quinta-feira, 29 de maio de 2008

Um povo sem memória



Você se lembra dos crimes que marcaram a história do país?

Martha Daúd

A discussão é longa e pode resultar em diversas ramificações. As pessoas têm opiniões diferentes e, por se tratar de um assunto extremamente delicado, talvez não se chegue a lugar nenhum.
Crimes absurdos que em questão de minutos se apagam e são esquecidos, apenas quem sofreu a perda terá o que remoer. Porém, no auge do fato, estavam todos, aparentemente, juntos e torcendo pela justiça.
Agora vêm as dúvidas: Será que temos memória curta?
Será que só funcionamos quando a pressão é grande? Por que não continuamos aquilo que começamos?
A questão aqui não é memória curta não, acho que todos se lembram do caso Daniela Perez e tudo que lhe aconteceu
Crime bárbaro, hediondo! O que acontece na verdade é uma sociedade que em sua maioria não pensa no coletivo e, quando não se pensa no coletivo, acabamos perdendo uma força incrível, um poder tremendo.
Pena que a maioria das pessoas não sabe disso e nem se dêem conta do que são capazes, uma pena! Falta na verdade uma disciplina entre uma comunidade, um povo. E nós brasileiros não temos essa cultura. Por vezes pensamos: Ahhh, nossa, ainda bem que não foi comigo, não foi com o meu filho -- ledo engano, afinal, não sabemos do amanhã.
As tragédias, as coisas ruins não acontecem só com o vizinho ou na telinha da TV.
Vivemos uma inversão de valores total e irrestrita. O que importa é a moeda, é o dinheiro, é o ouro. Não importa a que preço e nem como conseguir, o importante é ter. Cada cabeça uma sentença, mas, as pessoas se expõe demais, como: ficar nua em revistas, prostituir-se em outro país, participar de reality shows e passar por todo o tipo de situações, por vezes até vexatórias e humilhantes. E, muitas vezes, apoiados pelos pais e seus parentes que aparecem e dizem que seus filhos estão indo muito bem, que eles se sentem orgulhosos.
Podemos lembrar o caso daquela moça nos EUA, que se prostituía e fez um político daquele país renunciar ao cargo. Mas, o melhor ainda está por vir: Voltou com fama para o Brasil, saindo até por um portão especial do aeroporto. Passou pelos programas de TV e quando aparecia na rua não falava quase nada. A explicação para isso, segundo ela, é porque senão ninguém pagaria pelas suas declarações.
Pessoas que vivem de escândalo em escândalo como Britney Spears e Paris Hilton, têm, na maioria das vezes, os seguintes pensamentos: se dá dinheiro, então vamos lá! A torcida pelo final feliz de Ferraço, da novela Global Duas Caras, mostra bem essa situação. Ele chegou aonde chegou a qualquer preço, foi vendido a um homem que o educou assim. Se o otário existe não se deve ter pena porque ele (o otário) está ali esperando ser enganado, essa foi a pessoa que educou o personagem interpretado pelo ator Dalton Vigh, e ele seguiu o que aprendeu.
Mas, voltando para a realidade, as pessoas que assistem só vêem o lado bom de toda a história. Porém, toda essa inversão de valores tem um preço a médio e longo prazo e, aqui, podemos voltar ao caso do Ferraço que acaba sendo julgado pelo seu filho, que teve uma educação dentro das regras da honestidade e dos valores corretos.
Penso ser um preço muito alto a ser pago, psicologicamente falando.
Infelizmente, nós conhecemos muito pouco tudo o que nos move e o que está no nosso inconsciente

Martha Daúd é psicóloga


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