Suas Excelências e o eleitor
Mara Paraguassu
A cada legislatura a Assembléia de Rondônia se esmera no campeonato da degenerescência. De quatro em quatro anos, a corrida ao voto do eleitor resulta não na oferta de um parlamento a altura dos desafios de um estado complexo e em formação, mas na associação de um clube com 24 sócios totalmente aptos - em sua grande maioria - a avançar sobre os recursos públicos de forma predatória e criminosa, utilizando-se de instrumentos e vantagens conferidas pelo exercício do cargo de deputado.
O trabalho de Suas Excelências é bastante facilitado, ademais, pela inanição do eleitorado em acompanhar a vida pública dos eleitos. Não há interesse, a menos que o clube disputasse um FLA x FLU, por uma simples razão: o eleitor nem se lembra qual o candidato a deputado estadual, federal ou senador levou seu voto. Pior: não se deu ao trabalho de investigar, no meio do turbilhão de promessas, sorrisos, ofertas indecentes e abuso econômico das campanhas, a ficha dos candidatos.
Expie (e) leitor sua culpa, antes de se colocar de maneira absurdamente raivosa contra os sete parlamentares acusados de formação de quadrilha, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influência, extorsão, falsidade ideológica, peculato, fraude em licitações e lavagem de dinheiro, uns mais outros menos enredados na lista total de crimes investigados pela Operação Termópilas. O leite derramado está, e o assalto ao dinheiro da Saúde foi consumado.
O desinteresse pelas eleições para o Senado, Câmara e Assembléias Legislativas é fenômeno nacional, longe de ser exclusividade rondoniense, o que é confirmado por diversas pesquisas de opinião. Lógico que isso afeta a qualidade dos parlamentos, e no caso de Rondônia o que se assiste é a mais completa e degradante democracia representativa, de nenhuma utilidade para a população.
Nessa legislatura, só 8 (1/3) dos 24 deputados não registram processo judicial em sua ficha. Há de tudo: ação por compra de votos; ação de investigação judicial por captação ilícita de sufrágio; ação penal por uso de documento falsificado; ação penal por desvio de dinheiro dos cofres da Assembléia para pagamento de passagens a familiares (envolvendo vários deputados); ação penal (com vários réus no caso) por formação de quadrilha e peculato (Operação Dominó); ação por improbidade administrativa etc.
O campeonato de processos judiciais é ganho por Marcos Donadon (PMDB), no 5º mandato; Valter Araújo (PTB), 2º mandato e Maurão de Carvalho (PP), 4º mandato. Celebridades do malfeito na mídia local e nacional, gente que deveria ter fundado o clube noutro lugar. Quis o soberano eleitor que fosse na Assembléia Legislativa, há tempos, com prejuízos incalculáveis para quem precisa de políticas públicas na saúde, educação, segurança pública.
Uma coisa é certa: a qualidade do legislativo rondoniense só vai mudar quando mudar também a qualidade do voto.
Campeonato de 2014
No campeonato de 2014, que ninguém se engane: as Excelências encrencadas com a lei mas absolutamente indiferentes a ela por sua perversão e vocação plena ao crime irão novamente se servir da omissão e inanição de parte do eleitorado.
Transparência Brasil
O melhor a fazer é se manter bem informado, para não votar errado de novo. O portal da ONG Transparência Brasil (www.transparencia.org.br) traz tudo sobre a vida de Suas Excelências. O número do inquérito da Operação Termópilas, desencadeada em 18 de novembro, já está no raio-x dos sete deputados de Rondônia. Radiografadas também estão sua variação patrimonial, bens declarados à Justiça Eleitoral, produção legislativa etc.
O chefe
Da lavra do juiz Sansão Saldanha sobre o chefe do clube, Valter Araújo: “Embora se apresente como parlamentar, a constatação faz crer que de fato é proprietário e dono de empresas prestadoras de serviços para órgãos públicos, onde se desenvolvem a corrupção. Por isso, o referido assume a posição de líder no planejamento das inúmeras atividades tidas como delituosas, e conduz os demais integrantes do grupo, que o seguem passo a passo”. Perfeito para sócios “ harmônicos e coesos”, nas palavras do juiz, na intenção de praticar os delitos.
*Mara Paraguassu é jornalista e assessora de Imprensa no gabinete ddo deputado federal Padre Ton
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