Associação atende mulheres
que perderam seus maridos
"As coisas mudam quando uma organização como o AEVB demonstra interesse pela vida vida solitária de uma viúva"
Antéro Sóter
Anápolis (GO) - A Associação Evangélica das Viúvas do Brasil, criada por Doralice
Ferreira Ramos, após a morte do marido, presta, hoje, serviços sociais a cerca
de 3.600 mil viúvas. A AEVB cresceu e hoje mantém núcleos em Caldas Novas,
Goiânia, Nova Glória, em Goiás e em Palmas, Capital do Estado do Tocantins. Em Anápolis,
cidade distante cerca de 55 quilômetros da Capital goiana, onde está a sede, a
entidade funciona em um grande galpão cedido pela família de Dona Dorinha,
localizado na Rua 14 de Julho, 409, Bairro Centro.
A ideia da criação da entidade, que hoje funciona paralelo ao Centro de
Convivência e Apoio às Idosas, surgiu há mais de 15 anos, quando dona Dorinha,
como prefere ser chamada, viu no sofrimento a oportunidade de ajudar outras
mulheres. Fundou a Associação Evangélica das Viúvas e abriu espaço também para
idosas. “Resolvemos ajudar também as idosas. Muitas ficam em casa, sozinhas,
tristonhas, na depressão. Elas veem aqui e acham maravilhoso”, conta dona Dorinha.
A entidade, de acordo com Dona Dorinha, "não mede esforços para
buscar ajuda para aquela viúva que a procura. Está sempre de portas abertas.
Hoje mesmo (06/05), demos início à distribuição de 7 toneladas de arroz cedidas
pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas nosso apoio não se dá
apenas na forma de fornecimento de alimentos. Uma aparece necessitando de medicamentos,
atendimento médico, apoio material, espiritual e emocional", revela. O
arroz cedido pela Conab vai atender, ao final, mais de 600 famílias.
A Associação das Viúvas do Brasil conta, inclusive, com uma ambulância.
"A União das Voluntárias de Goiás (UVG) nos deu esta tem uns 13 anos e
hoje ela está cheia de problemas, dando pane e às vezes prejudica o
deslocamento para levar nossas associadas à Santa Casa, ao Hospital Evangélico
e outras clínicas que colaboram conosco. Na realidade, estamos precisando de
uma novinha".
MANUTENÇÃO
Para manter a entidade, Dona Dorinha mantém um bazar com as doações que
chegam de parte da sociedade anapolina, além de realizar outros eventos, a
exemplo do "Tarde de Mulheres
Apoiando Mulheres" que acontecerá no dia 21 de maio. "Será um grande
evento reunindo cerca de 200 mulheres da nossa sociedade para arrecadar fundos
que serão utilizados na manutenção dos serviços realizados pela
associação", espera Dona Dorinha.
Nos encontros, nada de baixo astral. Como, por exemplo, a animação com
que é a comemoração ao mês das mulheres, quando centenas de viúvas e idosas
participaram de um desfile de moda, demonstrando toda vitalidade, alegria e
amor à vida e ao próximo, como diz Dona Dorinha.
A AEVB, por ser uma entidade totalmente regularizada e legalizada junto
aos órgãos dos governos municipal, estadual e federal, de acordo com Dona
Dorinha está apta a receber doações de todas as pessoas, tanto do Brasil como
de outros países. "As doações podem ser feitas diretamente na sede e nos
núcleos, ou mesmo através da Internet ou depósitos bancários nos bancos do
Brasil (agência 0324-7 Conta corrente 7480-0) e Bradesco (agência 1343-9 Conta
corrente 19.277-5). Esta contribuição voluntária nos ajuda a consolidar a
associação, que não visa lucros e que hoje é referência para o Centro-Oeste
brasileiro", garante Dona Dorinha.
Apesar dos esforços de colaboradores voluntários, da família e dela
própria, Dona Dorinha revela que não
consegue alcançar o objetivo de atender todas as necessidades das viúvas
assistidas pela AEVB. "Gostaríamos de contar com o auxílio de todos nessa
tarefa, que é amenizar a dor dessas mulheres", conclama a presidente da
AEVB.
"Conforme arrecadamos, repassamos para as associadas, roupas,
alimentos, assistência médica, jurídica e, principalmente, doamos nosso amor
para que essas pessoas possam ter um pouco de conforto", esclarece Dona
Dorinha ao lembrar que o poder público também ajuda. “Esta semana mesmo
recebemos cadeiras doadas pelo Ministério Público Estadual e a Receita Federal
também nos envia, sempre que pode, bens que foram apreendidos", diz.
CASA PRÓPRIA
A Associação Evangélica das Mulheres do Brasil está pleiteando junto à
Caixa Econômica Federal a construção de casas para as viúvas assistidas pela
entidade. "Apresentamos nosso pleito à CEF no sentido de incluir as viúvas
no Projeto Minha Casa Minha Vida, do Ministério das Cidades e agora estamos
apenas esperando o parecer favorável (ou não) para que possamos cadastrar as
viúvas interessadas. Isso vai ser de um valor inestimável para todas as que
forem beneficiadas", diz.
A presidente da AEVB explica que a entidade também está procurando
inserir as viúvas associadas no Programa Rede Cidadã, que busca resgatar a
cidadania das famílias em estágio de extrema pobreza, por meio de auxílio
financeiro mensal, com transferência de renda diretamente ao grupo familiar
beneficiário, como forma de garantir sua dignidade e respeito, além de oferecer
subsídios para o processo de emancipação da população atendida, bem como sua
inserção no mundo do trabalho.
A entidade cadastrou quase 500 viúvas associadas, "mas vieram
apenas 75 (confirmações). Mesmo assim estamos agradecidas, pois sabemos que
podemos contar com o apoio de nossas autoridades e que novas famílias serão
beneficiadas".
FELICIDADE
Dona Ana Efigênia Pinto, uma das viúvas associadas à AEVB, se diz
"muito feliz com o apoio que recebemos aqui na Associação. Estou sempre
vindo, pois aqui eu sei que vou ser recebida sempre com um sorriso, um apoio
moral e espiritual, terei sempre uma amiga para conversar. O atendimento é
muito bom. A gente vê pessoas, troca ideias, se diverte muito", afirma a
associada que estava na sede para receber a doação dos 10 quilos de arroz.
Da mesma forma se expressa Dona Bonifácia Maria de Souza. Ela que tem 15
anos de viuvez e cerca de 10 anos é associada à AEVB, lembra que, apesar de
morar com os netos em uma casa cedida - ela não paga aluguel - "a
Associação nos ajuda muito. Não tenho nem como me expressar do quanto é
importante o apoio recebido. Tanto que venho direto à Sede, pois aqui me sinto
muito bem, Venho buscar primeiramente a presença de Deus e depois o convívio com
outras pessoas”.
DESENCONTRO
A presidente da AEVB explica que "muitas mulheres relatam um
desencontro entre elas e as pessoas que a cercam. Os amigos são um conforto,
mas também trazem dificuldades. São diferentes opiniões e expectativas que
fazem a viúva sentir-se estranha; amigos são importantes, mas suas sugestões
muitas vezes não servem, os consolos são inúteis ou a irritam. Alguns não falam
e não a deixam falar do marido, achando que isso vai trazer sofrimento; outros
não aguentam ver o choro, não sabem o que fazer. Algumas pessoas até se afastam
da viúva pela confusão sentimentos que seu luto provoca e também pelo medo de
se imaginar no seu lugar. A viúva parece ser a única pessoa avulsa no mundo.
Tudo parece muito mais difícil".
Dona Dorinha lembra ainda que, "outras pessoas cobram da viúva uma
recuperação que ela não sente, mesmo passado algum tempo da morte do marido. A
vida continua, mas para a viúva a saudade ainda é muito forte, existem as
dificuldades financeiras, as novas experiências, desafios de toda espécie; toda
sua vida mudou". Tudo parece, segundo Dona Dorinha, ser muito recente,
"é preciso mais tempo para ajustar-se. A viuvez obriga a enfrentar uma
transição em que a principal tarefa é construir uma outra identidade: a de
mulher só. Não é nem melhor nem pior, é só outra identidade, nova, que exige
tempo para se desenvolver".
VIUVEZ
Mente humana demora para aceitar essa realidade
Para quem nunca passou por isso, é impossível entender como é grande a
dor causada pela perda do cônjuge. De fato, a mente humana demora para aceitar
essa terrível realidade. Doralice Ferreira Ramos, ou simplesmente Dona Dorinha,
não conseguia aceitar a morte repentina de seu marido. “Parecia mentira”, diz
ela. “Eu não podia acreditar que ele não entraria mais por aquela porta.”
Depois de uma amputação, alguns às vezes sentem que ainda têm aquela
parte do corpo. De forma similar, pessoas enlutadas às vezes “veem” seu cônjuge
amado no meio de uma multidão, ou percebem que estão falando para o cônjuge que
já não está mais ali.
Amigos e familiares muitas vezes não sabem como reagir diante desse
sofrimento. Conhece alguém que perdeu o cônjuge na morte? Como você pode dar
apoio? O que precisa saber para ajudar viúvas e viúvos a lidar com essa dor?
Como você pode ajudar os enlutados a recuperar aos poucos o gosto pela vida?
Dona Dorinha, que perdeu o esposo cerca de 30 anos atrás, resolveu então
buscar respostas para todas estas indagações que martelavam sua mente. Uniu sua
força à fé cristã e deu início à criação de uma entidade sem fins lucrativos.
Reuniu amigos e familiares preocupados e com boas intenções que talvez tentem
diminuir o tempo do processo de luto da pessoa e criou a Associação Evangélica
das Viúvas do Brasil, à época a única existente em praticamente todo o mundo.
Desde então Dona Dorinha, que pertence a uma família da Classe A
anapolina, tem dedicado todo o seu tempo no acolhimento de mulheres que, como
ela, perderam seus maridos e necessitam de amparo. Ela diz: “Os amigos e
familiares ajudam no início. Depois a vida deles volta ao normal, mas a sua
não.” Tendo isso em mente, acredita ela, amigos verdadeiros mantêm-se à
disposição e continuam a dar apoio.
Muitas pessoas acham consolador falar com alguém que passou pela mesma
situação. Dona Bonifácia Maria de Souza, viúva há 15 anos e mais de 10 associada à AVEB, por exemplo, mostra como o
apoio e a amizade com outra viúva foi de ajuda, no caso a presidente da
Associação. “A determinação dela me impressionou muito e me incentivou a ir em
frente”, diz.
Realmente, depois de superar os estágios iniciais do luto, de acordo com
Dona Dorinha, as viúvas e os viúvos podem se tornar exemplos para outros e uma
fonte de esperança. "Duas viúvas mencionadas na Bíblia, a jovem Rute e sua
sogra Noemi, se beneficiaram da ajuda que deram uma à outra. Esse relato
comovente descreve como o interesse mútuo dessas mulheres as ajudou a aliviar a
dor e a lidar com a sua situação desafiadora", afirma ela, como que
justificando sua decisão em criar e estar até hoje à frente da AEVB.
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