sexta-feira, 6 de março de 2009

Escuta Zé




Assédio moral na TV

Primeiro, espinafraram o Clodovil. Como nunca simpatizei com o dublê de costureiro e apresentador, fiquei quieto.



Depois, eles implicaram com o Paulo Betti. Como o ator, por sua vez, foi um pouco grosseiro, continuei calado.
Mais tarde, investiram contra Carolina Dieckmann e a Luana Piovani. Sempre achei as duas meio antipáticas; assim, ainda que um pouco incomodado, permaneci mudo.
Agora, eles mexeram com a Cláudia Alencar. Desta vez não consigo deixar para lá. Mexeu com a Cláudia Alencar, mexeu comigo.
Está ficando revoltante o modo como os comediantes do programa Pânico na TV, da Rede TV, abordam as pessoas em suas "entrevistas".
Não sei como ninguém ainda não entrou na Justiça processando seus responsáveis por assédio moral.
No começo, seus comediantes ainda eram um pouco engraçados; eles só apelavam para a baixaria quando o assediado (não se pode usar o verbete "entrevistado" nesse caso) se mostrava do mesmo nível do "Repórter Vesgo" e do "Silvio Santos", ou seja, baixíssimo.
Com o tempo, porém, provavelmente pelo esgotamento do repertório de piadas e pela falta de imaginação para novas pautas mais criativas, partiram para o ataque direto, grosseiro e covarde.
Suas investidas podem ser comparadas às de neonazistas que escolhem suas vítimas ao acaso, nas ruas, espancando-as até que percam os sentidos, ou a vida.
A diferença é que "Vesgo", "Silvio Santos" e os produtores do Pânico ferem quase de morte, em alguns casos, a imagem dos artistas que assediam.
E imagem é tudo para o artista. No final das contas, é seu ganha-pão.
Mas para garantir o seu (lá deles) próprio sustento, a turma do programa da Rede TV não poupa esforços, indelicadeza, grosseria e efeitos técnicos para tentar ridicularizar a vítima da vez, ainda que esta, inocente e desavisada, atenda-os cordialmente.
Às vezes não poupam nem a violência física. Outro dia, chegaram a derrubar no chão a atriz Lady Francisco, uma senhora já idosa, e a passar meleca no cabelo do ator Wagner Moura.
Domingo passado, entre outros desafortunados, a atriz Cláudia Alencar cruzou o caminho dos dois.
Cercaram-na ameaçadoramente, fizeram uma pergunta sem sentido e, diante do espanto da atriz, ainda usaram, na edição da "matéria", um efeito técnico para tentar ridicularizá-la.
Foi mais uma covardia de quem tem a câmera, o microfone, o estúdio, enfim, uma estrutura poderosa para simplesmente tentar tirar graça da desgraça alheia.
Não conheço a atriz Cláudia Alencar pessoalmente, mas todas as vezes em que a vi em entrevistas achei-a gentil, delicada, muito simpática. E um pouco frágil, também. Dizem até que é poetisa.
Lembro-me de duas personagens da atriz: a divertida Patativa, de Roda de Fogo, e a prefeita de Porto dos Milagres.
Esta última criou uma fantasia em mim, difícil de esquecer até hoje: ela acordava o marido todas as manhãs, fazendo uma deliciosa massagem em seus pés.
Como dizia um amigo meu, para uma mulher assim eu entregaria meu holerite todo fim de mês.

Primeiro eles vieram...

Quem ainda não conhece clique aqui e leia o poema parafraseado na abertura da crônica acima, que começa com a frase "Primeiro eles vieram atrás dos comunistas...".
Ele é de autoria do pastor evangélico alemão Martin Niemoller (1892-1984), preso por Hitler, em 1938, durante a ascensão nazista.

É para ler e guardar.


Escrito por José Luiz Teixeira de “www.escutaze.com.br”

Nenhum comentário: