terça-feira, 22 de abril de 2008

A tragédia virou novela

Alberto Dines

# editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 457,

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

A tragédia da menina Isabella Nardoni converteu-se numa telenovela policial. Com a ajuda dos poderosos holofotes da mídia estamos transformando o país num imenso fórum de Sherlocks Holmes.
A violência contra uma criança de cinco anos vem sendo gradualmente esquecida, Isabella já não horroriza nem comove. Aparentemente esganada e em seguida jogada do sexto andar, Isabella tornou-se secundária. A vítima está importando menos do que o seu ou seus assassinos.
Ao contrário do que ocorreu há pouco mais de um ano, quando o menino João Hélio foi despedaçado pelas ruas do Rio, Isabella passou a ser mero pretexto para despertar o espírito detetivesco, tanto dos mediadores como dos mediados.
Uma das funções da mídia, entre outras, é fazer pensar. Mas, neste caso, ninguém quer pensar – prefere-se acusar, julgar e encerrar o assunto. Mas o interesse da sociedade é fazer justiça. Fazer justiça é uma das maneiras de encerrar este ciclo de crueldade pelo qual pouca gente está realmente se importando.
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A mídia na semana
A.D.
** Este vazamento não foi de dossiê, foi de petróleo: ao informar oficiosamente na segunda-feira (14/4) que descobriram um novo megacampo na bacia de Santos, o diretor geral da ANP, Haroldo Lima, cometeu uma série de erros. Alguns privilegiados ganharam muito dinheiro, mas muita gente não gostou, inclusive o presidente Lula e os sócios da Petrobras, Repsol e British Oil.
** O casal de presidentes Kirchner está de mau-humor: incomodado com a cobertura da imprensa sobre a greve dos produtores rurais, o governo decidiu criar um Observatório de los Medios de Comunicación. Ao contrário deste Observatório da Imprensa, que estimula o debate sobre a imprensa, o observatório argentino é um "ameaçatório" para intimidar os jornais.
** Como se não bastasse, os herdeiros do peronismo querem punir até os Simpsons porque num dos novos episódios designaram o governo de Juan Peron como uma ditadura militar. Parece que está na hora de entoar a canção "Não chores por mim, Argentina".
** O atacante são-paulino Adriano reconheceu que o seu primeiro gol contra o Palmeiras teve a ajuda da mão. Todos os jornais e tevês registraram a infração, mas o juiz é soberano, quem manda em campo é ele. Está na hora de adotar os códigos do futebol americano e do tênis, que permitem contestar o arbítrio dos árbitros. Se a mídia não reagir, breve nosso futebol vai parecer basquete.


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