*Luciano Pires
E lá estava eu, na cidade do Porto, em Portugal. Linda, surpreendente. Participei de um evento no prédio da Alfândega, uma área portuária muito antiga que foi revitalizada e transformada em local para eventos. Conversando com os locais, a pergunta óbvia:
– Que idade tem a cidade do Porto?
– Ah, não tenho certeza. Mas parece que já existia algo por aqui 400 anos antes de Cristo...
Olha só: 400 anos antes de Cristo! Quando o Brasil foi descoberto Porto já tinha 1.900 anos! Vi ruazinhas medievais, prédios antigos maravilhosos, tudo reformado, impecável. E para todo lado aquela arquitetura portuguesa típica, dos azulejos, das casas geminadas, das fachadas com janelões e balcões. Ali estão nossas origens. E, também surpreendentemente, hospedei-me num dos hotéis mais modernos que já conheci. Mas o mais interessante aconteceu durante o jantar que se seguiu à palestra que realizei para cerca de 200 pessoas. Um “gajo” vem na minha direção. Não esperei o cumprimento habitual, já soltei a gracinha:
– Diga, ó pá.
– Olá Luciano. Sou brasileiro.
Claro. Tava demorando. Para todo lado existem brasileiros em Portugal. Todos com histórias interessantes. O nome dele é Levi Costa. Paulista do ABC. Quatorze anos atrás, aos 19 anos, Levi pegou um avião apenas com um terninho e uma gravata. Sem dinheiro e sem conhecer ninguém, foi para Portugal, direto para a cidade do Porto. Hospedou-se numa pousadinha no centro da cidade. Era janeiro. Dos quase 30 graus de São Paulo, foi parar nos 5 graus de Portugal. Ficou uma semana sem sair do quarto. Até aventurar-se a procurar um emprego. E começou assim uma história que envolve passar fome, transferir-se para Lisboa, voltar para o Porto, casar com uma portuguesa e conseguir emprego numa revenda de automóveis onde trabalhou por cerca de 6 anos.
– Fui pegando os macetes.
Um dia Levi percebeu que havia atingido o teto. Não havia mais perspectiva de crescimento. Largou o emprego e atirou-se em sua segunda loucura: com o mínimo de capital que tinha, abriu uma loja de automóveis. E hoje tem 30 carros, é figura conhecida na cidade, viaja ao Brasil uma ou duas vezes por ano, comprou um apartamento na cidade de São Paulo e está feliz da vida. Esse é o Levi do Porto. Um sujeito simpático, humilde, batalhador, corajoso e orgulhoso com tudo que conseguiu. Um brasileiro. Como milhares de outros que vivem no exterior e que construíram o futuro a partir do zero. Meu avô fez a mesma coisa, ao inverso. Veio para o Brasil em 1913, aos 15 anos, com uma mão na frente e outra atrás. Ao falecer, com quase 102 anos de idade, tinha construído uma vida exemplar. Do zero. Refleti sobre quais atributos fizeram o Levi do Porto ter sucesso em sua empreitada. Simpatia. Coragem. Dedicação. Vontade de trabalhar. Humildade. Persistência. Inteligência... Essas coisas básicas que quase todos temos. E que deixam nervosos alguns brasileiros que não admitem que o primeiro passo para o sucesso é querer. Mas é claro que não basta querer. Tem que ter sorte. A sorte do Levi do Porto, que nunca optou pela lógica, pelo consenso, pela segurança. Agora, cá entre nós, na história do Levi, quanto você acha que foi sorte e quanto foi trabalho, hein? Eu tenho minha opinião. E para coroar a visita à cidade do Porto fui apresentado a uma poeta portuguesa já falecida, natural daquela cidade: Sophia de Mello Breyner Andresen. Abro o site dela e dou de cara com um poema chamado “Porque”, que por coincidência (ou não?), explica a saga do Levi.
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Viu só? Na poesia de Sophia, a pista para entender o Levi do Porto. Que em Portugal é conhecido como Levi do Brasil, um brasileiro que deu certo.
E lá estava eu, na cidade do Porto, em Portugal. Linda, surpreendente. Participei de um evento no prédio da Alfândega, uma área portuária muito antiga que foi revitalizada e transformada em local para eventos. Conversando com os locais, a pergunta óbvia:
– Que idade tem a cidade do Porto?
– Ah, não tenho certeza. Mas parece que já existia algo por aqui 400 anos antes de Cristo...
Olha só: 400 anos antes de Cristo! Quando o Brasil foi descoberto Porto já tinha 1.900 anos! Vi ruazinhas medievais, prédios antigos maravilhosos, tudo reformado, impecável. E para todo lado aquela arquitetura portuguesa típica, dos azulejos, das casas geminadas, das fachadas com janelões e balcões. Ali estão nossas origens. E, também surpreendentemente, hospedei-me num dos hotéis mais modernos que já conheci. Mas o mais interessante aconteceu durante o jantar que se seguiu à palestra que realizei para cerca de 200 pessoas. Um “gajo” vem na minha direção. Não esperei o cumprimento habitual, já soltei a gracinha:
– Diga, ó pá.
– Olá Luciano. Sou brasileiro.
Claro. Tava demorando. Para todo lado existem brasileiros em Portugal. Todos com histórias interessantes. O nome dele é Levi Costa. Paulista do ABC. Quatorze anos atrás, aos 19 anos, Levi pegou um avião apenas com um terninho e uma gravata. Sem dinheiro e sem conhecer ninguém, foi para Portugal, direto para a cidade do Porto. Hospedou-se numa pousadinha no centro da cidade. Era janeiro. Dos quase 30 graus de São Paulo, foi parar nos 5 graus de Portugal. Ficou uma semana sem sair do quarto. Até aventurar-se a procurar um emprego. E começou assim uma história que envolve passar fome, transferir-se para Lisboa, voltar para o Porto, casar com uma portuguesa e conseguir emprego numa revenda de automóveis onde trabalhou por cerca de 6 anos.
– Fui pegando os macetes.
Um dia Levi percebeu que havia atingido o teto. Não havia mais perspectiva de crescimento. Largou o emprego e atirou-se em sua segunda loucura: com o mínimo de capital que tinha, abriu uma loja de automóveis. E hoje tem 30 carros, é figura conhecida na cidade, viaja ao Brasil uma ou duas vezes por ano, comprou um apartamento na cidade de São Paulo e está feliz da vida. Esse é o Levi do Porto. Um sujeito simpático, humilde, batalhador, corajoso e orgulhoso com tudo que conseguiu. Um brasileiro. Como milhares de outros que vivem no exterior e que construíram o futuro a partir do zero. Meu avô fez a mesma coisa, ao inverso. Veio para o Brasil em 1913, aos 15 anos, com uma mão na frente e outra atrás. Ao falecer, com quase 102 anos de idade, tinha construído uma vida exemplar. Do zero. Refleti sobre quais atributos fizeram o Levi do Porto ter sucesso em sua empreitada. Simpatia. Coragem. Dedicação. Vontade de trabalhar. Humildade. Persistência. Inteligência... Essas coisas básicas que quase todos temos. E que deixam nervosos alguns brasileiros que não admitem que o primeiro passo para o sucesso é querer. Mas é claro que não basta querer. Tem que ter sorte. A sorte do Levi do Porto, que nunca optou pela lógica, pelo consenso, pela segurança. Agora, cá entre nós, na história do Levi, quanto você acha que foi sorte e quanto foi trabalho, hein? Eu tenho minha opinião. E para coroar a visita à cidade do Porto fui apresentado a uma poeta portuguesa já falecida, natural daquela cidade: Sophia de Mello Breyner Andresen. Abro o site dela e dou de cara com um poema chamado “Porque”, que por coincidência (ou não?), explica a saga do Levi.
Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Viu só? Na poesia de Sophia, a pista para entender o Levi do Porto. Que em Portugal é conhecido como Levi do Brasil, um brasileiro que deu certo.
Pois é... Eles existem.
*Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.
Para conhecer outras ações do Luciano, dos seus colaboradores e da fertilizadora cultural Café Brasil, acesse http://www.lucianopires.com.br/. Fotos do cronista podem ser obtidas com a assessoria de imprensa.
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