Por Alberto Dines
Fala pouco o ministro da Comunicação Social, jornalista Franklin Martins. Fala pouco, porém atua muito – é um dos mais influentes na esfera palaciana.
Na sexta-feira (25/4) participou dos debates da Conferência Nacional de Comunicação, promovida pelo PT, e pronunciou-se claramente sobre questões muito importantes: criticou o governo no tocante às rádios comunitárias, criticou os petistas que se agarram ao discurso de enfrentamento com as empresas de comunicação, e criticou a concentração da mídia na mão de poucas empresas.
Um prato cheio, se não houvesse a deliberada intenção de minimizar o que o ministro disse. Os jornalões paulistanos cobriram o evento, mas no dia seguinte preferiram publicar resumos irrisórios.
Sabe-se que a mídia não gosta de se ver no espelho. Agora ficou evidente sua má vontade com o ex-comentarista político da TV Globo. Má vontade tornada patente antes mesmo que assumisse formalmente o cargo no Planalto. Pode ser represália às anteriores tiradas antimídia do presidente da República ou antipatia corporativa a uma estrela do jornalismo que preferiu trocar de lado. À primeira vista, quem sai perdendo são os leitores; prejuízo maior é dos jornais que cobriram a fala do ministro e a derrubaram sem cerimônias.
No dia seguinte, sábado (26) o Estado de S.Paulo publicou no pé da página A-6 uma materiazinha com o seguinte título: "Franklin critica governo em encontro de petistas". O motivo da reclamação: bagunça no setor das rádios comunitárias. "Há rádios que funcionam clandestinamente, outras que funcionam legalmente, mas não são comunitárias". Antes, Franklin dissera que "não há justificativa para o governo Lula não ter honrado os compromissos que fez em relação às rádios comunitárias".
Mídia não discute a mídia
O ministro foi adiante e enfrentou um assunto tabu sem meias-palavras: o conflito governo-mídia. Advertiu os companheiros que "sempre se pode cair na tentação de resolver um problema político, econômico ou social com medidas administrativas". Segundo ele, o PT precisa entender como funciona a imprensa. "Por trás do discurso do enfrentamento (...) existe uma enorme dificuldade para travar a disputa política nos meios de comunicação". Concluiu o Estadão: "Apesar da estocada, Franklin foi muito aplaudido".
A Folha ressaltou outro ângulo da fala do ministro em matéria ainda menor, porém igualmente relevante: "Temos que trabalhar para diminuir a concentração existente nos meios de comunicação onde os mesmos grupos mantêm rádios, TVs e jornais. A propriedade é totalmente cruzada, precisamos discutir isso, não sei se existe uma forma de descentralizar" (26/4, pág A-7).
Último sábado do mês, jornais carregados de anúncios, espaço de sobra: não se justifica a manobra para abortar um estimulante debate nos dias seguintes. Se a mídia não quer discutir a mídia, não deveria espernear tanto contra pressões e incompreensões.
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O mais curioso é que dos três temas examinados por Franklin Martins, dois deles estavam na pauta do desaparecido Conselho de Comunicação Social (rádios comunitárias e concentração da mídia). Com relação ao CCS parece que há um consenso nacional: ninguém está interessado em ressuscitá-lo.
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