São Paulo (Adriana Bernardino) - Assim como os carros obedecem a certo padrão universal de funcionamento, os motoristas também são influenciados por motivações arquetípicas, isto é, experiências comuns a todos os homens, como o nascimento, o envelhecimento e a morte. Ainda que cada um tenha o seu jeitão de dirigir, todos são, de certa forma, impactados por uma espécie de herança do comportamento da humanidade.
Os arquétipos, segundo explica o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, se comportam como forças ou tendências à repetição das mesmas experiências.
Ninguém melhor do que os mitos para mostrar como esses arquétipos afetam nosso comportamento, pois falam dos valores inerentes à condição humana. Nas palavras de Joseph Campbell, “mitos são aquilo que os seres humanos têm em comum; são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos.”
Ao volante, embora um “deus” predomine mais, podemos também ser influenciados por outros arquétipos, dependo da situação. Descubra que personalidade olímpica você mais incorpora no trânsito e o que esperar dela.
Características dos mitos
Zeus: organização disciplina.
Hermes: extroversão, aventura.
Pã: diversão, impulsividade.
Hades: inconstância, irritação.
Perséfone: introspecção, reflexão.
Deméter: segurança, integridade.
Cronos: desânimo, cansaço.
Hércules: coragem, disciplina.
Hecate: incerteza, confusão.
Zeus
Talvez pelo posto ancestral de senhor do universo, o motorista que tem Zeus como principal arquétipo se acha o dono da rua. Zeus não só sobreviveu à neura do pai, o Titã Cronos, de engolir os próprios filhos, como o destronou, assumindo o controle do céu e da terra.
Diante desse currículo, fica fácil imaginar com que autoridade e perfeccionismo o indivíduo influenciado por Zeus guia, e que nível de exigência tem com os demais motoristas.
Dele se pode esperar trajetos esquematizados, atalhos friamente calculados, pontualidade britânica e carro impecável de limpo. Lado bom é que o carona não há com que se preocupar ou temer.
O aspecto negativo fica por conta da inflexibilidade e arrogância. Ele julga não haver mortal capaz de lhe ensinar algo ou dirigir melhor do que ele. O temperamento implica também uma tendência a críticas tão estrondosas quanto os trovões que carrega nas mãos. Se emparelhar com algum barbeiro ou irresponsável, na certa dará um sermão daqueles.
Hermes
Típico filhinho de papai (no caso, nada menos que Zeus), os motoristas que incorporam Hermes, o deus mensageiro, são muito perspicazes, mas não herdaram a responsabilidade do senhor supremo.
Hermes era considerado protetor dos viajantes, talvez por isso àqueles sob sua influência adorem uma aventura sobre rodas, partir em viagens longas ou de fim-de-semana. O negócio é botar as rodas na estrada.
São ótimos de lábia e requisitados pelos amigos que precisam de argumentos convincentes para recorrer de multas. O deus era tão persuasivo que ganhou o posto de único filho bastardo de Zeus a ter a simpatia da ciumenta e da vingativa Hera, sua mulher.
Sob a influência de Hermes (ou lei de Gerson), o motorista gosta de dar sempre um jeitinho de burlar as Leis instaladas. Para aumentar a vida útil do corpo e da habilitação, vale prestar atenção aos impulsos e resistir ao som da lira do deus, que convida a uma direção egoísta. A recompensa (boa o ruim) é implacável.
Pã
No último mês ficou mais fácil identificar quem dirige sob a ação psicológica do deus dos bosques, filho de Hermes: os beberrões que se revoltaram homericamente contra a Lei seca na direção.
Amante da diversão, esses motoristas são muito requisitados pelos amigos por ser aquele tipo que dá graça às festas. Alegre e divertido, não faltam convites para baladas, o que dificulta encontrar saídas para não dirigir embriagado e irresponsavelmente.
Por ser metade homem, metade bode, causando repulsa até mesmo na mãe, a ninfa Driops, os afetados por Pã costumam sofrer de baixa auto-estima. Correm mais riscos de se meter em encrenca.
Não há razão, não há Lei nem ordem para ele. A supremacia do instinto sobre a razão pode levá-lo a explodir a qualquer momento, sair do carro e reagir com violência. Vale lembrar que Pã, apesar de deus, não foi imortal. Se você se sente dominado por esse arquétipo, pense seriamente em iniciar uma terapia e reservar parte do orçamento para o táxi ou se adaptar a carona dos amigos.
Hades
Irmão de Zeus, Hades é o senhor das trevas, deus do mundo inferior, reino dos mortos. Deu para sentir o drama? Estar sob a influência dele, é dirigir com inconstância, mudar repentinamente de idéia, de percurso. Caminho bom é sempre o outro. E isso vale também para os veículos que compra.
Sob o arquétipo de Hades, o motorista vive com a impressão de que a faixa que anda mais é sempre a que ele não está. Impaciente com as coisas como elas são, costuma provocar o caos no trânsito.
Egoísta, ignora a necessidade de outros motoristas (Hades raptou Perséfone, jovem donzela, que foi obrigada a viver com ele nas trevas). Carona também não é com ele, já que nada sai de graça. Era costume de alguns povos colocarem uma moeda na boca do defunto, destinada ao deus.
Hades era muito temido. Depois de entrar em seu reino, nem mesmo um deus poderia sair, principalmente porque no portão do mundo inferior estava Cérbero, seu tenebroso cão de três cabeças. Talvez por isso, quem guia sob a influência do senhor das trevas não consegue se distanciar o necessário para se avaliar. Se você admitir que, uma vezinha ou outra, se comporta assim, dê o passo seguinte e arrisque uma auto-análise. Caso contrário, não é possível melhorar.
Perséfone
Mesmo sendo filha de quem era – Deméter, deusa soberana da natureza, Mãe Terra – Perséfone não pôde fugir do triste destino de ser raptada por Hades, senhor dos Infernos, e se tornar guardiã dos segredos dos mortos.
Dirigir, para alguém que esteja sob sua influência, é rodar profundamente por mundos interiores. Dá medo de pegar carona com esse tipo de motorista, pois as paisagens de fora podem despertar falas poéticas ou reflexões inconscientes, o que leva a crer que ele não está prestando atenção no caminho (e realmente não está).
Silencioso, jamais bate boca no trânsito, seu olhar, entretanto, pode desconcertar os vizinhos de pista, já que parece ver os defeitos mais escondidos.
É paciente - Perséfone tinha de esperar três meses, quando ficava ao lado de Hades, para ver a mãe novamente. Intui caminhos e os aproveita para se lembrar dos sonhos da noite anterior. Bom ficar atento, a intuição, sozinha, não vai livrá-lo de todos os riscos.
Deméter
Responsável por reger os ciclos da natureza e de todas as coisas vivas, sob a influência da deusa Deméter, o motorista é maduro e responsável. Todos os ritos de perpetuação eram abençoados por ela.
Se o projeto de direção defensiva tiver um arquétipo inspirador, certamente é o de Deméter. Além desse, as Leis que se preocupam com a integridade do corpo no carro, principalmente de crianças.
Regido pela Mãe Terra, o motorista é seguro de si, preocupado com a própria segurança e com dos demais companheiros de trânsito. Dificilmente se desliga da realidade. Com ele, os caronas podem andar sem medo, ou até dormir durante viagem longa, já que não correm risco do piloto se distrair ou fugir da realidade.
Depois de ter sua filha raptada por Hades, deus do mundo inferior, Deméter tornou-se enfurecida. Por isso, ao se sentir lesado, esse tipo de motorista pode tornar-se egoísta, não ter dó de ciclistas indefesos, muito menos de pedestres velhinhos mais lentos que farol. Paciência é a palavra de cura.
Cronos
Mais novo Titã, filho de Urano e Gaia, Cronos, a pedido da mãe, cortou os testículos de Urano e se tornou o soberano da terra. Diferente do que acontece com os influenciados por Zeus – seu filho e responsável pelo seu também destronamento – os motoristas inspirados por Cronos já não estão com esse pique todo.
Assim como o deus do Tempo, os motoristas precisam aceitar que, por um motivo ou outro, deveriam abandonar o volante ou dirigir menos. Desanimados, se ainda pegam o carro é por acreditar que não há alternativa.
Cansados da agitação da vida e os fatos que compõem a realidade mundana, depositam no carro a responsabilidade por separá-los da natureza e da paz interior.
Têm a experiência e sabedoria que só o tempo – e não a luta – traz. Por isso, não se exultam frente a barbeiragens nem se estressam diante de congestionamentos quilométricos. Apenas não gostariam mais de estar ali. Aposentar o carro é possível, comece a treinar em pequenas distâncias, onde uma bicicleta ou caminhada vão muito bem.
Hércules
Filho de uma das muitas traições de Zeus, Hércules não teve a mesma sorte de Hermes. Enlouquecido por Hera, ele matou os próprios filhos e a esposa durante um ataque de fúria. Para reparar a tragédia, se submeteu aos famosos 12 trabalhos.
Motivado por uma culpa que não é dele, o motorista sob o arquétipo de Hércules sente-se impelido a ajudar os outros em quaisquer circunstâncias. Não é todo congestionamento que o deixa abatido. É muito corajoso e disciplinado na direção.
Entre suas 12 questões no trânsito estão a preocupação em comprar um veículo menos poluente, livrar o carro de desconhecidos de enchentes ou trocar pneu, ajudar um vizinho de pista que sofre um assaltado, levar amigos alcoolizados para casa e por aí vai.
O maior desafio do motorista influenciado por Hércules, entretanto, é vencer o leão que habita em suas profundezas. Tanto heroísmo pode virar do avesso se alguém lhe tirar do sério. Quando enfurecido, torna-se muito perigoso e é capaz de provocar brigas violentas no trânsito.
Hecate
O que esperar da deusa soberana da Lua e das Trevas? Responsável por enviar os demônios para atormentar os homens por meio dos sonhos, o motorista influenciado por Hecate é o tipo mais confuso e caótico do tráfego.
Ansioso e assustado sem saber ao certo com o quê, ele freia desnecessariamente, dança entre as faixas, pára para assistir acidentes e, depois, dirige sob o pânico de ser aquele fato uma mensagem para sua vida.
A falta de lucidez do qual o motorista é tomado não diz respeito apenas aos seus problemas, mas o de toda humanidade, já que Hecate abarca o profundo inconsciente coletivo. Está sempre perdido, mesmo em caminhos conhecidos. Tomados por pensamentos e frases incompletas, tem dificuldade até para pedir informação. E se a recebe não decora. Os taxistas são suas principais vítimas.
O motorista sob a influência de Hecate é um perigo ambulante, já que tanta confusão, incerteza e instabilidade emocional podem gerar conflitos de larga proporção. O conselho é: se você se sentir meio Hecate, não dirija (Fonte: MSN Automóvel).
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Em tempos de "Lei Seca"
Quem diria! Você, um deus grego
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