estórias sobre a raça Rottweiler quanto a sua agressividade,
de acordo com os dois veterinários goianos, são reflexo de sua criação. Por ser
uma raça muito leal, corajoso e dominador, em especial o macho, o Rottweiler
não é um cão para qualquer dono. Esta raça é o “reflexo de seu dono” e nunca
deve ser criado de maneira brutal ou poderá se tornar perigoso.
Randal explica que, para alguns, este cão, tipicamente alemão,
descenderia do Boiadeiro bávaro. Para outros, ele seria proveniente dos
Malossos introduzidos na Alemanha por ocasião das invasões romanas. “Já na
Idade Média, na cidade de Rottweil, em Würtembergm este cão poderoso e corajoso
guardava os rebanhos e defendia vendedores de gado contra os bandidos. A grande
preocupação dos açougueiros adotou-o e isto fez com que ele fosse denominado de
‘cão de açougueiro’”, revela o veterinário.
O Rottweiler, de acordo com os médicos goianos, é um cachorro leal e
afeiçoado a sua família, paciente com crianças, desde que seja criado junto com
elas, e uma boa companhia, além disto, “a raça Rottweiler é muito inteligente e
obediente, tem um grande potencial para diversas funções como cão policial e
cão de guarda. Trata-se de um cachorro equilibrado que possui um forte instinto
territorial, é tranquilo, resistente, robusto e dedicado a sua família, o
amadurecimento psíquico do rottweiler só ocorre depois dos dois anos de idade”.
O Rottweiler só chegou ao Brasil provavelmente na década de 70, no Estado
do Rio de Janeiro. Posteriormente, foi se espalhando pelo país, sendo que hoje,
os mais importantes centros de criação situam-se nos estados do Rio de Janeiro,
São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. A região nordeste tem
crescido muito em qualidade nos últimos tempos. Crescente também tem sido o
número de filhotes de Rottweiler que nascem todos os anos no Brasil.
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