NÃO TOQUEM NESTES RIOS!
Luiz Eduardo Cheida (*)
O rio vem manso, pensando em nada. Água quieta, escorre preguiçosa. Indolentes, seguem os peixes dentro dela. Fora, a borboleta bela, uma libélula, da margem o sapo olha, zune o mosquito, a árvore risca a água com a ponta do galho e, à brisa passageira, derrama folhas secas sobre ela. Silêncio. Se ouve só um murmúrio, o arrulhar macio de quem estica o corpo líqüido em um leito conhecido. Silêncio...
De repente, um estrondo! Um trovão! Uma voz rouca levanta-se do horizonte ainda não divisado. Um aviso? Um presságio?
Um novo estralo e o rio arrepia sua pele. Crispa a superfície. Meneia. Hesita e, depois, corcoveia, derrapa, laminando as margens, bate de encontro a rochas, cospe-se para cima e para os lados e, por fim, sem medo, atira-se no precipício que abriu-se à sua frente.
E cai...
Cai, eternamente. E, ternamente, vai. Vai saboreando o vento, desfazendo-se em pingentes, vidros decompondo a luz. Vai, deixando-se beber pela vastidão do nada que se segue à sua frente. Vai, rasgando-se em trançados cordões de água, esfarrapando-se em todas as possíveis gotas e, desafiando a lógica, agora esfumaçando-se, também sobe ao céu.
Ou será um véu? Uma gaze branca que esvoaça! A grinalda de quem desce o penhasco, donzela pronta a entregar-se à terra que arfa à sua espera.
E, quando encontram-se, fundindo-se em mil amores, água e terra se fazem um. Um só a quem, novamente, chamarão rio.
Assim são as cachoeiras.
De cachoeiras são feitos os rios Tibagi, Ivaí e Piquiri, os três maiores rios interiores do Paraná. Mas, eles também são a água que abastece as cidades; o ecossistema que ajuda a manter o clima e a saciar a fome; o habitat para milhares de espécies conhecidas, algumas já em extinção e outras tantas ainda sequer reveladas; a morada de índios e ribeirinhos e suas crenças, e a água que também faz crescer a vida que, abastecendo os campos, torna o Estado tão próspero.
Cada um destes rios se espicha por mais de meio milhão de quilômetros dentro do Paraná. Cada um deles distribui riquezas por onde passa.
Por tudo isso, embora já um tanto vilipendiados, é que devemos deixá-los como vieram ao mundo: intocados.
Pensando nisso foi que fiz três projetos de lei propondo o tombamento histórico, cultural e ambiental de toda extensão dos rios Tibagi, Ivaí e Piquiri. O resultado, caso aprovados e sancionados, é que ficam proibidas as instalações de obras ou empreendimentos que venham a alterar de forma significativa as condições naturais do rio em seus aspectos estético, físico, químico ou biológico.
Um pequeno tributo a quem já fez tanto por nós.
Entretanto, indiferentes a qualquer projeto de lei os rios avançam. Sempre avançaram. E avançarão sempre, mesmo quando não mais estivermos por aqui. Assim, o que fazemos, em verdade o fazemos mais por nós do que por eles.
O rio vem manso, pensando em nada. Água quieta, escorre preguiçosa. Indolentes, seguem os peixes dentro dela. Fora, a borboleta bela, uma libélula, da margem o sapo olha, zune o mosquito, a árvore risca a água com a ponta do galho e, à brisa passageira, derrama folhas secas sobre ela. Silêncio. Se ouve só um murmúrio, o arrulhar macio de quem estica o corpo líqüido em um leito conhecido. Silêncio...
De repente, um estrondo! Um trovão! Uma voz rouca levanta-se do horizonte ainda não divisado. Um aviso? Um presságio?
Um novo estralo e o rio arrepia sua pele. Crispa a superfície. Meneia. Hesita e, depois, corcoveia, derrapa, laminando as margens, bate de encontro a rochas, cospe-se para cima e para os lados e, por fim, sem medo, atira-se no precipício que abriu-se à sua frente.
E cai...
Cai, eternamente. E, ternamente, vai. Vai saboreando o vento, desfazendo-se em pingentes, vidros decompondo a luz. Vai, deixando-se beber pela vastidão do nada que se segue à sua frente. Vai, rasgando-se em trançados cordões de água, esfarrapando-se em todas as possíveis gotas e, desafiando a lógica, agora esfumaçando-se, também sobe ao céu.
Ou será um véu? Uma gaze branca que esvoaça! A grinalda de quem desce o penhasco, donzela pronta a entregar-se à terra que arfa à sua espera.
E, quando encontram-se, fundindo-se em mil amores, água e terra se fazem um. Um só a quem, novamente, chamarão rio.
Assim são as cachoeiras.
De cachoeiras são feitos os rios Tibagi, Ivaí e Piquiri, os três maiores rios interiores do Paraná. Mas, eles também são a água que abastece as cidades; o ecossistema que ajuda a manter o clima e a saciar a fome; o habitat para milhares de espécies conhecidas, algumas já em extinção e outras tantas ainda sequer reveladas; a morada de índios e ribeirinhos e suas crenças, e a água que também faz crescer a vida que, abastecendo os campos, torna o Estado tão próspero.
Cada um destes rios se espicha por mais de meio milhão de quilômetros dentro do Paraná. Cada um deles distribui riquezas por onde passa.
Por tudo isso, embora já um tanto vilipendiados, é que devemos deixá-los como vieram ao mundo: intocados.
Pensando nisso foi que fiz três projetos de lei propondo o tombamento histórico, cultural e ambiental de toda extensão dos rios Tibagi, Ivaí e Piquiri. O resultado, caso aprovados e sancionados, é que ficam proibidas as instalações de obras ou empreendimentos que venham a alterar de forma significativa as condições naturais do rio em seus aspectos estético, físico, químico ou biológico.
Um pequeno tributo a quem já fez tanto por nós.
Entretanto, indiferentes a qualquer projeto de lei os rios avançam. Sempre avançaram. E avançarão sempre, mesmo quando não mais estivermos por aqui. Assim, o que fazemos, em verdade o fazemos mais por nós do que por eles.
Então, por nós, não toquem nestes rios!
Um forte abraço.
Edições anteriores do Recado do Cheida estão disponíveis no site http://www.cheida.com.br
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