quarta-feira, 11 de abril de 2012

Festival de cinema É Tudo Verdade chega à cidade




A fita 1/2 revolução de Karim El Hakim e Omar Shargawi é uma das produções que integram a mostra
A Praça Tahrir, no Cairo, ardia em chamas enquanto informações trocadas entre combatentes contabilizavam mortos e feridos. O ano é 2011 e um grupo de amigos, do qual fazia parte o cineasta egípcio Karim El Hakim e o dinamarquês de origem palestina, Omar Shargawi, não se interessou em participar, na condição de voluntário, de qualquer guerra. Mesmo assim, foram envolvidos nos protestos pela deposição do ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder do Egito. A Primavera Árabe, exposta sem a mediação das grandes agências de notícias, é mais violenta do que as grandes corporações midiáticas nos fizeram acreditar. 1/2 revolução é dos poucos filmes não cinebiográficos selecionados para exibição na versão reduzida do É Tudo Verdade — Festival Internacional de Documentários, de terça a domingo, exibido gratuitamente, no Centro Cultural Banco do Brasil. 

“É um feito inédito entre os grandes festivais, de documentário ou generalistas, aqui ou no exterior, realizá-lo simultaneamente em duas cidades, São Paulo e Rio de Janeiro. O ideal raramente é factível”, explica o fundador e diretor do festival, Amir Labaki, comentando a quantidade menor de filmes em Brasília e a logística do evento, o maior do gênero na América Latina, encerrado em 1º de abril nas duas praças.

Testemunhas de um momento histórico intenso, filmes com o hiper-realismo de 1/2 revolução (nos moldes da trilogia A batalha do Chile (1975-1979), de Patrício Guzmán), fazem parte de uma configuração tecnológica acessível e do novo controle dos meios de produção audiovisual. A internet e os celulares modificaram nossa percepção dos movimentos sociais recentes tanto em países como Líbia e Líbano quanto nos Estados Unidos do Occupy Wall Street. Nesse contexto, os documentários, que sempre foram considerados registros históricos, são feitos por produtores independentes e vêm organizando informações desencontradas sobre revoluções em curso.

Numa balança injusta, os filmes do real, ainda experimentam dificuldades quanto à distribuição em salas de projeção tradicionais no mundo todo. “O barateamento da tecnologia é um fator importante entre vários. Um desafio importante para o documentário me parece ser a consolidação de estratégias que permitam uma presença menos fugaz nas salas de cinema. Um número maior de filmes tem estreado, mas raramente dispõe de recursos em escala profissional e competitiva para distribuição e divulgação”, reflete Labaki, autor dos livros Introdução ao documentário brasileiro e O olho da revolução — O cinema urgente de Santiago Alvarez, entre outros.

Documentos especiais 
Nesta terça, às 19h, os arquivos audiovisuais do produtor italiano Dino Cazzola, datados da época da construção de Brasília, ressignificados pela direção de Andréa Prates e Cleisson Vidal, serão apresentados em sessão seguida de debate do filme Dino Cazzola — Uma filmografia de Brasília. Os dois diretores farão parte da mesa em que também participam o próprio Cazzola e Vladimir Carvalho, com mediação de Labaki. Cabra marcado para morrer, o documentário mítico de Eduardo Coutinho, será exibido, com cópia restaurada, em sessão única, na quinta, às 18h50. A fita recuperada já havia sido exibida aqui durante a mostra Cineastas e imagens do povo, em 2010, no CCBB.

O que assistir

Com amor, Carolyn
De Maria Ramstrom e Malin Korkeasalo. Documentário sobre a vida privada da geração de escritores beatnik por meio da relação amorosa entre Carolyn Cassady, Neal Cassady e Jack Kerouac. Participou da seleção do Festival de Tribeca ano passado e revela os bastidores de um triângulo amoroso marcado por uso de drogas e abandonos. Terça, às 15h.

Mr. Sganzerla — Os signos da luz 
De Joel Pizzini. A linguagem poética de Pizzini impõe ritmo ao filme/colagem sobre o cineasta marginal Rogério Sganzerla, morto em 2004. Sganzerla, autor de O bandido da luz vermelha (1968), Sem essa, aranha (1970) e O signo do caos (2003), é representado em ensaio narrado em primeira pessoa. O documentário venceu a competição nacional do festival. Domingo, às 17h.

Jorge Mautner — O filho do holocausto 
De Pedro Bial e Heitor D’Alincourt. O escritor e poeta Jorge Mautner é apresentado desde as origens familiares, filho de refugiados europeus, até a as parcerias com Nelson Jacobina, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Sábado, às 21h.

Carrière 250 metros
De Juan Carlos Rulfo. O escritor e roteirista de Jean-Claude Carrière é desenhado em retrato intimista pelo diretor mexicano. O francês foi roteirista de vários filmes do mítico cineasta espanhol Luis Buñuel, O discreto charme da burguesia (1972) e A bela da tarde (1967). Domingo, às 21h.

Jardins Lawnswood 
De Pawel Kuczynski. O sociólogo polonês, opositor do regime comunista, Zygmunt Bauman, repassa a própria trajetória e a vida após a morte da esposa. Sexta, às 19h.

Planeta Caracol 
De Seung-Jun Yi. Young-Chan perdeu a visão e a audição ainda na infância. Quebrou a incomunicabilidade com resto do mundo ao aprender a se comunicar por toques em braile com a esposa, Soon-Ho, uma mulher de estatura reduzida e um amor gigante. Domingo, às 15h. 


Fonte: Yale Gontijo (Correio Braziliense)



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