Lições de uma “barriga” digital
* Carlos Castilho
A empresa aérea norte-americano United Airlines ainda tenta se recuperar de um terremoto financeiro na Bolsa de Valores de Nova York provocado por uma “barriga” jornalística gerada por um robô eletrônico.
As ações da United quase viraram pó no dia 9 de setembro, depois que o serviço financeiro Bloomberg distribuiu a seus assinantes uma notícia anunciando a concordata da segunda maior empresa aérea dos Estados Unidos.
A informação provocou ondas de choque entre os investidores norte-americanos, para desespero da United, cujo desmentido sobre o pedido de concordata deixou o mercado anda mais confuso.
A situação só clareou depois que os vários protagonistas do incrível erro jornalístico começaram a se explicar. Uma editora do serviço de notícias econômicas Income Securities Advisors, especializado em informações sobre empresas em dificuldades, fez uma busca no Google usando as palavras-chaves Bankrupcy 2008 (Concordatas 2008) e obteve como um dos primeiros resultados uma matéria do jornal South Florida Sun Sentinel, anunciando que a United havia pedido concordata.
A informação foi passada ao boletim econômico online Bloomberg que imediatamente a colocou na rede, onde foi detectada pelos operadores da Bolsa de Valores de Nova York que, ato continuo, começaram a vender freneticamente as ações da United, a qualquer preço.
Só que a informação captada pela funcionária da Income Security Advisors era velha e se referia a uma matéria publicada em dezembro de 2002, pelo Sun Sentinel, quando a United realmente pediu uma concordata que foi posteriormente suspensa. Como a data da publicação não aparecia no alto da notícia, o robô eletrônico do mecanismo de buscas Google a recolheu e indexou como se fosse atual, o que logo chamou a atenção de outros internautas que a acessaram, levando-a ao topo da lista de resultados.
A partir daí formou-se uma cadeia de eventos causadora de um desastre informativo, que seguiu uma velha máxima aeronáutica: uma tragédia aérea nunca tem uma única causa. Toda a seqüência de fatos está detalhada numa investigação promovida pela Google e publicada no blog da empresa
Neste episódio, a United não chegou a perder nenhum avião e nem amargou vítimas humanas, mas quase sofreu uma tragédia financeira, porque o ambiente que rodeia a empresa, neste inicio de setembro, está marcado por ameaças de greve e dificuldades para enfrentar o aumento do preço dos combustíveis.
A análise dos fatos mostra que o erro inicial pode ser considerado trivial, o tornou a situação ainda mais preocupante. Se houve algum responsável, este foi o jornal Sun Sentinel que colocou, equivocadamente, no pé da página da seção econômica uma noticia que deveria estar no arquivo. A partir daí, a cadeia informativa do jornalismo eletrônico funcionou automaticamente.
Quando o erro foi identificado, choveram críticas e alertas sobre a confiabilidade do jornalismo online e em especial sobre os sistemas de busca. A Google corrigiu rapidamente o problema provocado pela bobeada do seu robô, mas o episódio mostrou que situações similares podem estar ocorrendo, sem que os leitores e até mesmo os envolvidos no processamento eletrônico de notícias se dêem conta.
A forma como a cadeia informativa está se organizando no mundo inteiro cria um ambiente favorável a que erros triviais provoquem grandes “barrigas”, porque a pressa em publicar para ganhar da concorrência acaba eliminando o tempo para uma avaliação e contextualização mínimas.
O caso da notícia da GloboNews sobre queda de um avião da Pantanal em São Paulo, em maio passado, é uma prova disso. A fumaça provocada pelo suposto desastre na verdade era um incêndio numa fábrica de colchões.
Com isto o leitor acaba sendo obrigado a fazer ele próprio esta leitura crítica da mídia, fato que está se tornando mais uma rotina obrigatória na era da avalancha informativa. (Fonte: Observatório da Imprensa)
O Autor é: * Repórter - revista Fatos & Fotos, * Redator internacional - JB * Editor internacional – Opinião * Editor internacional - O SOL * Editor telejornais - TV Globo * Chefe do escritório da TV GLobo em Londres * Redator - Cadernos do Terceiro do Terceiro Mundo * Correspondente latino americano do jornal Público - Lisboa * Editor internacional do JB * Editor associado do The World Paper - Boston * Editor latino-americano da agência IPS - Costa Rica * Consultor de advocacy na mídia para a União Européia * Consultor projeto Trix (web) em Florianópolis * Consultor projeto TNext (web) RJ * Professor de Jornalismo Online no curso de Mídia Eletrônica, Faculdades ASSESC (Florianópolis) * Autor do capítulo Webjornalismo no livro No Próximo Bloco - Editora PUC/Rio -2005. * Autor do prefácio e tradução do livro Jornalismo 2.0, de Mark Briggs, publicado pelo Centro Knight, da Universidade do Texas. * Cursando pós graduação em Mídia e Conhecimento no EGC/UFSC. -Reside em Florianópolis / SC email ccastilho@gmail.com.
* Carlos Castilho
A empresa aérea norte-americano United Airlines ainda tenta se recuperar de um terremoto financeiro na Bolsa de Valores de Nova York provocado por uma “barriga” jornalística gerada por um robô eletrônico.
As ações da United quase viraram pó no dia 9 de setembro, depois que o serviço financeiro Bloomberg distribuiu a seus assinantes uma notícia anunciando a concordata da segunda maior empresa aérea dos Estados Unidos.
A informação provocou ondas de choque entre os investidores norte-americanos, para desespero da United, cujo desmentido sobre o pedido de concordata deixou o mercado anda mais confuso.
A situação só clareou depois que os vários protagonistas do incrível erro jornalístico começaram a se explicar. Uma editora do serviço de notícias econômicas Income Securities Advisors, especializado em informações sobre empresas em dificuldades, fez uma busca no Google usando as palavras-chaves Bankrupcy 2008 (Concordatas 2008) e obteve como um dos primeiros resultados uma matéria do jornal South Florida Sun Sentinel, anunciando que a United havia pedido concordata.
A informação foi passada ao boletim econômico online Bloomberg que imediatamente a colocou na rede, onde foi detectada pelos operadores da Bolsa de Valores de Nova York que, ato continuo, começaram a vender freneticamente as ações da United, a qualquer preço.
Só que a informação captada pela funcionária da Income Security Advisors era velha e se referia a uma matéria publicada em dezembro de 2002, pelo Sun Sentinel, quando a United realmente pediu uma concordata que foi posteriormente suspensa. Como a data da publicação não aparecia no alto da notícia, o robô eletrônico do mecanismo de buscas Google a recolheu e indexou como se fosse atual, o que logo chamou a atenção de outros internautas que a acessaram, levando-a ao topo da lista de resultados.
A partir daí formou-se uma cadeia de eventos causadora de um desastre informativo, que seguiu uma velha máxima aeronáutica: uma tragédia aérea nunca tem uma única causa. Toda a seqüência de fatos está detalhada numa investigação promovida pela Google e publicada no blog da empresa
Neste episódio, a United não chegou a perder nenhum avião e nem amargou vítimas humanas, mas quase sofreu uma tragédia financeira, porque o ambiente que rodeia a empresa, neste inicio de setembro, está marcado por ameaças de greve e dificuldades para enfrentar o aumento do preço dos combustíveis.
A análise dos fatos mostra que o erro inicial pode ser considerado trivial, o tornou a situação ainda mais preocupante. Se houve algum responsável, este foi o jornal Sun Sentinel que colocou, equivocadamente, no pé da página da seção econômica uma noticia que deveria estar no arquivo. A partir daí, a cadeia informativa do jornalismo eletrônico funcionou automaticamente.
Quando o erro foi identificado, choveram críticas e alertas sobre a confiabilidade do jornalismo online e em especial sobre os sistemas de busca. A Google corrigiu rapidamente o problema provocado pela bobeada do seu robô, mas o episódio mostrou que situações similares podem estar ocorrendo, sem que os leitores e até mesmo os envolvidos no processamento eletrônico de notícias se dêem conta.
A forma como a cadeia informativa está se organizando no mundo inteiro cria um ambiente favorável a que erros triviais provoquem grandes “barrigas”, porque a pressa em publicar para ganhar da concorrência acaba eliminando o tempo para uma avaliação e contextualização mínimas.
O caso da notícia da GloboNews sobre queda de um avião da Pantanal em São Paulo, em maio passado, é uma prova disso. A fumaça provocada pelo suposto desastre na verdade era um incêndio numa fábrica de colchões.
Com isto o leitor acaba sendo obrigado a fazer ele próprio esta leitura crítica da mídia, fato que está se tornando mais uma rotina obrigatória na era da avalancha informativa. (Fonte: Observatório da Imprensa)
O Autor é: * Repórter - revista Fatos & Fotos, * Redator internacional - JB * Editor internacional – Opinião * Editor internacional - O SOL * Editor telejornais - TV Globo * Chefe do escritório da TV GLobo em Londres * Redator - Cadernos do Terceiro do Terceiro Mundo * Correspondente latino americano do jornal Público - Lisboa * Editor internacional do JB * Editor associado do The World Paper - Boston * Editor latino-americano da agência IPS - Costa Rica * Consultor de advocacy na mídia para a União Européia * Consultor projeto Trix (web) em Florianópolis * Consultor projeto TNext (web) RJ * Professor de Jornalismo Online no curso de Mídia Eletrônica, Faculdades ASSESC (Florianópolis) * Autor do capítulo Webjornalismo no livro No Próximo Bloco - Editora PUC/Rio -2005. * Autor do prefácio e tradução do livro Jornalismo 2.0, de Mark Briggs, publicado pelo Centro Knight, da Universidade do Texas. * Cursando pós graduação em Mídia e Conhecimento no EGC/UFSC. -Reside em Florianópolis / SC email ccastilho@gmail.com.
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