Saúde: temos uma crise on line
Por Márcia Wirth (*)
Sexta-feira, fim de expediente. Em São Luís, a clínica médica fecha às 17:00, já em Brasília, o último atendimento é às 18:30. Por fim, em São Paulo, o trânsito estafante empurra o último paciente para as 20:45. Somente às 21:30, é possível que clínicas e consultórios médicos desliguem seus computadores e se desliguem de seus problemas.
Mas será que é possível estar off-line, nos dias de hoje? O médico desliga a sua máquina, mas internautas, membros de redes sociais, integrantes do My Space e do Orkut, além de milhares de blogueiros, estão on line. No Brasil - país de 39 milhões de internautas - 55 milhões de perfis estão cadastrados no Orkut, o site domina a preferência dos brasileiros. Em fevereiro deste ano, cerca de 12,9 milhões de pessoas acessaram o Orkut, de acordo com ranking da comScore.
E é dentro desse espaço virtual, o Orkut, que se desenrola uma grave crise de imagem e reputação na Saúde, nunca imaginada por nenhum médico ou entidade representativa da classe. Em uma detalhada pesquisa no site de relacionamento, é possível se deparar com muitas declarações inapropriadas, inadequadas e danosas ao exercício da boa Medicina baseada em evidências. Além da criação dos perfis dos usuários, o Orkut oferece aos internautas a possibilidade da formação de comunidades para a discussão de um tema comum. Assim, existem, hoje, mais de 100 comunidades que discutem temas médicos e denunciam erros, sem o menor critério.
Não é o nosso objetivo colocar em discussão a liberdade de expressão. Todos os cidadãos que se sentem prejudicados de alguma maneira têm o direito de buscarem por justiça. Os próprios Conselhos de Medicina prestam um serviço a essas pessoas quando julgam e deliberam sobrem suas queixas. As sociedades de classe recomendam a pesquisa em seus sites sobre o nome e o CRM do médico, para que a população se sinta protegida, de certa maneira, contra a imperícia e a má conduta de alguns profissionais.
Não classificamos como ofensiva ou ameaçadora a queixa sobre o erro médico em nenhum canal de comunicação. TV’s, jornais, sites e rádios costumam denunciar tais fatos. O que desejamos discutir aqui é a forma como estas reclamações estão sendo feitas no ORKUT, de maneira inconseqüente. Em diálogo registrado na comunidade Paguei para ser mutilada, em março deste ano, um médico é acusado de homicídio doloso, lesão corporal, além de ter dívidas financeiras expostas a todos os internautas. Perguntas necessárias: este profissional e outros tantos médicos sabem o que está sendo dito a seu respeito no Orkut? O médico não poderia ter um ou mais homônimos? Mesmo sem ser médico, um ser humano merece ter a sua privacidade devastada desta maneira, de forma inconseqüente? É correta a conduta de quem posta tais informações? Quais os danos que informações como essas, postadas sem o menor critério, podem trazer à imagem do profissional? É possível calcular e medir o dano à imagem e à reputação desse profissional?
Se o risco de reputação e imagem, segundo o The Economist, é o ponto de partida de todos os riscos para qualquer negócio, um profissional sem reputação, não tem negócio. E além do exemplo citado, a história se repete por diversas vezes, com variações no texto e conteúdo, mas sempre com a característica de devassa na vida profissional e pessoal de diversos médicos.
Por acreditarmos na força da Web2, temos plena convicção que proibir a manifestação dos internautas não é o melhor caminho. As redes virtuais são importantes agentes de mudança que vêm afetando profundamente a forma como empresas e stakeholders lidam com seus negócios. Elas são ‘a pimenta’ da mídia convencional, o contraponto.
Precisamos aprender a utilizar melhor os recursos que a tecnologia nos oferece, inclusive para fazer a gestão da reputação e da imagem do médico na Internet. Neste espaço virtual, o embate não é o melhor caminho. Precisamos desenvolver novas estratégias de relacionamento com os detratores, alinhando nossas estratégias de comunicação on line e off line, pois, por mais que alguns queiram uma segunda vida, a Internet não é um mundo dissociado do ‘mundo real’.
As assessorias de comunicação que atendem aos profissionais da Saúde devem, agora, ocupar-se de uma nova função: a gestão da imagem e da reputação de hospitais, clínicas e consultórios médicos na Internet. Além do Orkut, também devem ser monitorados outros sites de relacionamento, blogs, fotologs, wikipédias, etc.
Numa sociedade plural, que se comunica intensamente, que repudia os monopólios e valoriza a divergência e a diversidade, a comunicação baseada apenas nas relações pessoais e no tráfico de influência é insuficiente. É necessário preparar os novos gestores da comunicação, profissionais com novos valores, inclusive pessoais, para enfrentar as crises do mundo virtual.
* Márcia Wirth é jornalista, especializada no assessoramento de entidades e profissionais da área da saúde. Dirige a Excelência em Comunicação na Saúde.
Fale com ela: wirthmarcia@uol.com.br. Ou acesse http://queromaissaude.zip.net
Por Márcia Wirth (*)
Sexta-feira, fim de expediente. Em São Luís, a clínica médica fecha às 17:00, já em Brasília, o último atendimento é às 18:30. Por fim, em São Paulo, o trânsito estafante empurra o último paciente para as 20:45. Somente às 21:30, é possível que clínicas e consultórios médicos desliguem seus computadores e se desliguem de seus problemas.
Mas será que é possível estar off-line, nos dias de hoje? O médico desliga a sua máquina, mas internautas, membros de redes sociais, integrantes do My Space e do Orkut, além de milhares de blogueiros, estão on line. No Brasil - país de 39 milhões de internautas - 55 milhões de perfis estão cadastrados no Orkut, o site domina a preferência dos brasileiros. Em fevereiro deste ano, cerca de 12,9 milhões de pessoas acessaram o Orkut, de acordo com ranking da comScore.
E é dentro desse espaço virtual, o Orkut, que se desenrola uma grave crise de imagem e reputação na Saúde, nunca imaginada por nenhum médico ou entidade representativa da classe. Em uma detalhada pesquisa no site de relacionamento, é possível se deparar com muitas declarações inapropriadas, inadequadas e danosas ao exercício da boa Medicina baseada em evidências. Além da criação dos perfis dos usuários, o Orkut oferece aos internautas a possibilidade da formação de comunidades para a discussão de um tema comum. Assim, existem, hoje, mais de 100 comunidades que discutem temas médicos e denunciam erros, sem o menor critério.
Não é o nosso objetivo colocar em discussão a liberdade de expressão. Todos os cidadãos que se sentem prejudicados de alguma maneira têm o direito de buscarem por justiça. Os próprios Conselhos de Medicina prestam um serviço a essas pessoas quando julgam e deliberam sobrem suas queixas. As sociedades de classe recomendam a pesquisa em seus sites sobre o nome e o CRM do médico, para que a população se sinta protegida, de certa maneira, contra a imperícia e a má conduta de alguns profissionais.
Não classificamos como ofensiva ou ameaçadora a queixa sobre o erro médico em nenhum canal de comunicação. TV’s, jornais, sites e rádios costumam denunciar tais fatos. O que desejamos discutir aqui é a forma como estas reclamações estão sendo feitas no ORKUT, de maneira inconseqüente. Em diálogo registrado na comunidade Paguei para ser mutilada, em março deste ano, um médico é acusado de homicídio doloso, lesão corporal, além de ter dívidas financeiras expostas a todos os internautas. Perguntas necessárias: este profissional e outros tantos médicos sabem o que está sendo dito a seu respeito no Orkut? O médico não poderia ter um ou mais homônimos? Mesmo sem ser médico, um ser humano merece ter a sua privacidade devastada desta maneira, de forma inconseqüente? É correta a conduta de quem posta tais informações? Quais os danos que informações como essas, postadas sem o menor critério, podem trazer à imagem do profissional? É possível calcular e medir o dano à imagem e à reputação desse profissional?
Se o risco de reputação e imagem, segundo o The Economist, é o ponto de partida de todos os riscos para qualquer negócio, um profissional sem reputação, não tem negócio. E além do exemplo citado, a história se repete por diversas vezes, com variações no texto e conteúdo, mas sempre com a característica de devassa na vida profissional e pessoal de diversos médicos.
Por acreditarmos na força da Web2, temos plena convicção que proibir a manifestação dos internautas não é o melhor caminho. As redes virtuais são importantes agentes de mudança que vêm afetando profundamente a forma como empresas e stakeholders lidam com seus negócios. Elas são ‘a pimenta’ da mídia convencional, o contraponto.
Precisamos aprender a utilizar melhor os recursos que a tecnologia nos oferece, inclusive para fazer a gestão da reputação e da imagem do médico na Internet. Neste espaço virtual, o embate não é o melhor caminho. Precisamos desenvolver novas estratégias de relacionamento com os detratores, alinhando nossas estratégias de comunicação on line e off line, pois, por mais que alguns queiram uma segunda vida, a Internet não é um mundo dissociado do ‘mundo real’.
As assessorias de comunicação que atendem aos profissionais da Saúde devem, agora, ocupar-se de uma nova função: a gestão da imagem e da reputação de hospitais, clínicas e consultórios médicos na Internet. Além do Orkut, também devem ser monitorados outros sites de relacionamento, blogs, fotologs, wikipédias, etc.
Numa sociedade plural, que se comunica intensamente, que repudia os monopólios e valoriza a divergência e a diversidade, a comunicação baseada apenas nas relações pessoais e no tráfico de influência é insuficiente. É necessário preparar os novos gestores da comunicação, profissionais com novos valores, inclusive pessoais, para enfrentar as crises do mundo virtual.
* Márcia Wirth é jornalista, especializada no assessoramento de entidades e profissionais da área da saúde. Dirige a Excelência em Comunicação na Saúde.
Fale com ela: wirthmarcia@uol.com.br. Ou acesse http://queromaissaude.zip.net
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