Missão Rondônia
Por: Mara Paraguassu
Não sendo otimista como o personagem da sátira de Voltaire (Cândido ou O Otimismo) e tampouco plenamente pessimista, Rondônia tem jeito.
Os indicadores econômicos divulgados pelo governo de Rondônia nos últimos anos apontam para a decrescente dependência do que chamamos de “economia do contracheque”, com o descortino de outra realidade, em que o setor de serviços (comércio à frente) e a agropecuária se destacam. O setor industrial ainda é pouco diversificado, concentrando-se nos frigoríficos, processamento de alimentos e extração mineral as iniciativas existentes.
Com a chegada das hidrelétricas do rio Madeira e os investimentos do governo federal feitos especialmente em Porto Velho, através de programas do PAC, o cenário acima descrito ganhou impulso, o que permitiu a Rondônia figurar como o terceiro Estado mais rico da região Norte, e exibir indicadores de ordem social – incidência de pobreza, distribuição de renda, mortalidade infantil, Índice de Desenvolvimento Humano e taxa de analfabetismo - que não o envergonham no noticiário nacional.
Estão (os indicadores) em patamar superior a Estados de trajetória histórica consolidada, de emancipação política centenária. Em absoluto, entretanto, se pode afirmar que nesse campo tudo está no melhor dos mundos.
Mas o que envergonha mesmo, e justo agora no momento em que Rondônia comemora 30 anos acompanhamos o desenrolar de mais um escândalo, é a velhacaria aplicada aos políticos que ao longo desse período se servem do Estado mais do que servem a ele, praticando crimes de natureza as mais diversas, o mais odioso o desvio de recursos públicos da educação, da saúde, da segurança pública etc.
Há pelo menos duas décadas o legislativo tem se revelado fonte inesgotável da presença de velhacos, com as honrosas exceções de praxe, sem dúvida um competidor expressivo para se definir o indicador da velhacaria, correndo em paralelo o Executivo, com os escândalos da Ceron, do desvio de recursos da merenda escolar, de instrumentos e recursos para o combate à dengue, das verbas de publicidade, do assalto ao Beron, dos desvios de créditos do Pronaf, das obras paralisadas por década, desvio nos recursos de pontes, estradas e por aí vai. Nos esquemas, atuam juntos, nunca em vôo solo.
A lista de crimes é longa, e longa é a “tolerância” de certos setores da sociedade, incluindo veículos, mais tradicionais e novos que se dizem “jornalísticos”, para com políticos de práticas ultrapassadas e sorrateiras e que extraordinariamente se sustentam como respeitáveis. E a tolerância do povo à corrupção os redimem a cada eleição.
A eles se juntam novos velhacos, gente com fazendas e carros de luxo adquiridos da noite para o dia e que vê Rondônia unicamente como pote de ouro inesgotável para enricar, se valendo hoje como nunca da sutileza conferida pelos ritos da religião, no segundo Estado mais evangélico do pais, para alcançar seus intentos. E têm sido, infelizmente, bem sucedidos.
Não sendo otimista como o personagem da sátira de Voltaire (Cândido ou O Otimismo) e tampouco plenamente pessimista, Rondônia tem jeito. Mas é preciso que os jovens promotores, juízes e funcionários públicos que servem ao Estado e começam a fazer diferença nas instituições (atenção, personalidades antigas respeitáveis existem) mantenham o vigor do combate permanente à velhacaria entranhada nos poderes.
E que o povo, majoritariamente jovem (1 milhão, 55 mil e 748 pessoas têm de 10 a 49 anos), se debruce sobre a educação, o mais valioso investimento de um estado ou pais. “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”, dizia o extraordinário educador Paulo Freire.
À mercê de ciclos - Para este ano de 2012 foi definido um orçamento de pouco mais de R$ 6 bilhões, dinheiro que dá para fazer muita política púbica boa em Rondônia. Para que este orçamento seja estável e crescente, a economia não deve ficar à mercê de ciclos, como o experimentado agora, com a construção das maiores obras do setor elétrico no Brasil.
Transparência - Planejar e promover a sustentabilidade das diferentes vocações econômicas, com responsabilidade social e ambiental, é a missão maior em Rondônia. Da qual não pode estar dissociada outra, de brutal importância para a boa execução das políticas públicas e utilização dos recursos: transparência. Sem ela, a democracia não sobrevive às investidas dos velhacos.
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