quinta-feira, 8 de agosto de 2013

VIÚVAS ASSISTIDAS


Associação atende mulheres

que perderam seus maridos

"As coisas mudam quando uma organização como o AEVB demonstra interesse pela vida vida solitária de uma viúva"


Antéro Sóter


Anápolis (GO) - A Associação Evangélica das Viúvas do Brasil, criada por Doralice Ferreira Ramos, após a morte do marido, presta, hoje, serviços sociais a cerca de 3.600 mil viúvas. A AEVB cresceu e hoje mantém núcleos em Caldas Novas, Goiânia, Nova Glória, em Goiás e em Palmas, Capital do Estado do Tocantins. Em Anápolis, cidade distante cerca de 55 quilômetros da Capital goiana, onde está a sede, a entidade funciona em um grande galpão cedido pela família de Dona Dorinha, localizado na Rua 14 de Julho, 409, Bairro Centro.
A ideia da criação da entidade, que hoje funciona paralelo ao Centro de Convivência e Apoio às Idosas, surgiu há mais de 15 anos, quando dona Dorinha, como prefere ser chamada, viu no sofrimento a oportunidade de ajudar outras mulheres. Fundou a Associação Evangélica das Viúvas e abriu espaço também para idosas. “Resolvemos ajudar também as idosas. Muitas ficam em casa, sozinhas, tristonhas, na depressão. Elas veem aqui e acham maravilhoso”, conta dona Dorinha.
A entidade, de acordo com Dona Dorinha, "não mede esforços para buscar ajuda para aquela viúva que a procura. Está sempre de portas abertas. Hoje mesmo (06/05), demos início à distribuição de 7 toneladas de arroz cedidas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas nosso apoio não se dá apenas na forma de fornecimento de alimentos. Uma aparece necessitando de medicamentos, atendimento médico, apoio material, espiritual e emocional", revela. O arroz cedido pela Conab vai atender, ao final, mais de 600 famílias.
A Associação das Viúvas do Brasil conta, inclusive, com uma ambulância. "A União das Voluntárias de Goiás (UVG) nos deu esta tem uns 13 anos e hoje ela está cheia de problemas, dando pane e às vezes prejudica o deslocamento para levar nossas associadas à Santa Casa, ao Hospital Evangélico e outras clínicas que colaboram conosco. Na realidade, estamos precisando de uma novinha".
MANUTENÇÃO
Para manter a entidade, Dona Dorinha mantém um bazar com as doações que chegam de parte da sociedade anapolina, além de realizar outros eventos, a exemplo  do "Tarde de Mulheres Apoiando Mulheres" que acontecerá no dia 21 de maio. "Será um grande evento reunindo cerca de 200 mulheres da nossa sociedade para arrecadar fundos que serão utilizados na manutenção dos serviços realizados pela associação", espera Dona Dorinha.
Nos encontros, nada de baixo astral. Como, por exemplo, a animação com que é a comemoração ao mês das mulheres, quando centenas de viúvas e idosas participaram de um desfile de moda, demonstrando toda vitalidade, alegria e amor à vida e ao próximo, como diz Dona Dorinha.
A AEVB, por ser uma entidade totalmente regularizada e legalizada junto aos órgãos dos governos municipal, estadual e federal, de acordo com Dona Dorinha está apta a receber doações de todas as pessoas, tanto do Brasil como de outros países. "As doações podem ser feitas diretamente na sede e nos núcleos, ou mesmo através da Internet ou depósitos bancários nos bancos do Brasil (agência 0324-7 Conta corrente 7480-0) e Bradesco (agência 1343-9 Conta corrente 19.277-5). Esta contribuição voluntária nos ajuda a consolidar a associação, que não visa lucros e que hoje é referência para o Centro-Oeste brasileiro", garante Dona Dorinha.
Apesar dos esforços de colaboradores voluntários, da família e dela própria,  Dona Dorinha revela que não consegue alcançar o objetivo de atender todas as necessidades das viúvas assistidas pela AEVB. "Gostaríamos de contar com o auxílio de todos nessa tarefa, que é amenizar a dor dessas mulheres", conclama a presidente da AEVB.
"Conforme arrecadamos, repassamos para as associadas, roupas, alimentos, assistência médica, jurídica e, principalmente, doamos nosso amor para que essas pessoas possam ter um pouco de conforto", esclarece Dona Dorinha ao lembrar que o poder público também ajuda. “Esta semana mesmo recebemos cadeiras doadas pelo Ministério Público Estadual e a Receita Federal também nos envia, sempre que pode, bens que foram apreendidos", diz.
CASA PRÓPRIA
A Associação Evangélica das Mulheres do Brasil está pleiteando junto à Caixa Econômica Federal a construção de casas para as viúvas assistidas pela entidade. "Apresentamos nosso pleito à CEF no sentido de incluir as viúvas no Projeto Minha Casa Minha Vida, do Ministério das Cidades e agora estamos apenas esperando o parecer favorável (ou não) para que possamos cadastrar as viúvas interessadas. Isso vai ser de um valor inestimável para todas as que forem beneficiadas", diz.
A presidente da AEVB explica que a entidade também está procurando inserir as viúvas associadas no Programa Rede Cidadã, que busca resgatar a cidadania das famílias em estágio de extrema pobreza, por meio de auxílio financeiro mensal, com transferência de renda diretamente ao grupo familiar beneficiário, como forma de garantir sua dignidade e respeito, além de oferecer subsídios para o processo de emancipação da população atendida, bem como sua inserção no mundo do trabalho.
A entidade cadastrou quase 500 viúvas associadas, "mas vieram apenas 75 (confirmações). Mesmo assim estamos agradecidas, pois sabemos que podemos contar com o apoio de nossas autoridades e que novas famílias serão beneficiadas".
FELICIDADE
Dona Ana Efigênia Pinto, uma das viúvas associadas à AEVB, se diz "muito feliz com o apoio que recebemos aqui na Associação. Estou sempre vindo, pois aqui eu sei que vou ser recebida sempre com um sorriso, um apoio moral e espiritual, terei sempre uma amiga para conversar. O atendimento é muito bom. A gente vê pessoas, troca ideias, se diverte muito", afirma a associada que estava na sede para receber a doação dos 10 quilos de arroz.
Da mesma forma se expressa Dona Bonifácia Maria de Souza. Ela que tem 15 anos de viuvez e cerca de 10 anos é associada à AEVB, lembra que, apesar de morar com os netos em uma casa cedida - ela não paga aluguel - "a Associação nos ajuda muito. Não tenho nem como me expressar do quanto é importante o apoio recebido. Tanto que venho direto à Sede, pois aqui me sinto muito bem, Venho buscar primeiramente a presença de Deus e depois o convívio com outras pessoas”.
DESENCONTRO
A presidente da AEVB explica que "muitas mulheres relatam um desencontro entre elas e as pessoas que a cercam. Os amigos são um conforto, mas também trazem dificuldades. São diferentes opiniões e expectativas que fazem a viúva sentir-se estranha; amigos são importantes, mas suas sugestões muitas vezes não servem, os consolos são inúteis ou a irritam. Alguns não falam e não a deixam falar do marido, achando que isso vai trazer sofrimento; outros não aguentam ver o choro, não sabem o que fazer. Algumas pessoas até se afastam da viúva pela confusão sentimentos que seu luto provoca e também pelo medo de se imaginar no seu lugar. A viúva parece ser a única pessoa avulsa no mundo. Tudo parece muito mais difícil".

Dona Dorinha lembra ainda que, "outras pessoas cobram da viúva uma recuperação que ela não sente, mesmo passado algum tempo da morte do marido. A vida continua, mas para a viúva a saudade ainda é muito forte, existem as dificuldades financeiras, as novas experiências, desafios de toda espécie; toda sua vida mudou". Tudo parece, segundo Dona Dorinha, ser muito recente, "é preciso mais tempo para ajustar-se. A viuvez obriga a enfrentar uma transição em que a principal tarefa é construir uma outra identidade: a de mulher só. Não é nem melhor nem pior, é só outra identidade, nova, que exige tempo para se desenvolver".

VIUVEZ

 Mente humana demora para aceitar essa realidade


Para quem nunca passou por isso, é impossível entender como é grande a dor causada pela perda do cônjuge. De fato, a mente humana demora para aceitar essa terrível realidade. Doralice Ferreira Ramos, ou simplesmente Dona Dorinha, não conseguia aceitar a morte repentina de seu marido. “Parecia mentira”, diz ela. “Eu não podia acreditar que ele não entraria mais por aquela porta.”
Depois de uma amputação, alguns às vezes sentem que ainda têm aquela parte do corpo. De forma similar, pessoas enlutadas às vezes “veem” seu cônjuge amado no meio de uma multidão, ou percebem que estão falando para o cônjuge que já não está mais ali.
Amigos e familiares muitas vezes não sabem como reagir diante desse sofrimento. Conhece alguém que perdeu o cônjuge na morte? Como você pode dar apoio? O que precisa saber para ajudar viúvas e viúvos a lidar com essa dor? Como você pode ajudar os enlutados a recuperar aos poucos o gosto pela vida?
Dona Dorinha, que perdeu o esposo cerca de 30 anos atrás, resolveu então buscar respostas para todas estas indagações que martelavam sua mente. Uniu sua força à fé cristã e deu início à criação de uma entidade sem fins lucrativos. Reuniu amigos e familiares preocupados e com boas intenções que talvez tentem diminuir o tempo do processo de luto da pessoa e criou a Associação Evangélica das Viúvas do Brasil, à época a única existente em praticamente todo o mundo.
Desde então Dona Dorinha, que pertence a uma família da Classe A anapolina, tem dedicado todo o seu tempo no acolhimento de mulheres que, como ela, perderam seus maridos e necessitam de amparo. Ela diz: “Os amigos e familiares ajudam no início. Depois a vida deles volta ao normal, mas a sua não.” Tendo isso em mente, acredita ela, amigos verdadeiros mantêm-se à disposição e continuam a dar apoio.
Muitas pessoas acham consolador falar com alguém que passou pela mesma situação. Dona Bonifácia Maria de Souza, viúva há 15 anos e mais de 10  associada à AVEB, por exemplo, mostra como o apoio e a amizade com outra viúva foi de ajuda, no caso a presidente da Associação. “A determinação dela me impressionou muito e me incentivou a ir em frente”, diz.
Realmente, depois de superar os estágios iniciais do luto, de acordo com Dona Dorinha, as viúvas e os viúvos podem se tornar exemplos para outros e uma fonte de esperança. "Duas viúvas mencionadas na Bíblia, a jovem Rute e sua sogra Noemi, se beneficiaram da ajuda que deram uma à outra. Esse relato comovente descreve como o interesse mútuo dessas mulheres as ajudou a aliviar a dor e a lidar com a sua situação desafiadora", afirma ela, como que justificando sua decisão em criar e estar até hoje à frente da AEVB.




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