quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Senadora pede a ministro da Justiça segurança nas eleições em RO

Brasília (Mara Paraguassu/Assessoria) - Depois das denúncias de ameaças feitas a candidatos do PT em Rondônia, a senadora Fátima Cleide(PT-RO) encaminhou ofício ontem(30) ao ministro Tarso Genro (Justiça) e também à direção da Polícia Federal solicitando providências para garantir “a integridade física e o acesso dos candidatos e eleitores durante o processo eleitoral” em cinco municípios. 
Segundo a senadora, em Cujubim, Vale do Anari, Teixeiropólis, Cacoal e Ouro Preto, municípios em que o PT tem candidatura própria a prefeito, várias ocorrências de ameaças, agressões e assassinatos foram registradas nos últimos dias, quando intensifica-se a campanha eleitoral. As eleições ocorrem daqui a três dias. 
Fátima cita especificamente, no documento, a ameaça sofrida pelo padre Franco, candidato do município de Cacoal. Ele recebeu cartas anônimas com ameaças de morte e ultimato para abandonar a candidatura antes das eleições. 
Ela informa ao ministro Tarso Genro que encaminhou ao presidente do Tribunal Regional eleitoral de Rondônia documento no qual manifesta preocupação com o processo democrático e pede reforço de policiamento nos municípios citados. 
Nos municípios de Cujubim, Vale do Anari e Teixeiropolis, os prefeitos João Becker, João Alves e Toninho Zotesso, respectivamente, tentam a reeleição. Em Ouro Preto, a advogada Sonia Arrabal disputa a prefeitura com candidato apoiado pelo governador, e com o ex-prefeito Irandir.

EscutaZé!

Décadence sans élégance


O "cordato" Geraldo Alckmin passou a criticar abertamente seu adversário Gilberto Kassab nesta reta final das eleições para prefeito de São Paulo.
Perdeu uma boa oportunidade de ficar quieto e perder a eleição sem perder a pose.
Mas não se surpreendam meus poucos mas bons leitores se, em breve, ambos estiverem abraçados novamente.
Em política isso é muito comum. Na luta pela sobrevivência, os inimigos de hoje tornam-se facilmente os aliados de amanhã.
Nestas eleições, Alckmin foi "cristianizado" pelo PSDB e pelo governador José Serra - a quem, aliás, obrigou a assumir uma atitude dúbia perante o eleitor comum.
Tenho uma tia, eleitora histórica do governador, que não vai mais votar nele por causa dessa sua atitude de "ficar com um pé em cada canoa", como reclamou.
Mas voltemos à "cristianização", termo criado nas eleições de 1950.
O extinto PSD lançou Cristiano Machado como candidato próprio às eleições presidenciais. Depois, porém, abandonou-o à própria sorte e aderiu à candidatura de Getúlio Vargas. 
Surgiu aí, portanto, o neologismo "cristianizar", que tão bem se aplica à atual situação de Alckmin.
Experiente que é, entretanto, o ex-governador sabe que, como dizia Leonel Brizola, política é a arte de engolir sapos - barbudos ou não.
Perdeu um pouco a elegância nesta reta final da campanha, mas se não trabalhar a favor, também não será ostensivamente contra Kassab no segundo turno.
Nos anos em que frequentei os bastidores da política, vi muitos exemplos desse tipo. Um deles, especialmente para mim, foi marcante.
Na época em que Paulo Maluf era governador do Estado, um de seus maiores opositores era o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, o deputado Luiz Carlos Santos, do PMDB.
Em uma conversa informal, o deputado chegou a culpar Maluf por um enfarte que teve em meio à tensão política que existia entre o Executivo e o Legislativo paulistas.
Anos depois, qual não foi minha surpresa ao ver o mesmo Luiz Carlos Santos como candidato a vice-governador na chapa de Maluf.
De certa maneira, Orestes Quércia e José Serra, inimigos políticos figadais no passado, agora estão juntos em torno de Kassab - Alda Marco Antônio, candidata a vice de Kassab, foi indicada pessoalmente por Quércia.
O caso mais emblemático, sem dúvida, foi a união de Ulysses Guimarães, presidente do partido que combatia a ditadura, unido a José Sarney, presidente do partido que dava sustentação política à ditadura.
Rompimentos, reconciliações, cristianizações...são coisas da política que se repetem ao longo dos anos. 
Anotem aí: nesta eleição, o "cristianizado" foi Geraldo Alckmin. Na próxima, em 2010, será Dilma Roussef. (Extraído do 
Blog semanal de José Luiz Teixeira)

Eleições 2008

Eleições sem graça

Mário Prata*

As eleições, para mim, perderam a graça. Tudo por culpa do modernismo eletrônico e da televisão.
Em primeiro lugar, não se fazem mais comícios como antigamente. Em praça pública. No palanque da praça central. Na minha cidade, tinha um palanque que era fixo. Ali ficavam as autoridades nos desfiles cívicos e militares. Ali, cantores do rádio vinham encantar a gente.
E, nas eleições, era dali que a gente via o Adhemar de Barros gritar: "Enquanto eu estou aqui, a minha mulher está na zona de Jaú". Ou o Jânio que passava pela cidade no último vagão da Noroeste do Brasil, tirava um sanduíche do bolso e mandava bala.
Como gritavam os políticos d'antanho. Tinha cidade onde o alto falante nem sempre funcionava. Chiava. O jeito era ir no grito, no peito e na raça. Ainda hoje em dia, vendo os velhos políticos, noto que eles não perceberam que os microfones funcionam e continuam a gritar como se estivessem na década de 40 ou 50. 
Mesmo na televisão, eles agem como se estivessem nas públicas praças.
Agora tem o horário político. Devo confessar que adoro. Principalmente os candidatos a vereadores. De tão hilários, deveriam ter mais espaço na telinha. Um deles, lá de Sorocaba, travesti, dizia: "Não preciso do seu voto. Minha clientela me elege". E dava o ponto na rua tal, esquina com tal. Adoraria ver a bicha num palanque rodando a baiana e apontando os seus clientes na platéia.
O horário político foi feito para eles entrarem nas nossas casas. Mas não entram, só espiam.
Depois inventaram as carretas, as passeatas, os panelaços e outras palhaçadas. Você vê o seu candidato passando correndo pela sua rua. A impressão é que eles estão correndo para outro bairro.
Depois, tem a mala direta. Não sei onde esses caras arrumam o endereço da gente. Mas todo dia chegava de dois a três envelopes, cheios de santinhos. Pelo menos é bom para rascunho. E os erros de português, que maravilha. Tinha um que começava assim: "fazem oito anos que"... Ou seja, não dá para ler até o fim.
Mas o mundo mudou e a lusitana continuou a girar. Tudo bem, sejamos modernos. Mas, depois chega a apuração. Era aqui que eu queria chegar.
Com essa coisa de querer fazer apuração de primeiro mundo, perdemos a graça do nosso maravilhoso terceiro mundo. Urna eletrônica. Todo mundo aplaudiu e é mesmo gostoso apertar aqueles botõezinhos e pronto. Foi um sucesso. Monteiro Lobato, Elis Regina, Machado de Assis e Grande Otelo foram exumados, sem autorização das famílias e voltaram às nossas telas.
Mas o mais grave de tudo, foi a rapidez da apuração. Perdeu a graça, gente. Tinha coisa melhor do que você ficar em casa diante do rádio ouvindo aquelas intermináveis apurações, com papelzinho e lápis na mão, anotando tudo? Dias e mais dias, noites, madrugas, torcendo, anotando, como se fosse uma classificação do brasileiro de futebol. Fulano crescendo, beltrano caindo nas apurações da zona leste, por exemplo.
Nas suas casas e diretórios, os candidatos também sofrendo, torcendo, fazendo contas impossíveis. Durava mais de uma semana o lúdico sofrimento. Era bom demais. Agora, não. Quatro ou cinco horas depois, já se sabe quem ganhou. Qual é a graça? Onde fica o espírito de competição, o espírito esportivo? Antigamente uma eleição era decidida em dias, semanas. A gente sofria, torcia, apostava. Agora ficou uma caca.
Tinha subornos, sacanagens, votos preenchidos pelos próprios mesários. Protestos, processos, denúncias. Agora, não. Está tudo certinho. Parece com os Estados Unidos. É isso que eles queriam. Um dia, por engano, ainda vamos eleger o Clinton. Ou não será por engano?
Sei que, dentro de alguns anos, não vamos nem precisar ir até ao colégio para votar. Vamos votar de casa mesmo, através da internet. Mas quer coisa mais gostoso do que sair de casa, entrar pra votar, pegar uma filinha, encontrar amigos, tomar uma cervejinha em casa depois? Será que vai ter boca de urna dentro da casa da gente? Os lixeiros vão adorar, é claro.
É por essas e outras que o FH se alia ao Maluf, seu velho inimigo na época da ditadura. Que vergonha, meu Deus. Não temos mais eleições, nem apuração e nem Partidos mais no Brasil. Os Partidos estão irremediavelmente partidos. Tudo é luta pelo poder. Aliás, a esquerda velha sempre gostou de um cargo. E, quando consegue, não quer largar.
Pior que uma eleição se primeiro mundo, só mesmo uma reeleição de terceiro mundo. O Fujimore entende dessas coisas.
Tecnicamente pra frente. Politicamente pra trás.
Dá pra rir? Dá. 
A eleição brasileira acaba de entrar na menopausa.


*Crônica publicada no "Estado de S.Paulo", em 1988, e extraída do site www.marioprataonline.com.br


Tv em Questão

TELENOVELA E VIDA REAL

A desgraça que todo mundo vê

* Samira Moratti

Qual a diferença entre o que é retratado nas novelas e o que ocorre na vida real? Muitos irão dizer que novela e vida real são distintas, uma vez que na novela a história contada é ficção, enquanto que as diversas "histórias" contadas nos telejornais são fatos concretos. Outros, porém, dirão que muitas novelas já retrataram fatos ocorridos na realidade e que, mesmo sendo ficcional, muitos desses fatos relembram acontecimentos na vida de qualquer ser humano. As novelas sempre foram sucesso na vida das pessoas, seja para entretenimento puro e simples depois de um dia estafante de trabalho, seja para acompanhá-las com "seriedade" (já que muitas pessoas transformaram o hábito de ver novelas em parte de sua vivência).
O que se deve atentar, no entanto, é que além de existirem na sociedade os "acompanhantes profissionais" de novelas – e aqui o público não se restringe somente às donas-de-casa, como comumente se imagina –, também há aquelas pessoas que vêem algumas cenas por dia, sem acompanhar fielmente, com a desculpa de que a novela os eleva a outro patamar, tirando-os do sufoco diário, do estresse e dos problemas vividos no cotidiano. Contudo, uma questão é pertinente: qual a diferença entre as desgraças vividas na novela, e as desgraças vividas no cotidiano real?

Certas "desgraças" previsíveis

De acordo Inimá Simões no livro A nossa TV brasileira, publicado pelo Senac São Paulo Editora, desde a década de 1960 a novela se concretizou como programa de entretenimento. Com a veiculação de O Direito de Nascer, na TV Tupi, os brasileiros apaixonaram-se pelo vício de acompanhar a vida do outro, seus pensamentos e vivências. Parafraseando o autor: "Os empresários tomam consciência então de que a telenovela cria hábitos – o que era impossível antes de sua transmissão diária – e sua audiência elevada, somada à mobilização popular, implica a majoração dos preços dos intervalos comerciais, com resultados óbvios." Ou seja, além de entreter o público, a novela surge, então, com o poder soberano de gerar lucro tanto às emissoras que as veiculam quanto aos patrocinadores que utilizam seus intervalos para divulgar produtos.
O hábito de acompanhar capítulo por capítulo das novelas é bem antigo e rende sucesso. Basta verificar a quantidade de novelas existentes, nas mais variadas emissoras, principalmente na Rede Globo, que tem como carro-chefe, entre outras atrações, as telenovelas. Sejam reprises ou novas tramas, o brasileiro – homem ou mulher, criança ou idoso – acaba por também inserir tal programa em sua lista de entretenimento.
Todavia, retornando à questão levantada no início deste artigo, o que não se entende é o porquê das desgraças apontadas nas dramaturgias renderem audiência. Uma das explicações seria pelo fato de se tratar de ficção, mas o leitor deve atentar que além de fatos inusitados, as novelas retratam dramas possíveis de serem realizados, seja uma traição – entre companheiro de relacionamento, trabalho ou amizade –, seja um acidente etc. Acompanhando os capítulos das telenovelas Malhação, Ciranda de Pedra e Três irmãs, todas exibidas na Rede Globo, especificamente no dia 23 de setembro, constatou-se a existência de certas "desgraças" descritas a seguir.

Ver tragédias sem refletir

Em Malhação, a irmã "má" de Angelina (Sophie Charlotte), Débora (Nathalia Dill), seqüestra o sobrinho, levando-o para um passeio sem a autorização da mãe. Presume-se, e eis que ocorre que, no decorrer do capítulo, Angelina descobre o fato e se apavora com a situação; em Ciranda de Pedra, as irmãs Otávia e Virgínia questionam o pai, o poderoso advogado Natércio (Daniel Dantas), sobre o paradeiro da mãe, Laura (Ana Paula Arósio), internada secretamente, contra a vontade, em uma casa de repouso. No local, Laura vive "o pão que o diabo amassou" nas mãos de Frau Herta (Ana Beatriz Nogueira), governanta da casa da família que, por inveja, sonha em ocupar o lugar da patroa; Já em Três irmãs, Waldete (Regina Duarte) é contratada misteriosamente como governanta de Violeta (Vera Holtz), sua inimiga. O feito se dá, aparentemente, devido a uma chantagem, já que Waldete sabe demais sobre a vida de Violeta.
Enfim, após breve resumo dos capítulos, o que se percebe são tramas conturbadas, onde o ódio e injustiça imperam. O que isso traz de benefício a um cidadão que resolve optar por ver uma novela ao invés do telejornal, uma vez que este último retrata "muitas desgraças reais"? Por que é mais ameno visualizar a desgraça do outro, mesmo sendo ficção, do que as reais? E ainda, de que adianta apenas ver tragédias pessoais retratadas nos telejornais, sem indagar ou refletir a respeito?

Alienação no Brasil

O contraditório é que fatos como o caso Isabella Nardoni, ocorrido este ano, provaram que, de certa forma, tragédias reais também podem se transformar em novelas, ou em motivação. A cobertura jornalística do caso, feita por diversos jornais, revistas, emissoras de TV e rádio, foi acompanhada por milhares de brasileiros. Alguns organizaram movimentos em prol da prisão dos suspeitos de assassinar a menina. Já alguns dramas ficcionais, como a atual novela das oito da Rede Globo, A Favorita, não cativaram o público, seja pelo enredo previsível, seja pelo desenlace do mistério antes do tempo – de que Flora, personagem interpretada pela atriz Patrícia Pillar, era a verdadeira vilã da história.
O que dá a entender é que as desgraças da vida real só são "consumidas" pelos telespectadores caso virem enredo de novelas. Isso só aumenta a sensação de que é mais prazeroso criticar, comentar e refletir sobre o capítulo do dia anterior, do que um acidente, um plano de governo mal-sucedido ou injustiças cometidas nas áreas da saúde e educação, por exemplo. Também mostra que revistas semanais de fofocas ou que abordam os capítulos de novelas são mais lidas do que jornais impressos ou revistas que abordem temas relevantes para a convivência em sociedade. Enfim, eis uma breve análise sobre parte da sociedade atual: mais um capítulo da novela Alienação no Brasil.


*Estudante de Jornalismo, Faculdade Estácio de Sá, Florianópolis, SC