Benê Barbosa
Almoço de gavião é cheio de emoções. Para o gavião pode até ser rotina, mera necessidade fisiológica. Mas para qualquer infeliz macaquinho que vira comida de gavião, é um acontecimento dramático. E único, porque é o último.
Preso nas garras de um gavião, o nosso jovem mico fazia uma excursão aérea desagradável e jamais desejada. Já estava todo estropiado pelas unhas do predador. Mas ainda vivia, de maneira que ainda podia sonhar com um milagre que lhe salvasse a vida.
Gaviões agarram suas vítimas e levantam vôo, procurando lugares rochosos. E então soltam a presa lá de cima, justamente para que se arrebentem no choque com as pedras. Depois, é só almoçar, sem ter a comida esperneando, tendo-se ainda a vantagem adicional da carne ficar um tanto quanto mais macia.
Estar “na unha do gavião” é se ver numa situação desesperadora. Mas o macaquinho dessa estória ficará muito pior quando o gavião abrir as garras.
Conclui-se, então, que nada é tão ruim que não possa piorar. E toda essa conversa sobre macaco e gavião pretende servir de ilustração para a situação enfrentada pela atual administração.
Nos próximos dias mais dinheiro público deverá ser seqüestrado pela Justiça do Trabalho, podendo ultrapassar meio milhão de reais. A bela baciada de grana está sendo retida pela Justiça com a finalidade de garantir o pagamento de direitos trabalhistas para servidores públicos que impetraram ações judiciais já transitadas e julgadas.
O total passível de seqüestro pode chegar a um milhão e meio. A cada mês quantias variáveis de origens diversas, como o Fundo de Participação dos Municípios, vão sendo bloqueadas. E não podem ser usadas em qualquer outra coisa que não seja pagar as dívidas trabalhistas.
Setores essenciais como saúde, educação e assistência social terão sérios problemas orçamentários. Atividades que poderiam ser de rotina, como funcionamento dos postos de saúde, transporte e merenda escolar estarão comprometidas. Não há exagero em manter receio de se chegar a um estágio de ingovernabilidade, porque na medida em que os recursos vão escasseando, o Executivo terá que fazer escolhas inusitadas.
Terá que optar entre recolher o lixo urbano ou abastecer ambulâncias, pagar servidores ou garantir postos de saúde funcionando, por exemplo.
A situação que se vive hoje é resultado de equívocos e talvez desatenção administrativa que se repetiram durante anos. Agravou-se com o não cumprimento de decisões judiciais.
Os servidores querem receber aquilo que a Justiça entendeu que lhes é devido. A administração tenta explicar que não deixou de honrar acordos por maldade, mas por necessidade.
Na sexta feira passada as duas partes se reuniram. Centenas de funcionários, um prefeito angustiado e secretários com cara de quem “não tenho nada com isso.” Augusto Plaça apresentou proposta para novo acordo, os servidores recusaram e as coisas podem ficar piores do que estão. O gavião, portanto, está procurando terreno rochoso para abrir as garras.
Uma nova crise instala-se sobre outras crises. Adversários do prefeito apostam que sua candidatura à reeleição está comprometida. Já os servidores vencedores da querela judicial, estão ansiosos para ter em mãos o dinheiro, que ainda está retido. A Prefeitura não pode usar, mas nenhum beneficiado viu um tostão.
Não é difícil entender a resistência do grupo de trabalhadores municipais, a dura recusa em dar espaço para acordos. O volume de dinheiro (hoje perto de 300 mil) é considerável. Mas será fragmentos em inúmeros pagamentos, já que só vão receber aqueles cujo direito não ultrapasse 30 salários mínimos. Nenhum servidor público vai ficar rico, a maioria deles não vai botar no bolso mais que dois ou três mil reais. Uns e outros talvez não recebam o suficiente sequer para comprar uma bicicleta.
Mas, no raciocínio individualizado, todos acham que a quantia que lhes cabe não afetará o mecanismo que garante o bom funcionamento de sistemas importantes como o de saúde pública.
Infelizmente, o conjunto de ocorrências é preocupante. Os lideres da categoria tem conhecimento da gravidade da situação. Também sabem que a discussão precisa estar acima de qualquer interligação político eleitoral. Agora é preciso se procurar um ângulo de visão que permita clareza suficiente para ver quem é que está na unha do gavião.
Muitos acreditam que quem está se debatendo na unha do bicho é o prefeito Augusto Plaça. Juram que quando o gavião o soltar, seu prestígio político vai se esfarelar nas pedras. Tanto que será difícil juntar os cacos e operar uma reconstrução capaz de facilitar sua reeleição.
Vamos observar outra vez, com atenção redobrada. Não será o povo pimentense que está lá, varado pela unha do gavião? Justamente aquela gente que só o amparo do serviço público de saúde, a proteção dos programas sociais, a guarida do transporte e da merenda escolar, por exemplo?
Necessária, então, fria reflexão. É justo dificultar o diálogo, emperrar as dobradiças da porta que pode se abrir para um acordo? Não seria adequado repensar nas conseqüências, que certamente terão efeito cascata, mês após mês, a cada centavo seqüestrado?
Não pode ser assim, tão complicado, se chegar à solução que permita a funcionabilidade dos setores essenciais e também assegure os pagamentos, mesmo que parceladamente? Trabalhadores públicos municipais, salvo raríssimas ( e secretas) exceções, na ganham tanto que possam dispensar os serviços públicos. E assim como muitos deles, milhares serão penalizados acaso atendimentos médicos gratuitos, que já não são lá grande coisa, piorem ainda mais.
Dizem que decisões judiciais tramitadas e julgadas não se discutem. Apenas se cumprem. E considerando os episódios recentes, obriga-se milhares ao sacrifício na garantia do direito de dezenas. É como incendiar uma cidade inteira para impedir que um condomínio seja alagado.
O macaquinho da nossa estória já era, estropiou-se nas pedras e depois disso o fato de ter virado almoço não fez a menor diferença. Mas na séria e importante questão do seqüestro de recursos públicos, é o povo quem se enrosca nas garras do gavião. Difícil é saber quem é que está fazendo o papel de gavião... (Fonte: www.folhapimentense.com.br)
* Jornalista e escritor em Pimenta Bueno (RO)
Almoço de gavião é cheio de emoções. Para o gavião pode até ser rotina, mera necessidade fisiológica. Mas para qualquer infeliz macaquinho que vira comida de gavião, é um acontecimento dramático. E único, porque é o último.
Preso nas garras de um gavião, o nosso jovem mico fazia uma excursão aérea desagradável e jamais desejada. Já estava todo estropiado pelas unhas do predador. Mas ainda vivia, de maneira que ainda podia sonhar com um milagre que lhe salvasse a vida.
Gaviões agarram suas vítimas e levantam vôo, procurando lugares rochosos. E então soltam a presa lá de cima, justamente para que se arrebentem no choque com as pedras. Depois, é só almoçar, sem ter a comida esperneando, tendo-se ainda a vantagem adicional da carne ficar um tanto quanto mais macia.
Estar “na unha do gavião” é se ver numa situação desesperadora. Mas o macaquinho dessa estória ficará muito pior quando o gavião abrir as garras.
Conclui-se, então, que nada é tão ruim que não possa piorar. E toda essa conversa sobre macaco e gavião pretende servir de ilustração para a situação enfrentada pela atual administração.
Nos próximos dias mais dinheiro público deverá ser seqüestrado pela Justiça do Trabalho, podendo ultrapassar meio milhão de reais. A bela baciada de grana está sendo retida pela Justiça com a finalidade de garantir o pagamento de direitos trabalhistas para servidores públicos que impetraram ações judiciais já transitadas e julgadas.
O total passível de seqüestro pode chegar a um milhão e meio. A cada mês quantias variáveis de origens diversas, como o Fundo de Participação dos Municípios, vão sendo bloqueadas. E não podem ser usadas em qualquer outra coisa que não seja pagar as dívidas trabalhistas.
Setores essenciais como saúde, educação e assistência social terão sérios problemas orçamentários. Atividades que poderiam ser de rotina, como funcionamento dos postos de saúde, transporte e merenda escolar estarão comprometidas. Não há exagero em manter receio de se chegar a um estágio de ingovernabilidade, porque na medida em que os recursos vão escasseando, o Executivo terá que fazer escolhas inusitadas.
Terá que optar entre recolher o lixo urbano ou abastecer ambulâncias, pagar servidores ou garantir postos de saúde funcionando, por exemplo.
A situação que se vive hoje é resultado de equívocos e talvez desatenção administrativa que se repetiram durante anos. Agravou-se com o não cumprimento de decisões judiciais.
Os servidores querem receber aquilo que a Justiça entendeu que lhes é devido. A administração tenta explicar que não deixou de honrar acordos por maldade, mas por necessidade.
Na sexta feira passada as duas partes se reuniram. Centenas de funcionários, um prefeito angustiado e secretários com cara de quem “não tenho nada com isso.” Augusto Plaça apresentou proposta para novo acordo, os servidores recusaram e as coisas podem ficar piores do que estão. O gavião, portanto, está procurando terreno rochoso para abrir as garras.
Uma nova crise instala-se sobre outras crises. Adversários do prefeito apostam que sua candidatura à reeleição está comprometida. Já os servidores vencedores da querela judicial, estão ansiosos para ter em mãos o dinheiro, que ainda está retido. A Prefeitura não pode usar, mas nenhum beneficiado viu um tostão.
Não é difícil entender a resistência do grupo de trabalhadores municipais, a dura recusa em dar espaço para acordos. O volume de dinheiro (hoje perto de 300 mil) é considerável. Mas será fragmentos em inúmeros pagamentos, já que só vão receber aqueles cujo direito não ultrapasse 30 salários mínimos. Nenhum servidor público vai ficar rico, a maioria deles não vai botar no bolso mais que dois ou três mil reais. Uns e outros talvez não recebam o suficiente sequer para comprar uma bicicleta.
Mas, no raciocínio individualizado, todos acham que a quantia que lhes cabe não afetará o mecanismo que garante o bom funcionamento de sistemas importantes como o de saúde pública.
Infelizmente, o conjunto de ocorrências é preocupante. Os lideres da categoria tem conhecimento da gravidade da situação. Também sabem que a discussão precisa estar acima de qualquer interligação político eleitoral. Agora é preciso se procurar um ângulo de visão que permita clareza suficiente para ver quem é que está na unha do gavião.
Muitos acreditam que quem está se debatendo na unha do bicho é o prefeito Augusto Plaça. Juram que quando o gavião o soltar, seu prestígio político vai se esfarelar nas pedras. Tanto que será difícil juntar os cacos e operar uma reconstrução capaz de facilitar sua reeleição.
Vamos observar outra vez, com atenção redobrada. Não será o povo pimentense que está lá, varado pela unha do gavião? Justamente aquela gente que só o amparo do serviço público de saúde, a proteção dos programas sociais, a guarida do transporte e da merenda escolar, por exemplo?
Necessária, então, fria reflexão. É justo dificultar o diálogo, emperrar as dobradiças da porta que pode se abrir para um acordo? Não seria adequado repensar nas conseqüências, que certamente terão efeito cascata, mês após mês, a cada centavo seqüestrado?
Não pode ser assim, tão complicado, se chegar à solução que permita a funcionabilidade dos setores essenciais e também assegure os pagamentos, mesmo que parceladamente? Trabalhadores públicos municipais, salvo raríssimas ( e secretas) exceções, na ganham tanto que possam dispensar os serviços públicos. E assim como muitos deles, milhares serão penalizados acaso atendimentos médicos gratuitos, que já não são lá grande coisa, piorem ainda mais.
Dizem que decisões judiciais tramitadas e julgadas não se discutem. Apenas se cumprem. E considerando os episódios recentes, obriga-se milhares ao sacrifício na garantia do direito de dezenas. É como incendiar uma cidade inteira para impedir que um condomínio seja alagado.
O macaquinho da nossa estória já era, estropiou-se nas pedras e depois disso o fato de ter virado almoço não fez a menor diferença. Mas na séria e importante questão do seqüestro de recursos públicos, é o povo quem se enrosca nas garras do gavião. Difícil é saber quem é que está fazendo o papel de gavião... (Fonte: www.folhapimentense.com.br)
* Jornalista e escritor em Pimenta Bueno (RO)
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