MITOLOGIA CONTEMPORÂNEA
Conta a mitologia grega que o assustador minotauro, cabeça e rabo de touro e corpo de homem, vivia preso no labirinto de Creta.
À procura de proteínas, dinheiro e holofotes, há dez anos, cientistas inseriram genes humanos em célula fetal de vaca. Depois, fundiram o núcleo desta célula com um óvulo de vaca e implantaram-no em uma outra vaca. Esperava-se que o embrião híbrido produzisse albumina, antibióticos e, principalmente, polpudos lucros. Não deu certo: o esperado minotauro não vingou.
E o tempo passou.
Mês passado, cientistas do Reino Unido retiraram o núcleo do óvulo de uma vaca, e fundiram-no a uma célula epidérmica de embrião humano. Passando uma corrente elétrica por esta nova célula, fizeram-na multiplicar-se por três dias consecutivos. O resultado foi a produção de proteínas humanas, já que a vaca entrou nessa como acionista minoritária pois, de sua bagagem genética, restou só o DNA de suas mitocôndrias.
Agora, em novas experiências, querem o embrião viável por seis longos dias. Neste tempo, extrairão dele as cobiçadas células-tronco e, com elas, acenar com a cura de incontáveis males que afligem os humanos.
Conseguimos! Finalmente, destruímos um personagem mitológico: materializamos uma quimera!* O primeiro embrião híbrido, humano-vaca, aconteceu. Temos o nosso minotauro contemporâneo.
Enquanto lia que a Igreja Católica considerava o experimento
um ataque aos direitos humanos (e nem um pio sobre os direitos vacunos), não pude deixar de ouvir duas vacas, amigas minhas que, alegremente, ruminavam as últimas notícias:
- Sabe, Cynthia, os cientistas dizem que utilizaram óvulos de vaca por falta de óvulos humanos.
- Uma ova, Norma! Eles não nos querem majoritárias nesta associação... Afinal, óvulo de vaca é DNA de vaca. E aí, minha filha, se isso acontecer, desta vez nós ficamos e são eles quem vão para o brejo.
- Pode ser... Mas, tudo tem seu lado bom, amiga.
- Neste caso, qual é?
- No futuro, nosso velho constrangimento terá fim: quando um humano chamar um outro de vaca de presépio será por puro elogio. Garanto!
- Sei... – responde Norma, ácida, cítrica, cínica, sangüínea e descrente.
Um forte abraço e até sexta que vem.
* quimera: figura da mitologia grega, surgida no séc. VII a.C. Popularmente, é toda composição fantástica, absurda, monstruosa.
Conta a mitologia grega que o assustador minotauro, cabeça e rabo de touro e corpo de homem, vivia preso no labirinto de Creta.
À procura de proteínas, dinheiro e holofotes, há dez anos, cientistas inseriram genes humanos em célula fetal de vaca. Depois, fundiram o núcleo desta célula com um óvulo de vaca e implantaram-no em uma outra vaca. Esperava-se que o embrião híbrido produzisse albumina, antibióticos e, principalmente, polpudos lucros. Não deu certo: o esperado minotauro não vingou.
E o tempo passou.
Mês passado, cientistas do Reino Unido retiraram o núcleo do óvulo de uma vaca, e fundiram-no a uma célula epidérmica de embrião humano. Passando uma corrente elétrica por esta nova célula, fizeram-na multiplicar-se por três dias consecutivos. O resultado foi a produção de proteínas humanas, já que a vaca entrou nessa como acionista minoritária pois, de sua bagagem genética, restou só o DNA de suas mitocôndrias.
Agora, em novas experiências, querem o embrião viável por seis longos dias. Neste tempo, extrairão dele as cobiçadas células-tronco e, com elas, acenar com a cura de incontáveis males que afligem os humanos.
Conseguimos! Finalmente, destruímos um personagem mitológico: materializamos uma quimera!* O primeiro embrião híbrido, humano-vaca, aconteceu. Temos o nosso minotauro contemporâneo.
Enquanto lia que a Igreja Católica considerava o experimento
um ataque aos direitos humanos (e nem um pio sobre os direitos vacunos), não pude deixar de ouvir duas vacas, amigas minhas que, alegremente, ruminavam as últimas notícias:
- Sabe, Cynthia, os cientistas dizem que utilizaram óvulos de vaca por falta de óvulos humanos.
- Uma ova, Norma! Eles não nos querem majoritárias nesta associação... Afinal, óvulo de vaca é DNA de vaca. E aí, minha filha, se isso acontecer, desta vez nós ficamos e são eles quem vão para o brejo.
- Pode ser... Mas, tudo tem seu lado bom, amiga.
- Neste caso, qual é?
- No futuro, nosso velho constrangimento terá fim: quando um humano chamar um outro de vaca de presépio será por puro elogio. Garanto!
- Sei... – responde Norma, ácida, cítrica, cínica, sangüínea e descrente.
Um forte abraço e até sexta que vem.
* quimera: figura da mitologia grega, surgida no séc. VII a.C. Popularmente, é toda composição fantástica, absurda, monstruosa.
Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.
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