*Ricardo Sá
Recentemente, dois amigos me contaram suas experiências amorosas. O mais jovem me disse que havia “ficado” com alguém, que não sabe ainda o que quer, que sabe menos ainda se vai continuar “ficando”, deixando para decidir semana que vem. Até o Dia dos Namorados tem tempo.
O outro, mais vivido, revelou que estava chocado em relação às mulheres. Das últimas dez mulheres com quem ele havia mantido relações sexuais, oito nem se importaram em usar camisinha. Estava impressionado com o comportamento descuidado e competitivo que ele havia encontrado naquelas parceiras. Preocupado, afirmou com suspirosa esperança que vai continuar sua busca, nada fácil, pela companheira ideal.
A fim de dar um rumo à nossa conversa, ao primeiro eu recomendei que cuidasse para não ficar se agarrando por aí; que namoro é época de conhecimento mútuo, exercício de amizade e aprendizado sobre o amor. Ele sorriu, sem saber como continuar a conversa. Parecia meio desconcertado, sem ter a mínima idéia do que eu estava falando. Simplesmente, mudou de assunto.
Ao mais experiente, falei de Deus e do perigo que cercava seu futuro incerto. Nossa conversa tomou o rumo da realização afetiva, e eu deixei claro que não haveria muito tempo assim para experimentar tanto e tantas. Ele prometeu pensar no assunto e fez ares de desconforto. Deve ter seguido seu caminho sem vontade de repensar sua trajetória.
Em um breve encontro, os dois amigos deram a mais clara demonstração de individualismo. Sem dúvida, esse é um dos maiores males que trucidam o restinho do sentido da vida. Além disso, parece que existe aquela equivocada consciência de eternidade. Isto é, o homem vive como se fosse deus; como que se fosse eterno e absoluto proprietário de sua vida.
Individualismo e falso senso de imortalidade. Relacionamentos superficiais e falta de educação religiosa. Ausência de Deus e frágeis laços familiares. Carência afetiva e as doenças das emoções. Afinal, quando é que vamos conversar sobre o que está realmente acontecendo?
Enquanto isso não acontece, a maioria prefere não ficar sozinha. “Ficando” com alguém, nossos filhos, amigos e tanta gente querida seguem suas estradas multiplicando a solidão. Já não comemoram o Dia dos Namorados, mas o dia dos ‘ficantes’ perdidos. (Fonte: Ex-Libris Comunicação Integrada)
* O autor é músico e membro da comunidade Canção Nova (www.cancaonova.com)
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