TERRA DOS HOMENS
"A terra nos ensina mais sobre nós mesmos que todos os livros. Porque nos oferece resistência. Ao enfrentar um obstáculo, o homem aprende a se conhecer. Contudo, para superá-lo, ele necessita de uma ferramenta. Uma plaina, um arado. O lavrador, em sua labuta, vai arrancando lentamente alguns segredos à natureza... e a verdade que obtém é universal.
Tenho ainda, diante dos olhos, a imagem de minha primeira noite de vôo na Argentina - uma noite escura onde cintilavam isoladas, como estrelas, as raras luzes esparsas na planície.
Cada uma assinalava, naquele oceano de trevas, o milagre de uma consciência. Naquele lar, alguém lia, ou meditava, ou entregava-se a confidências. Naquele outro, talvez, alguém procurava sondar o espaço, consumia-se em cálculos a respeito da nebulosa de Andrômeda. Mais além, alguém amava. De longe em longe luziam esses fogos na campanha, pedindo sustento. Até os mais discretos: o do poeta, o do professor, o do carpinteiro. Mas entre essas estrelas vivas, quantas janelas fechadas, quantas estrelas extintas, quantos homens adormecidos...
É preciso fazer um esforço para se reunir. É preciso tentar se comunicar com alguns desses fogos que ardem, de longe em longe, na campanha."
Saint-Exupéry escreveu este preâmbulo em seu livro Terre des Hommes.
No meio ambiente, a maioria dos grandes problemas globais, nada mais são que a soma dos pequenos problemas locais. Que ocorrem perto de onde você mora, no local em que seu filho
estuda, próximo de onde sua mulher trabalha. Aqui e acolá. São fogos que ardem de longe em longe.
Ao escrever aquele preâmbulo, Saint-Exupéry não fazia referências à ecologia. Mas, se as verdades são etenas, tão duráveis quanto elas, são as leis que regem o mundo natural. Por isso, hoje, tanto quanto ontem: é preciso tentar se comunicar com alguns desses fogos que ardem, de longe em longe...
Até porque eles são raras luzes esparsas na planície e, neste oceano de trevas, cada um deles assinala o milagre de uma consciência.
Assim se constróem as redes de soluções na terra dos homens.
Um forte abraço e até sexta que vem.
Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos
(Edições anteriores do Recado do Cheida estão disponíveis no site http://www.cheida.com.br)
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