terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Circo da Notícia

AUTOR & LEITOR


Isto também faz parte da notícia

Por Carlos Brickmann em 17/2/2009


Trata-se de um colunista importante, de um jornal importante. Um leitor lhe escreveu, educadamente, para expor sua opinião contrária à do jornalista a respeito da acumulação de reservas pelo Banco Central. O colunista criticava o volume das reservas; o leitor dizia que, agora (em função da crise econômica), se constatou que a acumulação de divisas valeu a pena. E elogiava, de passagem, a seriedade da equipe do Banco Central, criticada habitualmente pelo colunista.

A resposta veio duríssima: na opinião do jornalista, as reservas eram desnecessárias e caras. "E estúpidas, como as ratazanas neoliberais que infestam o BC". A opinião sobre as reservas, concorde-se ou não com ela, é prerrogativa do colunista; ele tem direito a achar o que quiser, e a dizer o que acha. Mas o insulto aos profissionais do BC, mesmo em carta privada, exigiria uma argumentação muito mais sólida do que o simples xingamento.

O leitor voltou a escrever, dizendo que a resposta o impressionara, por demonstrar falta de isenção e, em vez de avaliar os resultados da política do Banco Central, rotular seus profissionais "de forma leviana e preconceituosa".

O colunista voltou à carga, dizendo que o leitor certamente não era jornalista. Se fosse, estaria morrendo de dar risada com essa "isenção".

O jornalista deve ser honesto, deve buscar as várias faces da história. Dificilmente, embora sua tarefa seja procurar a isenção, conseguirá ser isento (tem opiniões, tem formação, tem idiossincrasias). Mas daí a dar risada da isenção vai uma enorme distância. E um jornalista, acima de tudo, deve evitar a burrice: por que agredir um leitor que lhe propõe civilizadamente uma troca de idéias?



Cadê a carne?

E onde é que o colunista foi buscar as informações acima? A resposta segue no padrão habitual dos meios de comunicação, hoje em dia: teve acesso a elas.



Lemos, adeus

João Baptista Lemos, 82 anos, 63 de jornalismo, morreu agora em fevereiro. Uma das lendas vivas da profissão, Lemos começou a trabalhar na imprensa comunista, logo depois da Segunda Guerra Mundial. Parou por uns tempos e foi jogar futebol no Radium de Mococa – que, em São Paulo, tinha a fama de pior time do estado. Goleiro é profissão difícil até em Seleção; no Radium, era impossível. Voltou então a São Paulo e ao jornalismo. Foi um dos redatores-chefes do lendário Grande Jornal Falado Tupi, dirigiu o jornalismo da TV Excelsior, foi chefe de Reportagem da Folha de S.Paulo, passou um longo tempo no grande Jornal do Brasil. Criou várias gerações de jornalistas (entre eles, por exemplo, José Nêumanne Pinto). Lemos deixou seis filhas, doze netos, uma bisneta.



Para ir atrás

Luís Nassif, em seu blog, dá pistas sobre alguns brasileiros que perderam dinheiro no Caso Madoff:

"O diretor de CRM de um grande portal, por exemplo, perdeu US$ 3.015.431,98 com Zeus-Madoff. Um ex-dirigente do Banco Santos tinha US$ 1.073.435,35 em sua conta. O diretor executivo de TI de uma empresa média de informática tinha fabulosos US$ 13.270.567,51. E uma funcionária de TI da Secretaria da Fazenda de São Paulo US$ 565.129,15."

É visível que Nassif sabe do que está falando, mas não tem como, neste momento, conseguir documentação sobre os casos. Cabe aos meios de comunicação, com equipes de reportagem e amplos recursos, ir atrás do tema e desvelar o que for possível. Será complicado: gente que tem esse volume de dinheiro aplicado no exterior tem também influência e conhecimentos, e fará tudo para impedir que suas histórias sejam divulgadas. Além disso, é muito provável que boa parte das aplicações não tenha sido declarada – outra confusão. Mais uma confusão? Uma funcionária pública, ou terceirizada, cheia de dinheiro – de onde saiu? Mas é um assunto que não pode ser jogado para debaixo do tapete.



O mundo como ele é

Marcos Hummel, grande jornalista, um dos melhores apresentadores de nossa TV, traz-nos uma história real, que mostra como os fatos podem ser apresentados das mais diversas maneiras.

Judy Wallman, pesquisadora americana de genealogia, montou sua árvore genealógica, e descobriu que seu tio-bisavô Remus Reid era também ancestral do senador Harry Reid, democrata de Nevada. O parente comum tinha sido condenado e enforcado por roubo de cavalos em Montana, em 1889. A única foto disponível de Remus Reid era a de seu enforcamento. No verso da foto, a inscrição:

"Remus Reid, ladrão de cavalos, preso na prisão do Território de Montana em 1885, fugiu em 1887, roubou o trem Montana Flyer por seis vezes. Localizado e preso por detetives da Agência Pinkerton, foi condenado e enforcado em 1889".

Judy Wallman enviou e-mail ao senador Harry Reid pedindo informações sobre o parente comum, sem mencionar o que havia descoberto. Recebeu a seguinte mensagem:

"Remus Reid foi um famoso vaqueiro no Território de Montana. Seu império comercial cresceu a ponto de incluir a aquisição de valiosos exemplares de cavalos de raça, bem como um íntimo e profícuo relacionamento com a Ferrovia de Montana. A partir de 1883 dedicou vários anos de sua vida ao serviço do governo estadual. Depois disso, licenciou-se para reiniciar seu relacionamento com a Ferrovia. Em 1887, foi o elemento fundamental em grande investigação conduzida pela famosa Agência de Detetives Pinkerton. Em 1889 veio a falecer durante importante cerimônia cívica realizada em sua homenagem, quando a plataforma sobre a qual estava cedeu logo após seu discurso."



Quando o governo acerta

É uma regra não-escrita, mas real: deve-se evitar ao máximo falar bem de governos, nos meios de comunicação. Há outra regra não-escrita, tão real quanto a primeira: notícia só é notícia quando ocorre na capital. Fora da capital, só se for mesmo uma notícia muito, muito ruim, tragédia pra ninguém botar defeito.

Talvez isso explique porque uma excelente notícia, por todos os pontos de vista, foi minimizada pela grande imprensa: porque mostra que uma boa administração, de uma cidade que não é capital (embora tenha o melhor Índice de Desenvolvimento Humano do país), pode resolver problemas que, na maior parte do Brasil, ainda são crônicos.

A cidade é São Caetano do Sul, na Grande São Paulo; seu prefeito, José Auricchio, do PTB, se reelegeu com quase 80% dos votos válidos, em grande parte por ter colocado a saúde pública para funcionar. A notícia: o sistema de saúde do município oferece cirurgia de redução do estômago para pessoas com obesidade mórbida, tudo de graça (em serviços particulares, só o médico cobra mais de R$ 10 mil, a que se acrescem auxiliar, anestesista, remédios e hospital).

A cirurgia de estômago gratuita não é para todos: apenas para quem corre risco de vida pelo excesso de peso. Quem quiser operar-se por questões estéticas não será atendido. O tratamento não se limita à operação: o paciente é acompanhado por uma equipe multidisciplinar, com médico, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, até que adquira novos hábitos de vida. E não é preciso pedir, nem esperar: a porta de entrada do sistema, a UBS, Unidade Básica de Saúde, pode indicar a operação mesmo a pessoas que não saibam que a oportunidade existe, desde que seja o caso de cirurgia.

E a grande imprensa? Parece mais preocupada em saber quem vai para qual partido. Deve haver boas notícias desse tipo pelo país afora que a gente não fica sabendo, porque os meios de comunicação não se preocupam com elas. Quem se importa com a vida e a morte dos consumidores de notícias?



Como...

A notícia sobre o assassínio da amante de um cavalheiro saiu num jornal importante (e é um colar de pedras preciosas):

"Segundo o delegado, o suspeito se mostrou arrependido do que fez (...) Apesar disso, o suspeito foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil (...) O corpo da vítima ficou cinco dias no freezer sem que ninguém percebesse, embora várias pessoas tenham participado de um culto evangélico na casa".

1. "O suspeito se mostrou arrependido do que fez" – ou seja, ele mesmo já informou que não é suspeito, é o autor.

2. "Apesar disso, o suspeito foi indiciado (...)" – que coisa terrível! Mesmo estando arrependido, só porque matou a amante foi indiciado!

3. O que é que tem a ver o culto evangélico na casa com o corpo no freezer?



...é...


De um portal noticioso ligado a um grande jornal:

** "Eutanásia: médico diz que italiana está `ótima´"

Trata-se do caso Eluana, na Itália, em que a Justiça autorizou os médicos a desligar as máquinas que mantinham a moça viva, em estado vegetativo, há 17 anos. O título foi dado pouco antes da morte de Eluana.



...mesmo?

De um grande jornal, respeitado em todo o país:

** "Ex-espião russo aposta: EUA vão se desintegrar"

Logo abaixo, o subtítulo:

** "Confira a teoria de Igor Panarin, que previu colapso da Rússia em 1998"

Previsão assim não deve ser difícil, considerando-se que a União Soviética se desfez em 1989.



E eu com isso?

O caro colega fica se preocupando com coisas bobas – por exemplo, como é que um sujeito que só fala espanhol fica preso sete meses numa cadeia de São Paulo, dizendo que é mineiro, e os carcereiros acreditam – enquanto há fatos muito mais palpitantes acontecendo no mundo. Um bom exemplo:

** "Rua ganha nome de `Bulevar Consolo´após moradores encontrarem vibradores"

É o "Dildo Boulevard", em Darwin, na Austrália. E não é apelido, não: parece que a mudança de nome é oficial.

** "Luciano Huck, Angélica e filhos flagrados em Angra"

Que estariam fazendo para motivar o flagrante?

** "Taís Araújo passeia com os pais em shopping"

** "Reynaldo Gianecchini e Marcos Mion curtem balada juntos"

E não é nada do que você está pensando, caro colega. Já pensou que tremenda notícia, se isso que está em sua cabeça maliciosa fosse verdade?

** "Beyoncé vai a evento beneficente sem fazer as unhas"

** "Tailândia promove primeira corrida internacional de camas"



O grande título

Ah, a pressão do espaço! É isso que provoca títulos como este:

** "Viúva da Mega-Sena presta depoimento"

Ou este:

** "Viúva do 11 de Setembro está entre as vítimas"

Lembrando certa campanha eleitoral, das mais rumorosas, o 11 de Setembro e a Mega-Sena tinham filhos? Eram casados?

Ah, a pressão do tempo! É isso que provoca títulos como este:

** "Polícia vai investigar de queda de elevador em SP"


Ou como este, o grande título da semana:

** "Nossa Caixa R$ 4 bi a compra de usados"

Legal! Isso quer dizer que há mais crédito? Que o crédito foi reduzido? Que os preços baixaram? Que os preços subiram?

* O autor é Jornalista, diretor da Brickmann&Associados

Governo do Estado faz diagnóstico da área social de Rondônia

O Governo do Estado está fazendo um diagnóstico da área social em todo estado de Rondônia. O levantamento é coordenado pela secretária de Assistência Social do Estado, Tânia Pires, que para realizar o trabalho visitará todos os municípios rondonienses. Ela já esteve em Ji-Paraná, Ariquemes, Monte Negro, Nova Mamoré e Guajará-Mirim.
Durante a estada em cada cidade, a titular da Seas se reúne com o secretário da área social, mantém audiência com o prefeito ou com o seu vice, caso seja necessário, além da primeira-dama do Município, quando a mesma participa da administração.
“Um atendimento eficaz à população resulta de atuação articulada entre as três esferas: municipal, estadual e federal em parceria com a sociedade civil”, acredita Tânia Pires, que acaba de tomar outra providência inovadora com o objetivo de expandir o raio de atuação da pasta pela qual responde. “Em cada município pólo a Seas terá um representante”.
Questionada sobre a agenda que está cumprindo no Estado, justifica que o diálogo pessoalmente com os gestores municipais é relevante porque estreita as parcerias. “Cada secretário deve saber o mapa da sua área de atuação porque atuamos tecnicamente”, defende Tânia Pires, que sempre está acompanhada pela sua assessoria técnica.
Além de participar de reuniões com os representantes do poder público municipal, a secretária visita associações, entidades filantrópicas, entre outras instituições que atuam na assistência social.
A iniciativa do Governo do Estado em fortalecer as parcerias com as prefeituras registra um saldo positivo. A secretária de Nova Mamoré Mairla Brasileiro Abreu, por exemplo, está entusiasmada com a proposta. “Antes nós sentíamos a ausência do Estado nas nossas ações, agora estamos muito confiantes,” comemora.
“Esse nosso trabalho integra a pauta que o governador Ivo Cassol estabeleceu, visando o bem - estar da população rondoniense” esclarece a titular da Seas. Nessa missão, ela conta com o apoio da primeira – dama do Estado, Ivone Cassol, que além de presidir a União dos Voluntários do Estado de Rondônia, coordena importantes ações de cunho social do Governo do Estado.




JARBAS NA VEJA

Muito barulho por nada

Por Luciano Martins Costa em 17/2/2009

Comentário para o programa radiofônico do OI, 17/2/2009

O senador pernambucano Jarbas Vasconcelos volta às páginas da imprensa, mas se nega a dar nomes aos bois. Sua acusação de que o PMDB, seu próprio partido, busca o poder apenas para se beneficiar da corrupção, não causou o impacto que se poderia esperar. A cúpula do partido distribuiu nota oficial, de apenas cinco linhas, quase lacônica, dizendo que as críticas de Vasconcelos foram apenas um desabafo, e que não atingiram ninguém em especial.
O PMDB não assinou recibo, o acusador evita aprofundar as denúncias, mas parte da imprensa se movimentou.
O Estado de S.Paulo e o Globo fizeram um pequeno esforço de reportagem e trazem em suas páginas alguns nomes de peemedebistas com problemas na Justiça. Segundo o Globo, oito dos dezenove senadores do maior partido do país respondem a inquéritos ou ações penais no Supremo Tribunal Federal. Isso equivale a dizer que 40% dos senadores do partido com a maior bancada são investigados por crimes como corrupção, formação de quadrilha, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, compra de votos e sonegação fiscal.
O Globo completa o quadro sobre o PMDB observando que o partido vai controlar neste ano uma fatia de 151 bilhões de reais do queijo do orçamento federal.

Apenas uma declaração

O Estadão vai além, dizendo que dez dos dezenove senadores do PMDB, ou mais de 50% da bancada, incluindo os líderes do partido e do governo, respondem a processos ou são investigados. No total, observa o jornal paulista, foram encontrados nos arquivos do STF treze inquéritos, quatro ações penais e cinco investigações contra senadores peemedebistas.
Ou seja, se desejasse mesmo produzir mais do que uma mera declaração, o senador Jarbas Vasconcelos poderia orientar um de seus assessores a fazer o que fizeram os jornais – e apontar nomes. Mas ele sabe que não pode citar nenhum de seus colegas enquanto são apenas investigados ou estão sendo processados.
No entender do Supremo Tribunal Federal, todos eles são inocentes até que tenham esgotado todos os infinitos recursos que a lei coloca à disposição para quem pode se defender. Assim, na prática e sob o rigor da lei, nenhum dos oito ou dez senadores do PMDB é corrupto.
Portanto, a entrevista do senador Jarbas Vaconcelos à revista Veja continua sendo apenas uma declaração. Um factóide.

***

O jogo do faz de conta

Para produzir algum efeito, se realmente tem intenção de colocar sob controle os desmandos do Congresso Nacional e colaborar para reduzir o nível de corrupção, a imprensa precisa se aliar aos parlamentares com ficha limpa e questionar o constante adiamento de reformas que poderiam eliminar o mal pela raiz.
Como se sabe, tudo começa no registro eleitoral, e o Supremo Tribunal Federal decidiu, no ano passado, que cidadãos com ficha suja só podem ser impedidos de registrar candidatura a cargo eletivo depois de condenados definitivamente.
Se se trata, então, de alertar o eleitor para ter em mente os nomes de parlamentares suspeitos e negar a eles seu voto, a lista ainda está incompleta. Faltam os nomes dos deputados acusados ou processados. E não apenas do PMDB.

Só um factóide

O PMDB apenas se tornou o assunto da vez porque possui as maiores bancadas de parlamentares e o maior número de prefeitos. É uma força política definidora de eleições e não possui uma liderança nacional. Declarações genéricas contra integrantes do partido serão sempre colocadas na conta da disputa pela sucessão presidencial de 2010.
Se o senador Vasconcelos e a imprensa estivessem mesmo dispostos a colocar a nu a corrupção do Congresso, deveriam estender seus olhares para os demais partidos, e para a Câmara dos Deputados, onde brilham luminares como Edmar Moreira, o senhor do castelo, e outros suspeitos mais discretos.
Lembre-se o leitor que Edmar Moreira chegou a ser nomeado corregedor da Câmara dos Deputados. Quem o nomeou tinha claramente a intenção de garantir que a Corregedoria não iria funcionar.
Qualquer investigação séria sobre corrupção no Congresso deveria começar por aí. Declarações bombásticas, mas genéricas, apenas aumentam o descrédito da sociedade em relação ao Parlamento. Muito barulho por nada.

Artigo

Um ilustre refugiado político

Milton Hatoum/De São Paulo

Não visitava Brasília havia mais de trinta anos. Voltei para o Distrito Federal em 2002, convidado pelo Correio Braziliense para escrever um texto sobre o biênio 68/69, quando morei na Capital e fui estudante de um colégio de aplicação, o extinto CIEM.
Estava ansioso para rever os lugares que havia frequentado; a cidade, que na década de 60 suscitava medo e angústia, agora era um espaço de liberdade, sem os ameaçadores tanques do exército e viaturas policiais que circulavam nos Eixos, na estação rodoviária, na entrada do campus da Universidade de Brasília.
Antes de irmos para o hotel, meu amigo do Correio deu uma volta pelo Plano Piloto. Me lembrei do poema Brasília enigmática, de Nicolas Behr:
Brasília, faltam exatos 3.232 dias
para o nosso acerto de contas
me deves um poema
te devo um olhar terno
na beira do Paranoá pego um pedaço de pau
entre um pneu velho e um peixe morto
(uma garça por testemunha)
não me reconheces
não te reconheço.
Não me reconheces, não te reconheço. E então paramos diante do Lago Norte, de onde avistei a cidade que escondia sua periferia pobre: as outras cidades habitadas pelos filhos e netos de imigrantes que construíram a NOVACAP. Quase não reconheço a Brasília da década de 60, mas minha memória girava e dava cambalhotas e eu podia rever cenas de brutalidade e terror.
De longe, eu contemplava a Asa Norte quando notei, perto da beira do lago, uma figura sentada entre dois homens altos e fortes. Me aproximei da beira e olhei o ombro caído e a cabeçorra de um homem muito idoso. Um velho magro, sentado numa cadeira de rodas, contemplando um lago. Era um quadro quase sublime, um desses quadros que inspiram um poema sobre a decadência, o fim, a fugacidade de tudo. Perguntei ao meu amigo quem era aquele pobre ancião.
Você quer saber?
Claro, respondi.
É Alfredo Stroessner, nosso mais ilustre refugiado político, respondeu meu amigo.
Senti um calafrio. Pensava que era apenas um lance de humor do meu amigo. Mas não. Ali estava ele, o personagem em carne e osso, um dos ditadores mais sanguinários desta América.
Ele contemplava a água calma do lago, como se a superfície escura refletisse o passado glorioso do homem agora sentado, um passado encharcado de sangue e sofrimento. Sangue e sofrimento do povo paraguaio.
Antes de escrever esta crônica, li alguns artigos sobre a investigação dos crimes de Alfredo Stroessner, que governou seu país no período de 1954 a 1989. O relatório da Comissão de Verdade e Justiça, presidida pelo bispo católico Mario Medina é um inventário de atrocidades: 128 mil vítimas de perseguições, quase 20 mil registros de tortura e detenções arbitrárias, mais de 3 mil exílios forçados, além de centenas, talvez milhares de mortos e desaparecidos.
Lembrei da leitura de Yo el Supremo, de Augusto Roa Bastos, um dos mais importantes romances históricos da América Latina. A loucura feroz e homicida do ditador Gaspar Rodrígues de Francia só encontra paralelo no poder tirânico, absoluto e não menos homicida de Alfredo Stroessner. Yo el Supremo é ambientado na primeira metade do século 19, mas pode ser lido como se estivesse situado no longo e terrível governo de Stroessner, reeleito várias vezes presidente em eleições fraudadas pelo partido Colorado, que era um grotesco arremedo de uma agremiação política democrática. Por isso o livro de Roa Bastos foi proibido no Paraguai e na Argentina, quando esses dois países foram governados por ditadores.
O velho sentado numa cadeira de rodas pensava nos milhares de paraguaios assassinados, torturados, exilados? Nos índios e fazendeiros cujas terras foram usurpadas e doadas aos amigos do ditador? Ou pensava com nostalgia no tempo em que Ele, o Supremo, era o próprio Estado e seu aparelho repressivo? O Estado que, este sim, é o supremo terrorista da era moderna, capaz de assassinar deliberadamente crianças, mulheres e civis indefesos. Não por acaso os arquivos descobertos depois que Stroessner deixou o poder são conhecidos como "Os arquivos do terror".
Alfredo Stroessner contemplava todas as manhãs o Lago Norte. Ele morou quase 17 anos em Brasília, onde morreu no dia 16 de agosto de 2006. Não sei se dormia com sonhos nostálgicos do poder tirânico, ou se despertava com os gritos de homens e mulheres torturados pelos subordinados do ditador.
Aos leitores que desconheciam a longa e tranquila temporada desse ilustre senhor em Brasília, convém lembrar que, em 1989, o governo brasileiro concedeu abrigo político a Alfredo Stroessner. Não sei se isso aconteceu no governo Sarney ou Collor, mas isso tem alguma importância? Isso muda o nosso pendor à bondade e à política de boa vizinhança?


Milton Hatoum é escritor, autor dos romances Órfãos do Eldorado, Dois Irmãos, Relato de um Certo Oriente e Cinzas do Norte.

Expedito Júnior propõe melhoria para as viúvas

O senador Expedito Júnior (PR-RO) quer alterar a legislação da previdência social para trazer mais justiça às viúvas dos trabalhadores dos setores público e privado. Com esse objetivo apresentou o Projeto de Lei do Senado nº 3, de 2009, modificando a legislação do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) e do Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Federais da União, das Autarquias e Fundações Públicas Federais (RJU) quanto ao direito ao benefício da pensão por morte.
Atualmente, para as viúvas de trabalhadores do setor privado, a legislação que trata da pensão por morte assegura esse benefício a ela e aos demais dependentes dele, dividindo-a em cotas iguais. A base de cálculo é o total do valor da aposentadoria que o trabalhador recebia, ou a que deveria receber na data da morte se estivesse aposentado por invalidez.
Já para as viúvas de servidores públicos, os dispositivos constitucionais que tratam da pensão por morte impõem uma infelicidade: após a perda do ente querido, o texto constitucional determina uma diminuição do total da remuneração que serviria de base para o cálculo para a pensão, de 30% do valor da remuneração do trabalhador que superar o limite máximo estabelecido para os benefícios do RGPS. Há neste caso um evidente enfraquecimento do poder de compra da renda familiar.A injustiça que Expedito Júnior pretende corrigir, e que atinge as viúvas de trabalhadores do RGPS ou do RJU é que, se o instituidor da pensão pagava em vida pensão alimentícia para ex-cônjuge ou ex-companheira, estas passam a concorrer ao benefício previdenciário em igualdade de condições com a viúva, passando a existir uma inversão de valores sob a ótica da constituição familiar. “A proteção previdenciária é uma obrigação da União com relação ao trabalhador e a sua família. Neste caso, nós estamos diante de um enriquecimento indevido por parte de uma pessoa que, embora dependa da pensão alimentícia para o seu sustento, não pertence ao grupo familiar do instituidor da pensão”, defende o senador.
Na prática, se uma união conjugal sem filhos foi desfeita por separação do casal e o trabalhador resolveu constituir uma nova família com mais um filho, mas tendo sido obrigado a pagar, por exemplo, 15% dos seus rendimentos a título de pensão alimentícia à ex-cônjuge significa, no entendimento de Expedito Júnior, que a Justiça avaliou a situação e decidiu que os 15% são suficientes para o sustento da ex-cônjuge. Por outro lado, o restante dos rendimentos desse trabalhador (85%) passa a constituir a renda familiar para fazer frente a todos os demais compromissos financeiros dessa nova família (aluguel, alimentação, material escolar, mensalidade da escola). Mas se houver morte desse trabalhador, a legislação previdenciária atual impõe à viúva a injustiça de ter que dividir a sua renda familiar (agora na forma de pensão por morte) com uma pessoa que não é mais da família (a ex-cônjuge do falecido). Assim, neste exemplo, o rendimento da ex-cônjuge subiria de 15% para 25% se o trabalhador for do setor público, ou de 15% para 33% se for do setor privado, podendo chegar a 100% na falta da viúva e com a maioridade do filho.
O projeto aguarda análise da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado e receberá parecer terminativo na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), o que significa dizer que, se aprovado, irá direto para apreciação da Câmara dos Deputados sem precisar de votação no plenário do Senado Federal.

Jericódromo de Alto Paraíso conta com emenda de Fátima

A senadora Fátima Cleide (PT-RO) participou, no domingo (15), da 8ª Corrida Nacional de Jericos, em Alto Paraíso, um dos eventos que marcaram as festividades de aniversário de 17 anos do município.
Este ano, o evento contou com estrutura de palco recém-construída para abrigar os shows anualmente realizados, obra possível com emenda de R$ 100 mil indicada pela senadora Fátima ao orçamento da União. O deputado Anselmo de Jesus (PT-RO) e a prefeitura foram responsáveis pela articulação de outros R$ 129 mil, totalizando-se na obra R$ 229 mil.
O prefeito Romeu Reolin (PT do B) e os organizadores agradeceram a emenda articulada pela senadora, que possibilitou a execução do projeto. “Queremos melhorar cada vez mais a estrutura do Jericódromo, que passará a funcionar como um complexo turístico, utilizado fora da época das corridas”, disse o prefeito.
“A festa é importante para a população, se tornou uma referencia nacional, e por isso vimos prestigiá-la. Além do mais, é uma oportunidade de ouvir a população e conhecer suas reivindicações”, disse a senadora.