terça-feira, 4 de novembro de 2008

Dia Nacional do Livro

EscutaZé!


Blog semanal do jornalista José Luiz Teixeira


No futuro, só restarão os livros.

Dias desses, em uma festa de aniversário infantil, bati um longo papo com o diretor de um grande jornal paulista.
Como depois de três ou quatro indiretas ele se fez de desentendido e não me convidou para fazer um blog no seu portal, resolvi abordar um tema de seu interesse: o futuro dos jornais.
Na sua opinião, a mídia eletrônica vai acabar com a mídia impressa dentro de uma ou duas décadas.
Como tenho a pretensiosa mania de querer ser vanguarda em tudo, já saí na frente: cancelei a assinatura do meu jornal.
Na minha imodestíssima opinião, no que se refere à palavra impressa, no futuro só restarão os livros.
Pode ser que as revistas ainda tenham uma sobrevida maior pela especialização e portabilidade.
É mais fácil de se carregar e de se ler no metrô, na praia, na cama, no banheiro. Mesmo assim, acho que também terão vida curta.
O livro vai durar mais. Além de ser o mais fácil de todos de portar, seu conteúdo é bem maior e mais difícil de ler através de uma tela de computador.
Com o livro, usando apenas seus dedos - um comando bem mais simples do que os indecoráveis control c, control v, alt-shift etc -, você vira a página, sublinha palavras, relê parágrafos, marca citações e, entre outras funções, acha um capítulo em segundos.
Dispensa baterias, fios, tomadas, pendrive, blutúfi, pode cair na areia que não quebra e - o que é mais importante - funciona em qualquer banheiro de qualquer pousada da praia mais deserta do Nordeste. Sem perigo de choque.
E tem ainda outro valor agregado. Se for um livro daqueles bem intelectuais - um Sartre, por exemplo - você pode andar com ele à mostra no metrô ou no ônibus para "tirar uma chinfra" de intelectual - o famoso "intelectual de sovaco".
A verdade é que o jornal impresso é um instrumento de informação, cultura e entretenimento que está se tornando obsoleto. Sua circulação, aliás, já começou a declinar sensivelmente nos Estados Unidos.
No meu caso, o jornal de papel só estava sendo necessário para ler meu colunista preferido, os quadrinhos e o horóscopo do dia. Como agora eles também estão na Internet, não necessito de mais nada dele. É o desapego final.
As notícias do dia ouço no rádio logo cedo, ainda na cama - os locutores da rádio Jovem Pan lêem os jornais do dia inteirinhos para seus ouvintes a partir das seis da madrugada.
Além das notícias, no rádio as entrevistas são mais longas e, portanto, mais profundas. É melhor ouvi-las do que lê-las.
Depois disso, sento-me em frente ao computador e lá já estão as notícias do dia seguinte. Aquelas que estão no jornal (ou no rádio) já envelheceram, pois são do dia anterior.
Tem mais: se alguém estiver interessado em classificados, na Internet é melhor. As casas e os automóveis, por exemplo, anunciados em saites específicos, vêm com descrição maior e fotos de todos os ângulos.
Teria inúmeras outras desvantagens a apontar sobre os jornais impressos - como as milhares de árvores cortadas, o combustível e a energia gastos para que eles circulem diariamente, colaborando para o aquecimento global.
Não quero, porém, abusar da paciência e generosidade de quem conseguiu ler este texto até aqui.
Antes de dar o assunto por encerrado, entretanto, quero responder de antemão à inevitável pergunta que seguramente virá de um dos sete ou oito leitores deste blog: mas o que levar para o banheiro?
Puxando a brasa para minha sardinha, sugiro um livro de crônicas.
Trata-se de leitura leve, coloquial e que demanda o tempo exato que um ser humano deve ficar sentado sobre o vaso sanitário, sem prejudicar a saúde do seu...digamos, epílogo.

Livros à mão cheia
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe-que faz a palma,

É chuva-que faz o mar.
 (Castro Alves)

Você pode ler a íntegra desse poema de Castro Alves no site www.dominiopublico.gov.br


Perfil

Formado em 1974 pela Faculdade Cásper Líbero, José Luiz Teixeira trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais Folha de S.Paulo, O Globo, Rádio Tupi, BBC de Londres e Rádio e TV Gazeta. 
E-mail: escutaze@uol.com.br

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