"RECADOS" NA TELINHA
Visões sobre o professor na TV brasileira
*Valeria Lima Guimarães
A sociedade nos ama. Cada vez mais chego a essa conclusão. Outro dia, no vídeo game da Angélica, foi feita uma brincadeira em que alguém da platéia tinha que boxear com vontade com um boneco de borracha. Quem fizesse com mais força, ganharia. Lá pelas tantas, a loura, procurando incentivar a menina magrinha que tentava bater no modelo com aquela enorme luva de boxe, gritou: "Vai, bate naquele professor que você odeia."
Fiquei pensando em como esse conselho chega aos diferentes tipos de espectadores, em sua maioria jovens, que assistem ao programa nesses tempos de espancamento e assassinatos de professores. Claro que ela não pensou no que falou, mas está no seu inconsciente e no de todo mundo que o professor merece mesmo um, digamos, "corretivo". A edição do programa também falhou feio deixando isso ir ao ar.
Os que são valorizados
Mudando de canal, uma semana depois, mais precisamente no dia 25 de julho, assisti ao "instrutivo" programa da Sônia Abrahão. Foi no dia em que o "MC Creu", a "Mulher Jaca" e a "Mulher Moranguinho" estavam mostrando os seus atributos por mais de uma hora na televisão pública brasileira, também naquele horário em que o público é em sua maioria de jovens. A apresentadora interrompeu a "apresentação" do grupo para dar um daqueles insuportáveis "recadinhos". Tem o da maquininha tecpix, tem o da iogurteira e agora também de uma joalheira, que vende por catálogo. A chamada era a seguinte: Você, que está desempregada, é pensionista, aposentada, dona de casa ou professora, que tal ganhar dinheiro vendendo as jóias...?
Fiquei pensando no nosso status social e me senti tremendamente valorizada. É isso aí. Professor é, sim, camelô. O que ela disse não foi nada aberrante. Foi a constatação de que a nossa profissão não enche barriga e que o professorado faz bico mesmo. Se não der aula em três, quatro escolas (o que já é um bico, no final da história), ele vende bugigangas para os seus pares e até na sala de aula. Só nunca tinha visto isso dito assim, tão naturalmente, na televisão. Terminado o recado, o "MC Creu", a "Moranguinho" e a "Jaca" voltaram a ser a atração do programa. Esses, sim, é que são valorizados, pelo menos, por enquanto. Até que outro produto descartável surja em seu lugar e esses aí voltem ao mesmo programa contando os dramas do ostracismo.
Visões sobre o professor na TV brasileira
*Valeria Lima Guimarães
A sociedade nos ama. Cada vez mais chego a essa conclusão. Outro dia, no vídeo game da Angélica, foi feita uma brincadeira em que alguém da platéia tinha que boxear com vontade com um boneco de borracha. Quem fizesse com mais força, ganharia. Lá pelas tantas, a loura, procurando incentivar a menina magrinha que tentava bater no modelo com aquela enorme luva de boxe, gritou: "Vai, bate naquele professor que você odeia."
Fiquei pensando em como esse conselho chega aos diferentes tipos de espectadores, em sua maioria jovens, que assistem ao programa nesses tempos de espancamento e assassinatos de professores. Claro que ela não pensou no que falou, mas está no seu inconsciente e no de todo mundo que o professor merece mesmo um, digamos, "corretivo". A edição do programa também falhou feio deixando isso ir ao ar.
Os que são valorizados
Mudando de canal, uma semana depois, mais precisamente no dia 25 de julho, assisti ao "instrutivo" programa da Sônia Abrahão. Foi no dia em que o "MC Creu", a "Mulher Jaca" e a "Mulher Moranguinho" estavam mostrando os seus atributos por mais de uma hora na televisão pública brasileira, também naquele horário em que o público é em sua maioria de jovens. A apresentadora interrompeu a "apresentação" do grupo para dar um daqueles insuportáveis "recadinhos". Tem o da maquininha tecpix, tem o da iogurteira e agora também de uma joalheira, que vende por catálogo. A chamada era a seguinte: Você, que está desempregada, é pensionista, aposentada, dona de casa ou professora, que tal ganhar dinheiro vendendo as jóias...?
Fiquei pensando no nosso status social e me senti tremendamente valorizada. É isso aí. Professor é, sim, camelô. O que ela disse não foi nada aberrante. Foi a constatação de que a nossa profissão não enche barriga e que o professorado faz bico mesmo. Se não der aula em três, quatro escolas (o que já é um bico, no final da história), ele vende bugigangas para os seus pares e até na sala de aula. Só nunca tinha visto isso dito assim, tão naturalmente, na televisão. Terminado o recado, o "MC Creu", a "Moranguinho" e a "Jaca" voltaram a ser a atração do programa. Esses, sim, é que são valorizados, pelo menos, por enquanto. Até que outro produto descartável surja em seu lugar e esses aí voltem ao mesmo programa contando os dramas do ostracismo.
E assim caminha a nossa sociedade... (Fonte: Observatório da Imprensa)
* A autora é : Professora do Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense e professora durante 10 anos da rede pública de ensino do Rio de Janeiro
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