quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O Pit Bull, o Doberman e o Rottweiler

Cães que também podem ser dóceis e leais

Antéro Sóter

O brasileiro está acostumado a ouvir histórias e estórias mirabolantes acerca de algumas raças de cães, que, na maioria das vezes, levam ao pânico. Acostumou-se também a ouvir dizer que o Pit Bull, o Doberman e o Rottweiler são objetos de uma mente doentia, que teria feito modificações genéticas que resultaram em raças de guerra feita para matar e nunca para serem acariciadas.
No entanto especialistas como os médicos veterinários Randal Barbosa de Moura e Hélio Gonçalves Ferreira, ambos do Hospital Veterinário Pluto, em Goiânia, e o vice-presidente do Clube Mineiro do American Pit Bull Terrier, Erick Corrêa, além da adestradora de cães Cristiane Garcia de Oliveira, da Dog Defender, mostram que não é bem assim e garantem quem bem cuidados, respeitados e mimados, animais destas raças podem ser, sim, dóceis, confiáveis e leais.

PIT BULL

Não é uma mutação genética


O Pit Bull, ao contrário do que pensa a maioria não é resultado de mutações genéticas produzidas em laboratórios. "Como ocorreu com praticamente todas as raças, o pit Bull é fruto do cruzamento entre cães de raças diferentes, com características diversas", explica o vice-presidente do Clube Mineiro do American Pit Bull Terrier, Erick Corrêa. Ele observa que a espécie teve origem na Inglaterra, numa época em que ainda não existiam laboratórios genéticos. "O Pit Bull surgiu por volta do século 17, quando os cães eram usados em combates contra animais selvagens e de grande porte, como ursos e touros." A atividade, que divertia muitas pessoas, foi proibida pelo governo inglês em 1835, dando origem a lutas clandestinas.
Até esse período, os old bulldogs eram usados nas rinhas. Esses cães eram muitos ferozes e agressivos com outros animais. A aparência deles, de acordo com o dirigente do clube de Minas Gerais, não tinha muita importância, porque o que realmente contava era o desempenho dos cachorros no ringue. A luta entre um urso e um bulldog era uma prática comum que atraía muita gente e gerava pequenas fortunas, em função das apostas e da manutenção dos ursos.
No entanto, outros especialistas, como os médicos veterinários Randal Barbosa Moura e Hélio Gonçalves Ferreira,, que atendem no Hospital Veterinário Pluto, em Goiânia, explicar a origem exata da raça pit Bull é uma tarefa muito complexa. A teoria mais comum aponta para o resultado do cruzamento do antigo bulldog com cães do grupo terrier. Os criadores de cães de combate perceberam que os vencedores deveriam ser mais ágeis, resistentes e determinados. Os cães terrier, uma classificação para o grupo formado por animais de caça destemidos, resistentes e fáceis de lidar, foram escolhidos para o cruzamento com o bulldog.
O dirigente do Clube Mineiro explica que, da mistura surgiram várias nomenclaturas, como pit bulldogs, pit terrier, half and half, yanke terrier, pit Bull terrier e american staffordshire terrier. "O primeiro registro de um pit Bull foi feito nos Estados Unidos, quando ficou estabelecido o nome oficial de american pit Bull terrier", explica Erick. Hoje, os cães são criados para participar de exposições e competições, como o game-dog. "É um tipo de evento esportivo em que o pit bulls são treinados para saltar, correr e fazer demonstrações de força e agilidade."
A literatura médica-veterinária, de acordo com os veterinários goianos, ensina que Pit Bull é um termo genérico que se refere a um conjunto de raças de cães, incluindo (mas não se limitando) ao American Pit Bull Terrier, o American Staffordshire Terrier e o Staffordshire Bull Terrier, e os cruzamentos entre essas raças. Costuma-se usar o termo Pit Bull para designar a raça American Pit Bull Terrier, não confundindo com a raça English Bull Terrier .
Na Inglaterra sua criação é autorizada apenas pela justiça. Nos Estados Unidos, baniram a criação em alguns estados com muitos outros empregando pesadas restrições na posse do animal. No Brasil, o Estado do Rio de Janeiro proibiu a criação e a presença do animal na rua antes das 23 horas. E tramita no Congresso Nacional projeto que regulamenta o assunto em nível nacional. A cada fatalidade reportada na mídia, inflama o debate na sociedade por leis mais rígidas e punição aos donos.
Segundo resultados da American Temperament Test Society (ATTS), instituição que estuda e avalia o temperamento e comportamento de milhares de cães de diversas raças, diante de situações variadas, pessoas diferentes, o seu equilíbrio, capacidade de avaliação e reação, instinto de proteção e agressividade, o American Pit Bull Terrier teve um dos maiores índices de aprovação, estando dentre os mais dóceis e menos propensos a atacarem uma pessoa, ficando inclusive a frente de Collies, Cockers, Pastores Alemães, Golden Retrievers, e Dálmatas.

História do American Pit Bull Terrier

A história do desenvolvimento do Pit Bull na máquina de combate que é hoje, tem início há cerca de dois séculos. Era o período do apogeu do Bulldog e a atividade predominante não era a luta de cães, mas sim o bull baiting.
Tomando o termo cães de combate num sentido mais amplo – cães de guerra, de caça pesada e perigosa e lutas contra os mais diversos oponentes. “Vamos recuar no tempo e tentar reconstituir a história deste grupo”, diz o mineiro Erick Corrêa. Segundo ele, “esta tentativa não é uma empreitada simples. A documentação é esparsa e muitas vezes dispomos de apenas fragmentos de um mural para fundamentar uma linha de raciocínio”.

Este breve histórico citado por Erick Corrêa está, segundo ele, baseado na obra de dois renomados estudiosos do tema: os Drs. Carl Semencic e Dieter Fleig. Os autores Diane Jessup e Richard Stratton foram também consultados.
2000 AC: Os babilônios já usavam cães gigantescos em seus exércitos.
1600: os cães utilizados para caça pesada, como o aurochs e o stag, eram descendentes dos grandes molossos.
1800: O bear baiting, a luta entre um urso e um Bulldog, deixou de ser prerrogativa da nobreza e tornou-se uma diversão popular. Pequenas fortunas surgiam em função das apostas e com a manutenção dos ursos. O Bulldog já era praticamente idêntico ao moderno Pit Bull.
1830: O bull baiting era o entretenimento favorito das massas. O Bulldog é claramente um Pit Bull moderno, de compleição mais robusta.
1850: Com a proibição do bull baiting, as lutas de cães se tornam populares. O bull and terrier, menor e mais ágil, substitui o Bulldog: está formado o Pit Bull.
Cães de Guerra
Seja qual for sua origem, registros de sua atuação nos campos de batalha não faltam:
- Hamurabi, rei da Babilônia, já empregava cães gigantescos com seus guerreiros em 2100 A.C.
- Os Lídios, tribo asiática, utilizaram um batalhão de cães em suas guerras contra os Kimérios (628 – 571 A.C.)
- Os persas do Rei Kambyses também os utilizaram contra os egípcios em 525 A.C.
- Na batalha de Maratona, um cão de guerra ateniense foi imortalizado como herói em um mural.
A partir de cerca do ano 100 D.C., os romanos passaram a adotar uma companhia de cães por legião. Anos antes, durante a invasão da Inglaterra, os mastiffs ingleses se mostraram muito superiores aos cães romanos, sendo trazidos para Roma e utilizados em lutas no Coliseu.
Em tempos mais recentes, os espanhóis os utilizaram no México para dizimar os povos locais; o Conde de Essex, no reinado de Elizabeth I, também lançou mão deles para sufocar, de forma sangrenta, um levante irlandês; Napoleão determinou que fossem utilizados na batalha de Aboukir.
Nas guerras deste século, os cães também foram largamente utilizados, porém não mais diretamente no combate e sim como mensageiros, guardas, detetores de minas etc. O emprego dos grandes molossos tinha acabado.
Encerrou-se, então, uma era em que a coragem e a devoção do cão a seu master foi testada como nunca. E foi comprovada na mais cruel das situações, onde coragem e bravura são requisitos para a sobrevivência.

Pit Bull salva quatro crianças de incêndio

Um incêndio na cidade de Niles, localizada no estado americano de Michigan, poderia ter tido consequências muito mais graves, não fosse a iniciativa de um Pit Bull chamado Hector em participar dos salvamentos.
Além dos latidos insistentes que alertaram seus vizinhos do incêndio que estava ocorrendo em sua casa, Hector também levou as quatro crianças da residência atingida pelo fogo para local seguro.
Meagan Shell e seu marido acordaram no meio da noite do dia 1º por causa dos latidos de Hector. O cão não costumava latir à noite e Shell percebeu que estava ocorrendo algo de errado. "Nós sabíamos que havia alguma coisa acontecendo", disse Shell. "Algo estava sucedendo, porque Hector nunca late no meio da noite."
Shell saiu de casa para verificar qual o motivo de Hector estar tão alarmado. O cão, imediatamente, saiu correndo na direção da casa vizinha, seguido por Shell. "De repente, ao virarmos a esquina, vimos a fumaça que saía da casa ao lado", disse Shell. Ela, imediatamente, chamou os bombeiros, enquanto Hector continuava a latir insistentemente na casa dos vizinhos.
Num dado momento, quatro crianças saíram correndo da casa e Hector parou de latir. As crianças dormiam profundamente e só acordaram graças aos latidos de Hector. Shell orientou as crianças para que se agarrassem à coleira de Hector e disse a ele que voltasse para casa.
Hector, imediatamente, conduziu as crianças para a segurança da casa de Shell. "Eu nunca o havia visto comportar-se desta maneira," disse Shell. "Ele estava numa missão. Não estava tentando agredir ninguém, mas sim, tentando ajudar a salvar vidas." (Do site ANDA com informações do portal Life With Dogs)

BULLDOG

Um nome e dois significados

O médico veterinário Randal Barbosa, lembra que, historicamente, o termo Bulldog possui dois significados. O primeiro diz respeito à aparência de um determinado cão, desenvolvido na Inglaterra na segunda metade do século XIX. O cão hoje conhecido como Bulldog inglês é, na realidade, uma distorção criada a partir de 1860, baseados no que um grupo de pessoas "achava" que era a conformação ideal de um bullbaiter. Nenhuma pintura que represente o bullbaiting mostra um animal com as deformações do moderno Bulldog, mas sim cães bastante semelhantes ao Pit Bull.
O segundo significado, muito mais antigo, é um termo funcional: qualquer cão capaz de ser efetivamente utilizado como bullbaiter. Esta é a definição que nos interessa.
Dentro desta conotação, eram Bulldogs:
- Na Inglaterra, o Bulldog propriamente dito, que evoluiu para o moderno Pit Bull;
- Na Alemanha, o mastim bullenbeisser, que resultou no boxer;
- Nas Ilhas Canárias, o bardino majero, ancestral do presa canário.
Seja qual for a definição, é aceito que o Bulldog derivou dos mastiffs. A primeira referência explícita ao Bulldog que se tem notícia, segundo Randal e Hélio Ferreira, foi feita em 1631 por um sujeito chamado Prestwich Eaton. Em uma carta para George Willingham, solicita claramente "um bom mastiff e dois bons Bulldogs". Tem-se hoje como certo que o Bulldog foi aos poucos sendo selecionado dentre os mastiffs de menor porte e maior agilidade.
Outro possível ancestral do Bulldog é o alaunt. Esta raça foi descrita no livro Master of Game, do II Duque de York, em torno de 1410. Foram descritas três variedades: alaunt gentle, alaunt veutreres e alaunt of the butcheries, sendo realçada a aptidão para bullbaiting dos dois últimos. O primeiro se assemelhava a um grande grayhound. Acredita-se que tenha origem na China e tenha chegado à Europa junto com migrações de povos como os hunos e os álanos, no início da era cristã. Esta tese é reforçada por um livro chinês chamado Book of Odes, de 600 A.C. As descrições de duas raças neste livro (shan e shejo), tanto física quanto funcionalmente, são iguais às dos alaunt do Duque de York 2000 anos depois.
É possível que os mastins tenham tais cães como ancestrais. O que parece é que, sob a classificação de alaunt, estavam todos os cães de trabalho de então: os grandes cães de caça, os mastins e os Bulldogs.

O DECLÍNIO

No início das lutas de cães, o Bulldog ainda era o cão mais utilizado pelos baiters. Não demorou muito para os organizadores das rinhas percebessem que, embora o pesado Bulldog, com seus 35-45kg, fosse um excelente combatente contra touros, um cão mais leve e ágil seria mais apropriado para as lutas de cães.
Um dado interessante que explica a grande diversidade de características físicas desses cães é o segredo mantido pelos criadores do século XIX acerca de seus métodos de criação. Mesmo quando registrados em papel, o que era raro, os pedigrees não eram divulgados, por receio de que os rivais descobrissem o segredo do sucesso e pudessem replicá-lo.
Em todo caso, em meados do século XIX os bull-and-terrier já tinham adquirido todas as características apreciadas nos dias de hoje: capacidade atlética, gameness incomparável e temperamento afável.
O estabelecimento da raça na Inglaterra
Embora criado num passado recente e razoavelmente documentado, a origem do Pit Bull é um pouco nebulosa e se divide, basicamente, em duas vertentes, ambas defendidas por autores de renome: O Pit Bull é exatamente o antigo Bulldog
Esta tese é suportada por autores como Richard Stratton e Diane Jessup. Para eles, não existe nenhuma característica no Pit Bull que justifique sua origem em um terrier. Embora possa ter ocorrido alguma introdução de sangue terrier no século passado, isso não foi de forma alguma significativo. O cão que é uma evolução do bull-and-terrier (cruzamento do Bulldog com game terriers) é o moderno bull terrier.
A chegada à América
Como visto, os ancestrais imediatos do Pit Bull foram os pit fighting dogs importados da Irlanda e Inglaterra a partir de meados do século XIX. A literatura médica veterinária mostra que, na América, a raça começou a divergir ligeiramente do que estava sendo produzido naqueles países de origem. Os cães não foram utilizados apenas para rinhas, mas também como catch dogs – presa de gado e porcos desgarrados – e como guardas da propriedade e da família. Daí começaram a ser selecionados cães de maior porte, mas esse ganho de peso não foi muito significativo até cerca de 20 anos atrás.
Nas mãos dos criadores americanos, o Pit Bull se popularizou a ponto de ser símbolo dos Estados Unidos na 1ª Guerra Mundial. Homens como Louis Colby, cuja família mantém até hoje uma tradição de 109 anos, C.Z. Bennet, fundador do United Kennel Club (UKC) e Guy McCord, fundador da American Dog Breeders Association (ADBA), foram fundamentais na consolidação da raça.
Sua popularidade atingiu o auge na década de 30, quando o seriado infantil Little Rascals era estrelado por Pete, um Pit Bull: era o cachorro favorito de 10 entre 10 crianças americanas. Esta projeção levou finalmente o American Kennel Club (AKC), após anos de pressão a reconhecer o Pit Bull com o nome de staffordshire terrier, para diferenciá-lo dos cães voltados para rinhas. Este cão é hoje o american staffordshire terrier, tendo o "american" sido acrescido ao nome original em 1972 para evitar confusão com o staffordshire bull terrier.


ROTTWEILER

Má criação criam uma imagem errada da raça


Os cães da raça Rottweiler se tornaram muito comuns em nosso país a partir dos anos 90 por sua habilidade como cão de guarda. Após o “boom” de anos atrás o Rottweiler o qual pouco se ouvia falar se popularizou rapidamente no Brasil, porém ainda há muitos aspectos sobre a raça desconhecidos, informações errôneas, e a má criação de alguns exemplares do cão, fazem com que as pessoas criem uma imagem errada da raça Rottweiler.
Todas essas estórias sobre a raça Rottweiler quanto a sua agressividade, de acordo com os dois veterinários goianos, são reflexo de sua criação. Por ser uma raça muito leal, corajoso e dominador, em especial o macho, o Rottweiler não é um cão para qualquer dono. Esta raça é o “reflexo de seu dono” e nunca deve ser criado de maneira brutal ou poderá se tornar perigoso.
Randal explica que, para alguns, este cão, tipicamente alemão, descenderia do Boiadeiro bávaro. Para outros, ele seria proveniente dos Malossos introduzidos na Alemanha por ocasião das invasões romanas. “Já na Idade Média, na cidade de Rottweil, em Würtembergm este cão poderoso e corajoso guardava os rebanhos e defendia vendedores de gado contra os bandidos. A grande preocupação dos açougueiros adotou-o e isto fez com que ele fosse denominado de ‘cão de açougueiro’”, revela o veterinário.
O Rottweiler, de acordo com os médicos goianos, é um cachorro leal e afeiçoado a sua família, paciente com crianças, desde que seja criado junto com elas, e uma boa companhia, além disto, “a raça Rottweiler é muito inteligente e obediente, tem um grande potencial para diversas funções como cão policial e cão de guarda. Trata-se de um cachorro equilibrado que possui um forte instinto territorial, é tranquilo, resistente, robusto e dedicado a sua família, o amadurecimento psíquico do rottweiler só ocorre depois dos dois anos de idade”.

O Rottweiler só chegou ao Brasil provavelmente na década de 70, no Estado do Rio de Janeiro. Posteriormente, foi se espalhando pelo país, sendo que hoje, os mais importantes centros de criação situam-se nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. A região nordeste tem crescido muito em qualidade nos últimos tempos. Crescente também tem sido o número de filhotes de Rottweiler que nascem todos os anos no Brasil. 





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